Regime chinês renuncia silenciosamente a 78 milhões de dólares da dívida de Camarões

Enquanto milhões de chineses vivem na pobreza com menos de 2.300 iuanes (US$ 340) de renda anual e lutam para obter ajuda das autoridades chinesas, Pequim está desperdiçando dinheiro na África

15/02/2019 20:33 Atualizado: 15/02/2019 20:33

Por Nicole Hao, Epoch Times

O regime chinês perdoou recentemente 78 milhões de dólares da dívida de Camarões quando Yang Jiechi, principal diplomata da China, visitou o país da África Central em 18 de janeiro. Mas tanto as autoridades quanto a mídia oficial dos dois países só publicaram a notícia cinco dias depois.

Yang, que é membro do poderoso Politburo do Partido Comunista Chinês, visitou Camarões como enviado especial do líder Xi Jinping. Em 18 de janeiro, ele se encontrou com o presidente de Camarões, Paul Biya, e fez uma série de acordos de cooperação.

Mas nos relatórios oficiais iniciais dos dois países, não havia informações sobre as dívidas que Camarões não conseguiu pagar à China em 2018, apenas o fato de que Yang havia visitado o país africano.

A China é o maior credor de Camarões, que deve mais da metade de sua dívida externa de aproximadamente 8,2 bilhões de dólares ao regime chinês.

Então, em 22 de janeiro, citando uma declaração oficial do presidente de Camarões, a versão chinesa do Wall Street Journal informou que os dois lados concordaram em reduzir a dívida total de Camarões com a China, com US$ 78 milhões perdoados.

Depois que a mídia africana começou a divulgar as notícias, a CGTN África, braço internacional de radiodifusão da China, publicou um artigo em inglês em 23 de janeiro que dizia que Camarões deve à China quase US$ 5,7 bilhões no total, e que os 78 milhões de dólares foram o montante que ele não pôde pagar em 2018.

Mas nenhuma mídia estatal ou comunicado de imprensa oficial mencionou isso nos relatórios em chinês. O porta-voz do Partido, jornal Diário do Povo, chegou a afirmar em um artigo em 29 de janeiro que a mídia estrangeira com cobertura em chinês “projetou essa falsa notícia para os leitores chineses”.

Dívida chinesa

O artigo de 19 de janeiro no Journal du Cameroun salientou que a China é o principal parceiro comercial e o maior investidor em Camarões “em termos de projetos orientados para o desenvolvimento”. Além disso, quando Biya visitou Pequim em março de 2018, Xi prometeu a Biya que cancelaria as dívidas de Camarões, o que significava que Yang cumpriu a promessa de Xi.

Nos últimos anos, a China fez investimentos significativos em países africanos no âmbito da iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota” para aumentar sua influência geopolítica em todo o mundo. De acordo com o Ministério da Economia, Planejamento e Desenvolvimento Regional de Camarões, a China investe mais de 400 milhões de dólares por ano em infraestrutura, telecomunicações, estádios e projetos habitacionais no país africano.

À medida que a dívida se acumulava, Pequim também tentou acessar os recursos naturais do país.

A Rádio Voice of America (VOA) informou em 21 de janeiro que enquanto Yang estava em visita, cerca de 60 mineiros camaroneses protestavam em frente a uma mina de ouro administrada por chineses em uma aldeia chamada Ngoura.

Os mineiros disseram à VOA que os garimpeiros chineses cavam nos leitos dos rios, em áreas pantanosas e em torno de cachoeiras, violando as leis ambientais de Camarões, mas subornam as autoridades africanas para que permitam fazer o que quiserem. Os mineiros africanos prometeram a levar os culpados à justiça.

Os empréstimos chineses para o continente africano em geral aumentaram drasticamente nos últimos 15 anos, chegando a 30 bilhões de dólares em 2016, segundo a Iniciativa de Pesquisa da China na África, com sede na Universidade John Hopkins.

Razões para manter o silêncio

Embora o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, tenha admitido à CNN, no início de fevereiro, que o cancelamento da dívida é verdadeiro, a notícia passou amplamente despercebida na mídia chinesa.

Isto pode ser devido às reações negativas do público chinês aos investimentos do regime na África. Em setembro de 2018, quando o líder chinês Xi anunciou que Pequim planejava investir 60 bilhões de dólares na África nos próximos três anos, os internautas chineses furiosos expressaram suas críticas na rede. Eles disseram que enquanto milhões de chineses vivem na pobreza com menos de 2.300 iuanes (US$ 340) de renda anual e lutam para obter ajuda das autoridades chinesas, Pequim está desperdiçando dinheiro na África.

Os censores chineses entraram em ação eliminando as postagens negativas e usando o seu exército de “50 centavos” para publicar postagens positivas. O termo 50 centavos refere-se a usuários da Internet que recebem essa quantia de dinheiro para postar comentários positivos na Internet sobre as políticas do Partido.