Regime chinês pressiona Ottawa sobre prisão da CFO da Huawei ignorando Estado de Direito do Canadá

Meng Wenzhou teria supostamente enganado os bancos com um esquema que violava as sanções dos Estados Unidos, expondo-os a possíveis multas

10/12/2018 01:20 Atualizado: 10/12/2018 01:46

Por Luís Fernando Novaes

TORONTO – A China elevou sua advertência ao Canadá sobre a prisão da executiva da Huawei, Meng Wenzhou, dizendo que haverá “sérias consequências” se ela não for libertada imediatamente.

“A China pressiona veementemente o lado canadense a libertar imediatamente a pessoa detida e a proteger seus direitos legais, caso contrário o Canadá deve assumir total responsabilidade pelas graves conseqüências causadas”, segundo uma declaração de 8 de dezembro do Ministério das Relações Exteriores da China.

O que o regime comunista chinês pode estar ignorando, no entanto, é que os governos em países democráticos não podem interferir nos procedimentos legais.

“Eu acho que isso é muito típico do comportamento da China”, disse Brian Lee Crowley, diretor do Instituto Macdonald-Laurier. “Eles agem como se comportam internamente onde cada instituição na China deve se submeter à vontade do Partido Comunista, e eles apenas assumem que todas as outras sociedades são organizadas da mesma maneira.”

Meng, que é CFO da Huawei e filha do fundador da empresa chinesa de telecomunicações, foi presa em 1º de dezembro sob acusações de fraude e enfrenta extradição para os Estados Unidos. Ela teria mentido aos bancos dos Estados Unidos sobre o relacionamento da Huawei com a Skycom, uma empresa de Hong Kong que teria feito negócios com o Irã. Meng nega as acusações.

Meng teria supostamente enganado os bancos com um esquema que violava as sanções dos Estados Unidos, expondo-os a possíveis multas. O promotor não citou quais são os bancos, mas a mídia dos Estados Unidos informou na quinta-feira (6) que um monitor federal do banco HSBC sinalizou uma transação suspeita envolvendo a Huawei, segundo a Bloomberg. Os promotores também argumentaram que Meng evitou os Estados Unidos desde que soube de sua investigação sobre possíveis violações das sanções cometidas pela Huawei, e que ela deveria ser mantida sob custódia. O primeiro-ministro Justin Trudeau disse que a prisão de Meng foi o resultado de um processo legal ocorrido independentemente de política.

A audiência de sexta-feira em Vancouver é apenas o começo de um processo legal que pode terminar com Meng sendo extraditada para ser julgada nos Estados Unidos. Mesmo que os promotores acreditem que há pouca dúvida quanto à culpa de Meng, o processo de extradição pode levar meses ou até anos.

Omid Ghoreishi contribuiu para esta matéria.