A tecnologia de reconhecimento facial está se tornando onipresente na China. Ela é usada para servir refeições a estudantes em cafeterias escolares, para pagar compras em lojas, como cartão de embarque “virtual” para voos de avião e até mesmo para evitar roubo de papel higiênico nos banheiros públicos dentro de uma popular atração turística em Pequim.
Enquanto isso, o país planeja expandir seu sistema “Skynet“, uma rede de mais de 20 milhões de câmeras de segurança que empregam reconhecimento facial e tecnologia de inteligência artificial para reunir informações pessoais em tempo real, para cobrir todo o país até 2020. O regime chinês defende que o sistema é usado como uma ferramenta de combate ao crime.
A China tem adotado os últimos avanços na tecnologia de vigilância com certo fervor, o que tem de fato preocupado observadores sobre a possibilidade de um pesadelo orwelliano se tornar realidade.
Num evento sobre o futuro da China realizado no instituto de pesquisa Academia Sinica de Taiwan em 3 de novembro, estudiosos alertaram que a China estaria vivendo sob um “totalitarismo digital”.
O professor de ciência política Dr. Titus C. Chen da Universidade Nacional Sun Yat-sen em Taiwan expressou sua preocupação de que a tecnologia avançada pode ser usada para esmagar qualquer sinal de dissidência, seja em ação, em pensamento ou antes mesmo de ocorrer, e chamou isso de “uma forma moderna de engenharia política”.
Ele também mencionou o sistema de “crédito social” da China, no qual todos os cidadãos serão registrados numa base de dados nacional e classificados de acordo com seu nível de confiabilidade até 2020. As autoridades combinarão registros criminais, compras online, atividades de mídia social e outros dados para julgar os níveis de responsabilidade social das pessoas.
O sistema já está ativo em Xangai, Hangzhou, Guangzhou e Xinjiang. Chen explicou que as autoridades chinesas já usam rotineiramente grandes bases de dados eletrônicos (Big Data) para o propósito de vigilância, especialmente para saber se alguém tem opiniões contrárias ao regime chinês. Uma maneira de determinar isso é por meio das compras de comércio eletrônico (e-commerce) das pessoas. Chen disse que isso pode se tornar uma “forma de leninismo na era digital”.
O sistema “Skynet” é igualmente invasivo, usando reconhecimento facial e inteligência artificial (IA) para identificar informações pessoais, como idade, gênero, descrição do vestuário, etc. Ele está conectado a um enorme banco de dados, obtidos dos sistemas do governo chinês de identificação dos cidadãos. Os residentes chineses de 16 anos ou mais são obrigados a obter uma cédula de identificação que inclui o nome, gênero, etnia, data de nascimento e endereço ou registro residencial (hukou).
Num documentário recente que foi transmitido para a emissora estatal CCTV, o sistema de vigilância foi revelado como uma forma de a polícia identificar facilmente criminosos em fuga. Mas a vídeo exibido de pessoas atravessando as ruas em meio a suas atividades diárias enquanto informações surgiam ao lado delas na tela pareciam mais uma cena do livro “1984” de George Orwell.
A China é o maior mercado mundial de equipamentos de vigilância. O Wall Street Journal divulgou recentemente uma feira na cidade de Shenzhen. A tecnologia em exibição poderia detectar o humor das pessoas com uma varredura facial, coletar informações nas redes sociais das pessoas e pesquisar imagens de vigilância usando a cor e modelo específico de veículos.
Colaborou: Guo Yaorong