Por Elisabeth Li, Epoch Times
Dez carros da polícia acompanharam um pequeno grupo de familiares para ver o corpo de Han Jun Qing. Não foram permitidas câmeras ou repórteres no local.
Mas sua filha, Han Yu, não precisa de uma fotografia ou artigo para ajudá-la a contar exatamente o que ela viu naquele dia.
Em uma entrevista com Han Yu, ela disse: “O corpo do meu pai estava extremamente magro. Ele tinha ferimentos no rosto. Faltava pele sob o olho esquerdo. Seu rosto tinha hematomas verdes e roxos”.
“Eu vi uma longa marca que parecia ter sido feita à faca, costurada com fio preto, que começava em sua garganta e descia até o peito, onde as roupas dele cobriam o resto. Eu tentei remover sua camisa para ver onde o corte terminava, mas a polícia me impediu e me obrigou a sair.”
Apenas duas pessoas por vez podiam entrar na sala onde o corpo de Jun Qing jazia frio, guardado por dois policiais, enquanto outros agentes uniformizados guardavam o complexo do lado de fora.
“Mais tarde, meus tios entraram e abriram os botões de sua camisa. Eles viram que a incisão ia do pescoço até o abdômen, um ferimento de faca muito óbvio”.
“Eles pressionaram seu estômago e descobriram que o interior de seu abdômen não tinha órgãos, estava cheio de gelo. Então, seu corpo levou o dobro do tempo normal para ser cremado em comparação com o corpo masculino médio”.
Naquela época, o mundo ainda não sabia que o Partido Comunista Chinês estava submetendo prisioneiros de consciência à extração forçada de órgãos, uma prática que continua até hoje.
Quando o pai de Han Yu foi preso pela primeira vez, ela e seu irmão viram a polícia arrastando-o pela porta e saqueando sua casa. Naquela época, ela tinha 14 anos, era uma estudante do ensino médio vivendo uma vida normal.
“Eu disse ao policial: você está prendendo uma boa pessoa, então ele levantou a mão para me bater. (…) Depois de um mês, eles também prenderam minha madrasta, então só ficamos meu irmão e eu em casa”.
Os pais de Han Yu foram presos por praticar o Falun Dafa, uma disciplina espiritual que ensina virtudes, incluindo valores morais com elementos budistas e taoístas. A disciplina se baseia em práticas de cultivo tradicionais chinesas como o qigong e uma série de exercícios de movimentos suaves que incluem meditação.
O Falun Dafa era praticado livremente na China até 1999, quando o então líder do Partido Comunista Chinês, Jiang Zemin, lançou uma campanha sistemática para difamar e destruir a prática.
A polícia saqueou a casa de Han Yu e confiscou todo o material relacionado à prática espiritual.
Mas mesmo depois de tudo a polícia não deixou a família em paz. Um dia, Han Yu recebeu um telefonema de uma praticante do Falun Dafa que lhe pediu para passar a noite em sua casa. Quando Han Yun foi procurá-la no dia seguinte, ela percebeu que um carro da polícia a estava seguindo pela rua. Ela voltou para casa depois de dar a volta no quarteirão.
Depois de uma hora, vários policiais chegaram à sua porta e entraram à força, invadindo o local e questionando onde ela havia ido e o que ela estava fazendo.
A praticante do Falun Dafa que havia pedido para ficar com ela nunca mais telefonou.
“Mesmo sem meus pais em casa, eles continuavam me perturbando. Foi quando comecei a ficar com muito medo da polícia”.
Na escola, os pais de seus colegas disseram a seus filhos que evitassem Han Yu e seu irmão por medo de que suas famílias fossem envolvidas.
Durante esse período, seu irmão de 9 anos tornou-se muito introvertido e começou a faltar à escola. “Ele sofreu mais do que eu porque era muito pequeno”, disse Han Yu.
Quando seu pai finalmente voltou para casa, ele não era mais o mesmo homem que havia entrado na prisão prometendo defender suas crenças. Ele retornou aos velhos hábitos que havia descartado muitos anos atrás depois de ter se dedicado à prática espiritual. Seu mau humor voltou, assim como seus hábitos de jogo e o consumo excessivo de cigarros e álcool. Antes de praticar o Falun Dafa, ele era um conhecido vândalo na comunidade local.
“Quando ele começou a praticar o Falun Gong, a atmosfera familiar mudou”, disse Han Yu. “Naquela época, eu estava mais feliz do que nunca.”
Seu pai voltou da prisão com histórias de tortura. Ele foi muitas vezes espancado pelos guardas. Uma vez, ele foi atingido simultaneamente com dez bastões elétricos.
Depois que seu pai se recuperou, ele novamente desistiu de seus maus hábitos e jurou se apegar à sua crença no Falun Dafa.
Embora ele não soubesse disso na época, ele jurou pela sua vida.
Han Jun Qing morreu em 4 de maio de 2004, três meses depois de ser preso pela segunda e última vez.
Han Yu não sabia da prisão de seu pai porque ela não morava mais em sua casa. Um dia, ela recebeu uma ligação.
