A relação entre Huawei e as facções do regime chinês

A Huawei é uma empresa usada para espionagem e serviu "a dinastia anterior", ou seja, a facção de Jiang Zemin

01/02/2019 15:41 Atualizado: 04/02/2019 00:20

Por Joshua Philipp, Epoch Times

A prisão de Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei, pelas autoridades canadenses, colocou a maior empresa de telecomunicações do mundo no centro da atenção internacional.

Embora oficialmente considerada uma empresa privada, a Huawei não está listada em nenhuma bolsa de valores, e os governos em todo o mundo acreditam que a empresa é uma ferramenta importante das autoridades comunistas chinesas para atingir seus próprios objetivos. Promotores norte-americanos acusam a Huawei de usar uma empresa de Hong Kong para contornar as sanções impostas ao Irã, emulando acusações anteriores contra a ZTE, outra importante empresa de tecnologia chinesa que vendeu equipamentos fabricados nos Estados Unidos para o Irã e a Coreia do Norte.

Em teoria, a Huawei é uma empresa privada cujos proprietários são os funcionários. O fundador Ren Zhengfei detém oficialmente 1,4% das ações da Huawei, enquanto o restante é distribuído entre os 80 mil funcionários através do comitê sindical da empresa.

No entanto, o comitê não tem nenhuma outra função e os funcionários da Huawei perdem automaticamente suas ações quando saem da empresa. O poder real está nas mãos dos gerentes e suas conexões com o Partido Comunista Chinês (PCC).

Um olhar sobre a cúpula da empresa revela que a Huawei mantém estreitas relações informais com as forças de segurança chinesas, o exército e a facção política do PCC associada ao ex-líder do Partido, Jiang Zemin.

Ren possui um histórico no Exército Popular de Libertação da China (EPL), com sua primeira esposa, Meng Jun, filha de um destacado político membro do EPL. Sua primeira filha é Meng Wanzhou, diretora financeira e vice-presidente da Huawei que foi recentemente presa.

Ren, cuja família foi perseguida durante a Revolução Cultural nos anos 1960 e 1970, casou-se com a família de sua esposa. Como resultado, Meng Wanzhou adotou o sobrenome de sua mãe.

O pai de Meng Jun, Meng Dongbo, subiu de cargo no EPL e se tornou secretário do PCC em uma cidade na província de Sichuan, e depois se tornou vice-governador da província. Ele também serviu como representante tanto no Congresso Popular Provincial de Sichuan como no Congresso Popular Nacional durante os anos 80.

Ren, que mantinha um bom relacionamento com seu sogro, recebeu o apoio de suas conexões políticas.

A presidente da Huawei, Sun Yafang, que está no cargo desde 1999, é outra figura proeminente na empresa e é considerada uma das mulheres mais poderosas do mundo. De acordo com relatórios da CIA, ela tem passagem pelo Ministério de Segurança do Estado (MSE), a agência de inteligência chinesa.

Huawei, espiões e disputas entre facções

A influência de Sun dentro da Huawei superou a de Ren. Em 2010, Sun pressionou Ren a desistir de seus planos de promover seu filho, Ren Ping, a herdeiro da Huawei. Isso sugere que a Huawei é amplamente controlada pela inteligência do regime chinês.

Além disso, antes dos expurgos de combate à corrupção iniciados pelo atual líder chinês Xi Jinping, o MSE estava firmemente nas mãos da facção de Jiang.

Os chefes do MSE, entre 1985 e 2016, foram Jia Chunwang, que serviu até 1998, e depois Xu Yongyue, que assumiu o cargo depois de Jia até 2007, quando foi substituído por Geng Huichang.

Jia tem fortes relações com o ex-chefe do Partido Comunista, Jiang Zemin, e seus aliados. O genro de Jia é Liu Lefei, presidente da CITIC Private Equity Funds Management Co. Ltd. e filho de Liu Yunshan, funcionário do alto escalão aposentado do PCC e ligado a Jiang. Antes de sua aposentadoria no início deste ano, Liu Yunshan era um dos sete membros do Comitê Permanente do Politburo que dirige o Partido Comunista.

Xu é filho de oficiais do Partido e também está associado à facção de Jiang, já que serviu como Ministro de Segurança do Estado quando a influência política de Jiang estava no auge.

Geng trabalhou em estreita colaboração com Zhou Yongkang, outro ex-membro do Comitê Permanente do Politburo. Zhou, atualmente preso por corrupção e conspiração para minar a liderança de Xi, é uma figura central na rede de Jiang. Foi expurgado em 2014; no ano seguinte, foi sentenciado à morte, mas logo após sua pena foi comutada para prisão perpétua.

Geng foi colocado sob investigação em 2016. Em novembro daquele ano, foi substituído por Chen Yongqing, ex-vice-presidente do comitê do PCC na província de Fujian. Chen é considerado um aliado de Xi Jinping.

O papel da Huawei no aparato de censura do PCC

Jiang Zemin foi secretário-geral do PCC de 1989 a 2003. Após a aposentadoria de Jiang, seus associados, muitos dos quais haviam sido promovidos a altos cargos no PCC e no regime chinês, exerceram sua influência durante os dois mandatos do líder chinês Hu Jintao.

As pessoas que estão nessa extensa rede de patrocínio político ainda estão sendo expurgadas em uma ininterrupta campanha anticorrupção, anos após Xi Jinping chegar ao poder em 2013.

Wang Youqun, que foi funcionário do PCC de 1993 a 2002, disse ao Epoch Times que, de acordo com um ex-funcionário da Huawei que era próximo a ele, a Huawei é uma empresa usada para espionagem e que serviu “a dinastia anterior”, ou seja, a facção de Jiang.

Além do nepotismo e da corrupção, Jiang é conhecido por cometer violações contra os direitos humanos sob a autoridade do PCC, particularmente a campanha nacional contra a prática espiritual do Falun Dafa em 1999.

A fim de melhor monitorar e censurar a comunicação na Internet, a liderança de Jiang lançou um imenso sistema de controle cibernético, popularmente conhecido como o Grande Firewall (ou Grande Muralha de Fogo) da China.

Com as estreitas ligações com o regime chinês sob Jiang, a Huawei desempenhou um papel importante na construção e modernização do Grande Firewall.

Um componente importante nos estágios iniciais do firewall foi o Projeto Escudo de Ouro, que estabeleceu a vigilância dos usuários da Internet em todo o país.

O Grande Firewall e o Projeto Escudo de Ouro foram criados sob a supervisão do filho mais velho de Jiang, Jiang Mianheng, que tem laços estreitos com a Huawei, de acordo com relatórios anteriores.

Em 2003, a televisão estatal CCTV informou que a primeira fase do Projeto Escudo de Ouro, que começou em 2001, custou 6,4 bilhões de iuanes (cerca de 770 milhões de dólares na época) no final de 2002. Nenhum outro custo relacionado ao projeto foi divulgado.

Dada a escala, os custos e a importância associados ao Grande Firewall, é improvável que Jiang tivesse confiado na Huawei para realizar um trabalho tão crucial no projeto se não estivesse de acordo com seu histórico político.

Tang Jingyuan, analista de assuntos chineses atuais radicado nos Estados Unidos, disse ao Epoch Times em 10 de dezembro que a presidente da Huawei, Sun, provavelmente foi nomeada para sua posição a pedido da facção de Jiang, o que tornou a empresa politicamente confiável.

“Eles [os membros da facção de Jiang Zemin] trataram a Huawei como se fosse seu próprio negócio desde então”, disse Tang. “É fácil entender por que Jiang Mianheng deu suas ordens à Huawei.”