O Reino das Fake News: uma análise da campanha de propaganda de Pequim contra o Falun Dafa

O que o mundo precisa agora, mais do que nunca, é a informação verdadeira e o direito à liberdade de consciência, expressão e associação

28/02/2019 17:45 Atualizado: 28/02/2019 17:45

Por Peter Zhang, Epoch Times

Em meio ao atual debate sobre as supostas notícias falsas nos Estados Unidos, a mídia norte-americana não tem nenhum tipo de consenso sobre o que constitui as “fake news”.

O debate está pegando fogo. O jornalismo promocional está crescendo e é perturbador. Os críticos argumentam, no entanto, que em nossa sociedade aberta ainda se pode ouvir vozes diferentes, especialmente em plataformas de mídia social.

No entanto, não há confiança de que os norte-americanos comuns possam discernir as notícias verdadeiras das notícias falsas e cruéis. Como o francês Alexis de Tocqueville (1805-1859) observou há um século e meio, “não conheço nenhum outro país em que haja tão pouca independência de opinião e verdadeira liberdade de discussão quanto os Estados Unidos”.

A preocupação mais premente, no entanto, é a propaganda estrangeira que exerce influência em solo americano. Apesar de todas as manchetes sobre a intromissão da Rússia em nossas eleições, é a China, sutil e secretamente, que lidera o caminho.

As fake news na República Popular da China não são novidade; elas fazem parte da vida dos 1,4 bilhão de chineses.

Seguindo os passos da antiga União Soviética, o Partido Comunista Chinês (PCC) estabeleceu seu próprio Ministério da Propaganda em maio de 1924, que foi suspenso durante os turbulentos anos da Revolução Cultural (1966-1976) e retomado em outubro de 1977.

Nos esforços do PCC para moldar opiniões dentro e fora da China sobre a prática espiritual do Falun Dafa, pode-se ver todo o seu arsenal de manipulação da mídia em exibição, um estudo de caso de notícias falsas em sua forma mais extrema.

Grande grupo de praticantes do Falun Dafa realizam os exercícios da disciplina na cidade de Shenyang, na China, antes do início da perseguição (Minghui.org)
Grande grupo de praticantes do Falun Dafa realizam os exercícios da disciplina na cidade de Shenyang, na China, antes do início da perseguição (Minghui.org)

No começo, o PCC elogiava o Falun Dafa

De todas as campanhas de mídia realizadas pelo PCC, seu ataque ao Falun Dafa, também conhecido como Falun Gong, tem sido o mais beligerante, relembrando a cruzada de propaganda da era da Revolução Cultural.

Enraizado nas tradições budistas, o Falun Dafa foi ensinado publicamente pela primeira vez em 1992 pelo seu fundador, o Sr. Li Hongzhi; a prática consiste de duas partes principais: um conjunto de cinco exercícios meditativos e os princípios da Verdade, Compaixão e Tolerância.

De acordo com o sistema de crença budista, essa prática de mente e corpo sustenta que os praticantes que seguem esses padrões morais e praticam fielmente os exercícios podem alcançar a auto-realização e a iluminação.

Inicialmente, o PCC usou a mídia estatal para elogiar o Falun Dafa por causa de seus benefícios à saúde e por elevar a moralidade da sociedade. Entre as mídias mais conhecidas usadas neste esforço estão as seguintes: Televisão Central China (1993 e 1998), Jornal de Segurança Pública Popular (1993), Revista Qigong e Ciência (1993), Pequim Daily (1996 e 1998), Jornal de Medicina e Saúde (1997), e Hong Kong TV (1998).

Em 24 de novembro de 1998, a Shanghai TV (STV) transmitiu um vídeo de moradores locais praticando exercícios do Falun Dafa em um parque e relatou: “Esta manhã, quase 10 mil praticantes do Falun Dafa apareceram para fazer os exercícios…

“Até o momento, o Falun Dafa conta com locais de assistência em todo o nosso país, incluindo Hong Kong, Macau, Taiwan, bem como na Europa, América do Norte, Austrália e outros países asiáticos. Existem cerca de 100 milhões de pessoas praticando o Falun Dafa”.

Ex-ditador chinês Jiang Zemin no Grande Salão do Povo em Pequim, China, em 8 de novembro de 2012 (Feng Li/Getty Images)
Ex-ditador chinês Jiang Zemin no Grande Salão do Povo em Pequim, China, em 8 de novembro de 2012 (Feng Li/Getty Images)

A liderança de Pequim se torna hostil

O Falun Dafa inicialmente apelou ao PCC como um regime interessado na saúde da população. De acordo com um artigo publicado em uma edição de fevereiro de 1999 do US News & World Report, um oficial de alto posto da Comissão de Esportes da China disse: “Falun Dafa e outros tipos de qigong podem economizar até 1.000 iuanes (150 dólares) por pessoa em despesas médicas anuais. Se 100 milhões de pessoas o praticarem, serão 100 bilhões de iuanes (14,9 bilhões de dólares) economizados por ano. O primeiro-ministro Zhu Rongji está muito feliz com isso. O país poderá usar o dinheiro para outras coisas também importantes”.