“Eu fiquei em choque, em pânico. Eu não podia aceitar a realidade”.
“Eu não conseguia acreditar que eles haviam matado meu pai. Eu pensei que a ligação tivesse sido feita por engano. Até eu ver seu corpo, eu não…”.
A voz de Han Yu sumiu de repente, silenciando durante um momento tenso. “Eu não conseguia acreditar até que vi o corpo dele, e vi que ele realmente tinha partido. Naquele momento, minha mente entrou em colapso. Eu não conseguia dormir e, quando conseguia, tinha pesadelos.”
“Eu sonhava com meu pai com frequência.”
Após a morte de seu pai, sua madrasta foi libertada. Mas o que ela experimentou foi o suficiente para aterrorizá-la e fazê-la nunca mais praticar suas crenças.
Uma viagem ao Ocidente para a liberdade
Quando criança, Han Yu praticava o Falun Dafa com seus pais. Após a morte de seu pai, ela parou de fazer isso.
Então, em uma noite de 2013, Han Yu sonhou com seu pai.
“Meu pai no sonho estava muito diferente. Ele parecia muito saudável e alerta, e disse que queria me levar a um lugar. Perguntei-lhe onde e ele disse: Venha comigo”.
“Ele me levou até a entrada de dois elevadores. Um deles subia e o outro descia. Ele estava em pé comigo na frente daquele que estava subindo. Ele tentou me dizer que havia encontrado o que havia perdido e que eu me mantivesse fiel às minhas crenças.”
Logo após seu sonho, Han Yu viajou para Hong Kong, onde ficou surpresa ao descobrir que ainda havia praticantes do Falun Dafa nas ruas, falando contra o mal que os havia perseguido e espalhando a verdade sobre a propaganda comunista.
Então ela decidiu retomar sua fé mais uma vez.
Em 2015, Han Yu viajou para os Estados Unidos para participar de uma reunião de praticantes do Falun Dafa do mundo inteiro. Ao voltar à China cinco dias depois, ela foi presa junto com sua colega de quarto e o proprietário, que também eram praticantes.
Ela foi interrogada em uma delegacia de polícia sobre sua breve estada nos Estados Unidos, acorrentada a uma cadeira de metal, e a deixaram sem comer nem beber durante um dia inteiro.
A polícia finalmente a libertou porque eles não tinham evidências suficientes de que ela praticava o Falun Dafa.
No entanto, Han Yu sabia que era hora de ir embora.
Os locais de trabalho na China agora exigem que os funcionários forneçam seus números de seguro social, e os telefones dos cidadãos são grampeados.
Quando perguntado por que ela escolheu os Estados Unidos como asilo, Han Yu riu. “Por que os Estados Unidos?”
“Porque lá existe liberdade.”
Em 15 de outubro de 2018, Han Yu, que hoje tem 33 anos, chegou a Nova Iorque.
“Minha primeira sensação ao chegar aqui foi… de liberdade. Na China, eu tinha que ser extremamente cuidadosa ao ler o livro do Falun Dafa, nunca pude lê-lo em público. Aqui eu posso ler o livro no metrô, fazer os exercícios nos parques, até praticar em frente à embaixada chinesa. Eu não tenho que me preocupar se serei presa ou perseguida”.
“Mas para ser honesta, ainda há uma parte de mim que continua presa na China, porque eu ainda sinto um medo irracional toda vez que vejo um policial.”
Agora, todos os dias da semana, seja debaixo de chuva ou de neve, Han Yu fica na entrada da embaixada chinesa segurando bandeiras e distribuindo panfletos para inúmeras pessoas em seu esforço para espalhar a verdade sobre sua crença e expor o mal perpetrado pelo regime chinês.
Ela espera que um dia os responsáveis pela morte de seu pai sejam levados à justiça.
Durante a repressão, Jiang Zemin disse o seguinte: “Vamos arruinar sua reputação, arruiná-los financeiramente, destrui-los fisicamente”.
Ele introduziu políticas genocidas a serem realizadas pelo órgão que é conhecido como a “Agência 610”. Exemplos de tais políticas incluem: “Nenhuma medida é excessiva”, “Nenhuma responsabilidade se for espancado até a morte”, “Aleguem suicídio se for espancado até a morte” e “Incinerem o corpo imediatamente sem confirmar sua identidade”.
No entanto, apesar de tudo o que ela sofreu nas mãos da polícia chinesa, Han Yu disse: “Eu sinto… realmente, que a polícia é digna de pena. Eles realmente não sabem a verdade. Eles acham que o que acreditam é correto, porque na China as pessoas são encorajadas a não pensar de forma independente.”
“Se eles soubessem o tipo de pessoas que somos, eles não nos perseguiriam assim.”
Han Yu lembra de seu pai com orgulho enquanto preserva seu legado. “Até o final, ele não se curvou à perseguição e se apegou às suas crenças.”
“Eu também vou manter minhas crenças e espalhar a verdade em todos os lugares, para salvar mais pessoas que vivem na China e que estão sendo perseguidas por causa daquilo em que acreditam. Eu ainda tenho amigos na prisão”.