Regime chinês usa alta tecnologia para controlar funcionários no estrangeiro

30/12/2017 04:03 Atualizado: 30/12/2017 04:03

Com as empresas chinesas expandindo suas ambições no estrangeiro, o Partido Comunista Chinês (PCC) quer garantir que ele possa manter o controle sobre seus membros.

Todas as empresas na China são obrigadas a criar organizações do Partido dentro de seus estabelecimentos. Para avançar e ter sucesso na empresa, os funcionários são pressionados a aderir ao Partido.

Quando eles são enviados ao estrangeiro para trabalhar por lá, as empresas estão usando a tecnologia avançada de hoje para sua vantagem: instilar alguns métodos antigos mas testados de controle do pensamento para garantir que esses cidadãos chineses se mantenham alinhados com as diretrizes do Partido.

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O Grupo de Construção Urbana de Pequim, uma grande empresa de construção civil e imobiliária com bilhões de yuanes em ativos, usa o WeChat, um popular aplicativo chinês de mensagens instantâneas, para acompanhar e vigiar os funcionários. Os membros do Partido Comunista Chinês são obrigados a usar as salas de bate-papo do grupo que pertencem no aplicativo para compartilhar “fotos, notas e experiências” sobre suas sessões semanais obrigatórias de estudo da teoria do Partido.

Na PetroChina, uma empresa estatal de petróleo, a companhia inclusive desenvolveu seu próprio aplicativo, exigindo que todos os membros do Partido no exterior baixem um aplicativo de “construção do Partido” da empresa, que lhes atribui perguntas sobre a ideologia do Partido para serem respondidas num período limitado de tempo.

China, controle, doutrinação, comunismo, Partido Comunista Chinês - Um posto de gasolina da PetroChina em Xangai em 27 de agosto de 2014 (Johannes Eisele/AFP/Getty Images)
Um posto de gasolina da PetroChina em Xangai em 27 de agosto de 2014 (Johannes Eisele/AFP/Getty Images)

Um funcionário da PetroChina responsável pelo desenvolvimento no exterior disse a um jornal chinês, o Semanário do Sul, que o aplicativo registra cada vez que um membro se conecta. Sempre que uma atividade da organização do Partido é realizada, a organização deve postar arquivos que registram o evento. Os membros do Partido também podem pagar suas taxas de filiação por meio do aplicativo.

Por meio da busca de documentos publicamente disponíveis de diferentes corporações privadas e estatais, o Epoch Times também descobriu outras maneiras como as empresas doutrinam seus funcionários estrangeiros com a ideologia do Partido.

Em alguns países, as atividades do Partido Comunista não são permitidas ou aprovadas. As empresas chinesas, portanto, usam sistemas de software de “automação de escritório” (AE) como um disfarce.

O Grupo de Construção Urbana de Pequim possui seis organizações do Partido com 35 membros. Num documento promocional, Wang Li, o secretário do Partido no comitê do Partido na empresa, promoveu o sistema AE como “uma plataforma importante para o trabalho de construção do Partido”.

Documentos relacionados à ideologia do Partido emergem assim que os funcionários se conectam ao sistema, explicou Wang. “Os líderes podem ver diretamente na plataforma a taxa de cliques nos materiais de estudo. A qualquer momento, pode-se entender cada organização do Partido e a situação do estudo de cada membro do Partido enquanto estão online”, acrescentou Wang.

China, controle, doutrinação, comunismo, Partido Comunista Chinês - Um grupo de trabalhadores chineses num sítio de obras em Pequim em 18 de outubro de 2012 (Wang Zhao/AFP/Getty Images)
Um grupo de trabalhadores chineses num sítio de obras em Pequim em 18 de outubro de 2012 (Wang Zhao/AFP/Getty Images)

Muitas empresas estatais, como a PetroChina e a Sinopec, também escreveram em seus manuais de funcionários que o sistema de AE pode ser usado para “construção do Partido”.

Os “materiais de estudo” geralmente consistem em documentos de ideologia, documentários sobre os esforços anticorrupção do Partido e um manual intitulado “Dois estudos e um fazer”, um documento de 2016 emitido pelo Escritório Geral das autoridades centrais para as empresas. Ele exige que os membros do Partido estudem materiais em sincronia com os membros do continente em assuntos sobre como serem membros apropriados, as regras do Partido e discursos dos líderes do Partido.

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Xue Chi, um analista independente de assuntos contemporâneos da China, disse que esta notícia confirma a agenda do Partido Comunista Chinês. “Essas corporações têm duas faces. Um lado é a fachada da corporação, que está operando legalmente no exterior, o outro lado está exportando a ideologia comunista. Porque as operações da corporação no exterior são em si mesmas uma execução da estratégia mais ampla do Partido, que considerou esse tipo de politização”, afirmou.

Além disso, o Partido está preocupado que, quando os cidadãos chineses são expostos à forma como as sociedades livres operam, eles se desiludirão com o regime do Partido, disse Xue. “Então, eles usam métodos internos para controlar as pessoas.”

China, controle, doutrinação, comunismo, Partido Comunista Chinês - Funcionários num escritório em Xangai em 9 de março de 2011 (Andrew Ross/AFP/Getty Images)
Funcionários num escritório em Xangai em 9 de março de 2011 (Andrew Ross/AFP/Getty Images)

As empresas foram especialmente vigilantes durante o 19º Congresso Nacional em outubro, um importante conclave político quando a alta liderança comunista chinesa passou por uma transição de poder.

A Corporação Comercial Aeronáutica da China, uma fabricante aeroespacial estatal, enviou um aviso aos seus membros do Partido que trabalham na Europa e nos Estados Unidos, exigindo que eles assistissem ao 19º Congresso e estudassem-no cuidadosamente.

Em 18 de outubro, o portal chinês China Construction News informou que 37 membros do Partido empregados na Corporação Estatal de Construção Civil da China, que estavam em Argel, na Argélia, para construir a maior mesquita da África, permanecessem acordados durante noite para assistir à cerimônia de abertura do 19º Congresso ao vivo. O programa de televisão começou às 2 horas da madrugada no horário local. Trabalhadores vizinhos de descendência chinesa também foram convocados para assistir à cerimônia.

Colaborou: Xu Yun