Sinólogos têm apontado que o PCCh considerou o rápido crescimento do Falun Dafa uma surpresa que aconteceu bem debaixo de seus narizes. Jiang Zemin, o chefe do Partido na época, considerou esse crescimento uma ameaça existencial.

Depois de tudo, a China como Estado comunista não permite a existência de nenhuma organização independente, a menos que o Partido a controle. Além disso, os preceitos Budistas da Verdade, Compaixão e Tolerância do Falun Dafa vão contra as doutrinas do ateísmo, luta de classes e revolução violenta do PCC.

Mao Tsé-tung, o fundador do PCC, disse uma vez que as campanhas políticas devem ocorrer “a cada sete ou oito anos”. Por quê? A verdadeira razão é que o Partido periodicamente precisa de novos inimigos para revitalizar a sociedade orwelliana que o regime nutre.

Todos os regimes comunistas compartilham três características comuns: 1) governo através da violência e do medo, 2) controle da informação; 3) controle da mente através da ideologia comunista. As táticas de mídia do PCC incluem: difamação, manipulação de informações, fraude e censura.

Em 20 de julho de 1999, Jiang anunciou sua decisão de erradicar o Falun Dafa. Três meses antes — em 25 de abril — cerca de 10 mil praticantes fizeram um apelo público em frente a Zhongnanhai, a sede do PCC em Pequim, em busca de reconhecimento e proteção legal.

Infelizmente, Jiang não se comoveu; ele criou um departamento extrajudicial semelhante à Gestapo, chamado Agência 610, para liderar uma campanha nacional de perseguição contra o Falun Dafa.

As prisões em massa de praticantes do Falun Dafa ocorreram enquanto todas as formas de maquinário de propaganda estatal começaram a travar uma “guerra em cada sala de estar” contra o Falun Dafa e seu fundador. As notícias diárias de meia hora transmitidas à noite pela CCTV converteram-se um especial de uma hora com o propósito de demonizar o Falun Dafa, contradizendo suas palavras positivas anteriores em referência à prática meditativa.

A Agência 610 emitiu uma série de decretos que instruíam todos os setores da sociedade, incluindo instituições educacionais, desde o ensino fundamental até as universidades, a participar da chamada campanha “anti-seitas”.

Para difamar o Falun Dafa como um culto, o Ministério da Propaganda inventou 1.400 “casos de suicídio”, culpando o Falun Dafa por suicídios que de fato foram cometidos por não-praticantes. Os analistas de assuntos da China por muito tempo consideraram este estratagema desprezível e difícil de acreditar.

Primeiro de tudo, sabe-se que o Falun Dafa, como outras denominações budistas, proíbe qualquer forma de assassinato, inclusive suicídio. Em segundo lugar, o Falun Dafa existe desde 1992 e nenhum caso de suicídio foi relatado na China até que o Ministério da Propaganda, de repente, apresentou esses supostos casos depois de julho de 1999, quando começou a repressão à prática. Terceiro, o Falun Dafa é praticado em mais de 70 países ao redor do mundo, no entanto, não houve nenhum caso de suicídio relatado fora da China.

Encenação de suicídios na Praça Tiananmen

A história mais notória é talvez o chamado incidente da autoimolação na Praça Tiananmen em 23 de janeiro de 2001, que foi encenado, segundo alguns jornalistas ocidentais, pelas autoridades chinesas.

Enquanto o Ministério da Propaganda do PCC afirmava que cinco praticantes do Falun Dafa tentaram “ir para o céu” através de autoimolação na Praça da Paz Celestial, a comunidade internacional achou as alegações estranhas em relação aos fatos.

Apenas a mídia estatal teve acesso às supostas “vítimas do Falun Dafa”, enquanto a imprensa internacional, incluindo os parentes das vítimas, não tiveram permissão para vê-las.

O Ministério da Propaganda ordenou que toda a sua mídia publicasse este incidente como manchete de primeira página até que o Washington Post publicou um relatório de investigação, “Human Fire Ignites Chinese Mystery” em 4 de fevereiro de 2001 , no qual uma das supostas vítimas foi descrita como uma mulher chamada Liu Chunling, que “trabalhava em um bar à noite como acompanhante de homens em troca de dinheiro” — comportamentos muito distante da norma moral mantida pelos praticantes do Falun Dafa. Nenhum de seus vizinhos a tinha visto praticar.

Mais embaraçoso para as autoridades de Pequim, uma produtora da CNN que esteve na cena disse mais tarde que não havia visto nenhuma criança entre os cinco autoimoladores, enquanto todos os meios de comunicação estatais chineses já haviam informado que Liu Siying, de 12 anos de idade, estava entre eles.

