Regime chinês constrói pesadelo orwelliano

08/11/2017 21:50 Atualizado: 27/01/2018 18:26

A tecnologia de reconhecimento facial está se tornando onipresente na China. Ela é usada para servir refeições a estudantes em cafeterias escolares, para pagar compras em lojas, como cartão de embarque “virtual” para voos de avião e até mesmo para evitar roubo de papel higiênico nos banheiros públicos dentro de uma popular atração turística em Pequim.

Enquanto isso, o país planeja expandir seu sistema “Skynet“, uma rede de mais de 20 milhões de câmeras de segurança que empregam reconhecimento facial e tecnologia de inteligência artificial para reunir informações pessoais em tempo real, para cobrir todo o país até 2020. O regime chinês defende que o sistema é usado como uma ferramenta de combate ao crime.

A China tem adotado os últimos avanços na tecnologia de vigilância com certo fervor, o que tem de fato preocupado observadores sobre a possibilidade de um pesadelo orwelliano se tornar realidade.

Num evento sobre o futuro da China realizado no instituto de pesquisa Academia Sinica de Taiwan em 3 de novembro, estudiosos alertaram que a China estaria vivendo sob um “totalitarismo digital”.

O professor de ciência política Dr. Titus C. Chen da Universidade Nacional Sun Yat-sen em Taiwan expressou sua preocupação de que a tecnologia avançada pode ser usada para esmagar qualquer sinal de dissidência, seja em ação, em pensamento ou antes mesmo de ocorrer, e chamou isso de “uma forma moderna de engenharia política”.

Um professor usa uma máquina que emprega tecnologia de reconhecimento facial e impressão digital para verificar a identificação de um aluno antes de um exame simulado de admissão na faculdade da cidade de Handan, província de Hebei, China, em 6 de junho de 2017. (STR/AFP/Getty Images)
Um professor usa uma máquina que emprega tecnologia de reconhecimento facial e impressão digital para verificar a identificação de um aluno antes de um exame simulado de admissão na faculdade da cidade de Handan, província de Hebei, China, em 6 de junho de 2017. (STR/AFP/Getty Images)

Ele também mencionou o sistema de “crédito social” da China, no qual todos os cidadãos serão registrados numa base de dados nacional e classificados de acordo com seu nível de confiabilidade até 2020. As autoridades combinarão registros criminais, compras online, atividades de mídia social e outros dados para julgar os níveis de responsabilidade social das pessoas.

O sistema já está ativo em Xangai, Hangzhou, Guangzhou e Xinjiang. Chen explicou que as autoridades chinesas já usam rotineiramente grandes bases de dados eletrônicos (Big Data) para o propósito de vigilância, especialmente para saber se alguém tem opiniões contrárias ao regime chinês. Uma maneira de determinar isso é por meio das compras de comércio eletrônico (e-commerce) das pessoas. Chen disse que isso pode se tornar uma “forma de leninismo na era digital”.

Uma chinesa paga sua refeição usando um sistema de pagamento de reconhecimento facial num restaurante da KFC na cidade de Hangzhou, província de Zhejiang, China, em 1º de setembro de 2017. (STR/AFP/Getty Images)
Uma chinesa paga sua refeição usando um sistema de pagamento de reconhecimento facial num restaurante da KFC na cidade de Hangzhou, província de Zhejiang, China, em 1º de setembro de 2017. (STR/AFP/Getty Images)

O sistema “Skynet” é igualmente invasivo, usando reconhecimento facial e inteligência artificial (IA) para identificar informações pessoais, como idade, gênero, descrição do vestuário, etc. Ele está conectado a um enorme banco de dados, obtidos dos sistemas do governo chinês de identificação dos cidadãos. Os residentes chineses de 16 anos ou mais são obrigados a obter uma cédula de identificação que inclui o nome, gênero, etnia, data de nascimento e endereço ou registro residencial (hukou).

Num documentário recente que foi transmitido para a emissora estatal CCTV, o sistema de vigilância foi revelado como uma forma de a polícia identificar facilmente criminosos em fuga. Mas a vídeo exibido de pessoas atravessando as ruas em meio a suas atividades diárias enquanto informações surgiam ao lado delas na tela pareciam mais uma cena do livro “1984” de George Orwell.

A China é o maior mercado mundial de equipamentos de vigilância. O Wall Street Journal divulgou recentemente uma feira na cidade de Shenzhen. A tecnologia em exibição poderia detectar o humor das pessoas com uma varredura facial, coletar informações nas redes sociais das pessoas e pesquisar imagens de vigilância usando a cor e modelo específico de veículos.

Colaborou: Guo Yaorong