A crescente supressão e vigilância enfrentada pela minoria uigur na China pode incluir um elemento mortal: a extração sistemática e forçada de órgãos.
Falando perante o Parlamento do Reino Unido em 13 de dezembro, Dolkun Isa, o presidente do Congresso Mundial Uigur, levantou preocupações de que o regime chinês esteja visando uigures para a extração e o tráfico de órgãos.
“Nós também estamos profundamente perturbados pelos relatos das autoridades chinesas coletando amostras de sangue da população uigur no Turquestão Oriental”, disse Isa numa mesa redonda sobre a extração de órgãos na China, de acordo com o website do Congresso Mundial Uigur. O Turquestão Oriental é o nome da região nativa dos uigures, situada atualmente na província de Xinjiang, no extremo noroeste da China, e uma denominação usada por aqueles que apoiam a autodeterminação uigur.
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Amostras de sangue
Em 13 de dezembro, a Human Rights Watch informou que as autoridades chinesas de Xinjiang começaram a coletar amostras de DNA e de sangue e impressões digitais, e fazer o escaneamento da íris de residentes locais entre as idades de 12 e 65 anos, usando o argumento de que o procedimento era parte de um programa de saúde pública.
“Por um lado, a coleta de amostras de sangue permite que o regime chinês estabeleça uma base de dados genética da população uigur para melhor os monitorar, controlar e reprimir”, disse Isa.
“Esta informação genética também auxilia na extração de órgãos, facilitando a comparação de tipos sanguíneos e a compatibilização de potenciais vítimas uigures.”
O aviso de Isa ocorre dois meses após uma mídia estatal porta-voz do regime chinês, o China News Service, revelar que a China Southern Airlines abriu uma via expressa em maio de 2016 para transportar órgãos humanos para e de Xinjiang para uso em cirurgias de transplante.
Uigures têm por muito tempo suportado a repressão nas mãos do regime chinês, que tem trabalhado para abolir sua religião, cultura e língua. O aumento da atividade associada à extração de órgãos ocorre durante o aumento da repressão envolvendo maior vigilância e supressão, motivada pelo medo de um crescente movimento separatista uigur.
Banco de órgãos de pessoas vivas
A notícia de Xinjiang, de acordo com Wang Zhiyuan, porta-voz da Organização Mundial para Investigar a Persecução ao Falun Gong (WOIPFG), é outro sinal de que “os segredos obscenos do transplante de órgãos ainda não foram completamente expostos”.
A WOIPFG, por meio de sua própria investigação, descobriu que os prisioneiros de consciência são a fonte do banco de órgãos estatal da China; prisioneiros que têm os seus órgãos extraídos contra a sua vontade, matando-os no processo, para beneficiarem pessoas que precisam de transplantes. A maioria das vítimas da extração forçada de órgãos tem sido os praticantes da disciplina espiritual do Falun Gong, que são perseguidos brutalmente pelo regime chinês, mas as vítimas também incluem tibetanos, uigures e cristãos domésticos.
Enquanto estão presos ou detidos, os prisioneiros do Falun Gong são frequentemente submetidos a verificações sistemáticas de sangue com o objetivo de identificar sua compatibilidade para uma cirurgia de transplante de órgãos, de acordo com a “Colheita Sangrenta“, um relatório investigativo abrangente do advogado de direitos humanos David Matas e do ex-secretário de Estado canadense (para a Ásia-Pacífico) David Kilgour.
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A indústria de transplante da China cresceu freneticamente após o ex-líder chinês Jiang Zemin lançar uma perseguição nacional contra os praticantes do Falun Gong em 1999, quando milhões de praticantes foram detidos, presos e enviados para campos de trabalhos forçados, de acordo com o Centro de Informação do Falun Dafa.
Em junho de 2016, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou por unanimidade a H.Res.343, uma resolução condenando a extração forçada de órgãos de praticantes do Falun Gong na China.
Estudantes desaparecem
Nos últimos meses, a mídia relatou casos de uigures que desapareceram sem deixar vestígios. “Mais recentemente, isso ocorreu com 23 estudantes uigures, que foram retornados à China do Egito e desde então desapareceram”, afirmou Isa. “Temos fortes razões para acreditar que muitos dos que desapareceram morreram em custódia chinesa e tiveram seus órgãos extraídos e vendidos.”
De acordo com uma reportagem de 17 de dezembro da Associated Press (AP), o Egito foi por muito tempo um santuário para uigures estudarem o islã, até o país ter começado recentemente a deportar uigures de volta para a China. A AP informou que um jovem da cidade de Korla, em Xinjiang, desapareceu depois de ter sido levado pelas autoridades chinesas em fevereiro. Ele havia estudado na Universidade Al Azhar no Cairo, mas retornou à China em 2016. Um professor e três estudantes no Cairo disseram ter ouvido de fontes da China que ele poderia ter morrido em detenção.
A Radio Free Asia (RFA) informou em 14 de dezembro que quase 10% dos residentes no município de Bullaqsu, em Xinjiang, foram detidos pelas autoridades chinesas este ano.
“Grupos de pessoas foram presos e enviados para centros de detenção semana após semana”, escreveu um ex-residente de Bullaqsu, que agora vive no exílio, numa carta à RFA.
De acordo com a AP, milhares de pessoas, desde o início deste ano, foram capturadas pelas autoridades chinesas e colocadas em campos de detenção em Xinjiang pelo suposto crime de terem pensamentos extremistas ou viajarem para o exterior.
Os campos são estabelecidos com o propósito de doutrinar os uigures em “mandarim, lei, unidade étnica, desradicalização e patriotismo”, de acordo com um memorando do escritório de recursos humanos de Xinjiang. As preocupações levantadas por Isa sugerem que esses campos também podem ter propósitos mais sinistros.
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