Presidente do Conglomerado Fosun renuncia, sinal de grandes mudanças na economia chinesa

18/11/2017 15:54 Atualizado: 18/11/2017 15:54

O presidente de um dos maiores conglomerados da China, o Fosun International, renunciou recentemente a seus cargos em empresas subsidiárias, provocando rumores de que ele pode ter tido problemas com as autoridades chinesas.

Afinal, fazer negócios na China é frequentemente auxiliado por laços com políticos e/ou oficiais poderosos.

O perfil do Fosun abrange produtos farmacêuticos, imóveis, seguros, mineração, bancos e muito mais. Nos últimos anos, ele adquiriu marcas estrangeiras, como a companhia de teatro canadense Cirque du Soleil, a marca francesa de turismo Club Med, a marca americana de roupas St. John e o joalheiro grego Folli Follie.

Em 10 de novembro, o bilionário Guo Guangchang demitiu-se como presidente do conselho da Shanghai Fosun Hi-tech Company. Em agosto e setembro passados, Guo renunciou seus cargos como representante legal e membro do conselho de duas outras subsidiárias do Fosun.

A notícia deu origem a rumores entre os internautas chineses de que ele poderia estar se aposentando em breve ou foi capturado numa investigação pelas autoridades chinesas.

Em 13 de novembro, Guo Guangchang postou em sua conta de mídia social que desejava sair e deixar a geração mais nova assumir o controle das empresas subsidiárias. Ele permaneceria como presidente da empresa-mãe.

Os rumores não são completamente infundados; em dezembro de 2015, Guo Guangchang desapareceu da vista pública. Mais tarde, a empresa anunciou que ele estava cooperando com as autoridades numa investigação.

O logotipo do conglomerado chinês Fosun num edifício em Pequim em 12 de dezembro de 2015 (Greg Baker/AFP/Getty Images)
O logotipo do conglomerado chinês Fosun num edifício em Pequim em 12 de dezembro de 2015 (Greg Baker/AFP/Getty Images)

Anteriormente, a mídia chinesa também informou sobre as relações estreitas de Guo Guangchang com o ex-vice-prefeito de Xangai, Ai Baojun, que foi investigado por acusações de suborno em novembro de 2015 pela agência anticorrupção do Partido Comunista Chinês (PCC). O Fosun tem sua sede em Xangai.

Guo Guangchang também ofereceu um bom negócio a Wang Zongnan, ex-presidente da estatal Bright Food Group, quando Guo teria vendido imóveis abaixo do valor de mercado para Wang.

Wang Zongnan, que foi condenado em 2015 a 18 anos de prisão por apropriação indébita, era um amigo íntimo do ex-líder chinês Jiang Zemin e do filho deste. Por isso, é considerado que Guo Guangchang está associado a funcionários do regime leais a Jiang Zemin, conhecidos como a facção de Jiang. O atual líder chinês Xi Jinping derrubou vários membros da facção de Jiang por meio de sua campanha anticorrupção.

Wang Zongnan participa de uma reunião em Xangai em 30 de julho de 2012 (STR/AFP/Getty Images)
Wang Zongnan participa de uma reunião em Xangai em 30 de julho de 2012 (STR/AFP/Getty Images)

A recente renúncia de Guo Guangchang pode estar relacionada com a nova ênfase de Xi Jinping em “reconstruir” as relações político-comerciais, de acordo com a notável economista chinesa He Qinglian.

“Porque Xi Jinping acredita que essas relações no passado não eram sadias, que eram relações com conflito de interesses e implicavam corrupção. Após o 19º Congresso Nacional, um dos principais temas foi a reconstrução das relações político-comerciais. Esta é sua direção geral”, disse He Qinglian numa entrevista.

Ela também observou que o regime chinês está visando grandes figuras como Guo Guangchang, na tentativa de coletar informações sobre outros que estão envolvidos em corrupção.

He Qinglian também apontou para o anúncio de um novo órgão regulador do PCC no Conselho Estadual, chamado “Comitê para o Desenvolvimento Estável da Indústria Financeira”. Ela explicou que uma iteração anterior deste comitê foi estabelecida há vários anos. Sob um novo nome, o comitê agora tem mais poder para supervisionar o setor financeiro, combinando o que as Comissões de Regulação dos Títulos, Bancos e Seguros da China faziam anteriormente.

No passado, porque os três órgãos operavam separadamente e não compartilhavam informações entre si, empresários magnatas como Wu Xiaohui podiam se envolver em corrupção e fazer lavagem de dinheiro para funcionários do Partido Comunista Chinês, disse He Qinglian.

Contribuíram: Luo Ya & Xue Fei