Captura de tela de uma matéria da CCTV sobre as "autoimolações" dos praticantes do Falun Dafa na Praça Tiananmen em 23 de janeiro de 2001 (CCTV)
Captura de tela de uma matéria da CCTV sobre as “autoimolações” dos praticantes do Falun Dafa na Praça Tiananmen em 23 de janeiro de 2001 (CCTV)

PCC instala um firewall na Internet

Para evitar que as massas tenham acesso a notícias verdadeiras, o PCC reforçou a censura na Internet desde 2000, criando o maior sistema de firewall do mundo como parte de seu “Projeto Escudo Dourado”. Não é de surpreender que todos os sites relacionados ao Falun Dafa estejam bloqueados, incluindo o site do MIT porque divulga uma associação do Falun Dafa.

Um estudo da Harvard de 2016 constatou: “Há muito se suspeita que o regime chinês contratou até dois milhões de pessoas para inserir secretamente um grande número de pseudônimos e outros escritos enganosos no fluxo de postagens reais nas mídias sociais, como se fossem opiniões genuínas de pessoas comuns… Nós calculamos que o regime produz e publica cerca de 448 milhões de comentários nas mídias sociais todos os anos”.

Esses comentaristas online são chamados de “exército de 50 centavos do Partido” porque eles recebem 50 centavos por cada mensagem publicada. Incitar o ódio, espalhar desinformação e promover a propaganda do Estado contra o Falun Dafa é o seu trabalho.

Apesar do fato de que a política de perseguição do PCC não mudou, Pequim encerrou sua campanha de mídia contra o Falun Dafa nos últimos anos.

Especialistas chineses notaram que a propaganda de Pequim contra o Falun Dafa fracassou tanto em casa quanto no exterior, devido a seus abusos deploráveis contra os direitos humanos dos praticantes. A horrível extração de órgãos de praticantes do Falun Dafa presos desde 1999, que a mídia começou a expor em 2006, prejudicou particularmente a capacidade do PCC de conduzir sua propaganda contra o Falun Dafa.

No entanto, ao longo dos anos, as operações de influência de Pequim através de sua mídia no exterior atingiram um novo nível. Além de seus principais meios de comunicação como o China Daily (edição do People’s Daily no exterior) e a CCTV-4 (canal da CCTV no exterior), a China está em processo de criação de 1.000 Institutos Confúcio até 2020 em todo o mundo.

A Universidade McMaster do Canadá teve que fechar seu Instituto Confúcio em 2013 devido a um caso de discriminação, no qual Sonia Zhao, uma instrutora contratada em 2010, teve que assinar um contrato que a proibia de praticar o Falun Dafa.

Em um esforço para combater as operações de influência no exterior, no ano passado o Departamento de Justiça dos Estados Unidos ordenou à Agência de Notícias Xinhua e à China Global Television Network (antiga CCTV), os dois maiores meios de comunicação de Pequim nos Estados Unidos, que se registrassem como agentes estrangeiros ou lobistas.

Enquanto a mídia de Pequim desfruta da liberdade de divulgar o conteúdo comunista em todo o mundo, a mídia ocidental é fortemente censurada na China. Google, Facebook, Twitter, YouTube e muitos outros sites populares são bloqueados no país. No entanto, a mídia estatal chinesa pode ter contas no Facebook e no Twitter para promover a agenda do Partido.

Pior ainda, algumas empresas de tecnologia ocidentais assinaram voluntariamente o chamado compromisso de autodisciplina para colaborar com as autoridades de censura de Pequim.

Elas se autocensuraram filtrando palavras politicamente sensíveis, como o massacre de Tiananmen em 1999 e o Falun Dafa. A Apple Inc., por exemplo, agora hospeda as contas do iCloud de usuários chineses em um data center na China, alegando que está em conformidade com as leis locais. Isso dá aos Big Brothers chineses acesso fácil às informações dos usuários.

Como George Orwell escreveu em 1984: “Se o pensamento corrompe a linguagem, a linguagem também pode corromper o pensamento”. A mídia serve como uma ferramenta de propaganda para o controle da mente em uma sociedade comunista. Quando Pequim espalha livremente mensagens pelo mundo que, ao justificar a censura e a opressão, minam nossa humanidade comum, pessoas inocentes podem ser enganadas e essas mentiras egoístas são consumidas como “verdades”.

O que o mundo precisa agora, mais do que nunca, é a informação verdadeira e o direito à liberdade de consciência, expressão e associação. O poeta e erudito John Milton disse melhor em um discurso em 1644 perante o Parlamento inglês, e depois imprimiu no panfleto “Areopagitica”: “Dá-me a liberdade de conhecer, pronunciar e argumentar livremente de acordo com a consciência, acima de todas as liberdades”.

Peter Zhang é pesquisador em Economia Política na China e no leste da Ásia. Ele se formou na Universidade de Estudos Internacionais de Pequim, na Escola de Direito e Diplomacia Fletcher e na Harvard Kennedy School como Mason Fellow

O conteúdo desta matéria é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Epoch Times