Práticas de transplante de órgãos da China são questionadas durante Congresso Mundial em Madrid

04/07/2018 13:22 Atualizado: 04/07/2018 13:22

Por Epoch Times

O Congresso Internacional da Sociedade de Transplantes realizada este ano em Madrid tornou a ser alvo de controvérsias devido à participação de médicos de transplantes chineses.

O Centro de Pesquisa sobre Extração de Órgãos na China (COHRC, na sigla em inglês) realizou uma conferência no âmbito do Congresso. Lá, ele expôs as discrepâncias dos números de transplantes apresentados pela delegação chinesa liderada por Huang Jiefu, o infame diretor do Comitê para Doação e Transplante de órgãos na China.

Ex-vice-ministro da Saúde chinês Huang Jiefu durante conferência da OMS (Rony/AFP/Getty Images)
Ex-vice-ministro da Saúde chinês Huang Jiefu durante conferência da OMS (Rony/AFP/Getty Images)

COHRC questiona o número de doações de órgãos divulgado pelo regime chinês. Segundo este, há 373.536 doadores registados na China de acordo com estimativas feitas no final de 2017. Ao mesmo tempo, os números oficiais de transplantes estão entre 10 mil e 15 mil por ano.

Conforme informou a mídia internacional, com uma taxa de mortalidade de 7 em cada 1.000 pessoas por ano, cerca de 2.600 doadores teriam morrido no ano passado. E apenas entre 1 e 2% deles teriam órgãos apropriados para transplante, tal como é visto nos Estados Unidos e no Reino Unido. A grande maioria não se qualifica por causa das doenças de que os doadores morreram, seu estilo de vida pouco saudável, sua idade, ou o período de tempo entre a morte e a obtenção dos órgãos. O número verdadeiro seria então de aproximadamente 40 doadores em 2017.

Por isso, a pergunta que vem sendo feita há anos por organizações como o COHRC e pesquisadores independentes é: de onde vêm os demais órgãos usados para transplante na China?

David Kilgour, ex-secretário de Estado canadense para a Ásia e Pacífico, apresenta um relatório revisado sobre o assassinato contínuo de praticantes do Falun Gong na China com a finalidade da extração de seus órgãos, e ao fundo está o co-autor do relatório David Matas, em 31 de janeiro de 2007 (Epoch Times)
David Kilgour, ex-secretário de Estado canadense para a Ásia e Pacífico, apresenta um relatório revisado sobre o assassinato contínuo de praticantes do Falun Gong na China com a finalidade da extração de seus órgãos, e ao fundo está o co-autor do relatório David Matas, em 31 de janeiro de 2007 (Epoch Times)

O que os investigadores independentes descobriram é que as evidências apontam para o fato de que os órgãos são retirados à força de pessoas vivas, especificamente de prisioneiros de consciência. Ou seja, pessoas que não cometeram nenhum crime, mas estão encarceradas por causa de suas crenças ou convicções. O maior grupo perseguido é o Falun Dafa, também conhecido como Falun Gong, mas os pesquisadores também mencionam uigures, tibetanos e cristãos entre as vítimas.

Versões contraditórias do regime chinês

Durante muitos anos, as autoridades chinesas negaram que estivessem extraindo órgãos vitais de prisioneiros executados. Mas em 2005, Huang Jiefu, então vice-ministro da Saúde, revelou à comunidade internacional que efetivamente usavam prisioneiros desde 1984, como parte das políticas da China. Ele se refere aos prisioneiros sentenciados à morte depois de serem condenados por crimes.

Mas o número de condenados à morte também não explica o número de transplantes publicado pelo regime chinês, pois mesmo que cada prisioneiro executado servisse como fonte para um transplante, isso ainda não explica o número de 10 mil transplantes por ano.

Estas incongruências nos números, juntamente com uma grande quantidade de evidências (relatos de médicos ou guardas prisionais que foram testemunhas, chamadas para hospitais que admitiram que a fonte dos órgãos eram os praticantes do Falun Dafa, o curto tempo de espera para receber o órgão, entre outros), indicam que a esmagadora maioria dos transplantes de órgãos feitos na China são realizados com órgãos de prisioneiros de consciência que foram mortos durante o processo de extração.

O regime chinês nunca admitiu estes crimes; mas após intensa pressão internacional, anunciou a proibição de transplantes de órgãos de prisioneiros executados, a partir de 1º de janeiro de 2015.

Dr. Torsten Trey, diretor executivo da organização Médicos Contra a Extração Forçada de Órgãos (DAFOH, na sigla em inglês) (Chen Baizhou/Epoch Times)
Dr. Torsten Trey, diretor executivo da organização Médicos Contra a Extração Forçada de Órgãos (DAFOH, na sigla em inglês) (Chen Baizhou/Epoch Times)

De acordo com Torsten Trey, cirurgião e presidente da DAFOH (Médicos Contra a Extração Forçada de Órgãos), que viajou para a Espanha para participar do Congresso, “contrariando a ampla percepção de que a China está mudando seu sistema de transplantes e implementando reformas, as delegações não investigaram suficientemente se os prisioneiros de consciência estão sendo usados como uma fonte de órgãos ou não. Até a presente data, não se verificou que a extração forçada de órgãos de prisioneiros de consciência tenha acabado”.

Espanha e outros países são cúmplices

Trey enviou uma carta à Ministra da Saúde, Carmen Montón, pedindo o apoio do governo espanhol a fim de acabar com essa prática abominável de extrair órgãos de pessoas ainda vivas.

“As organizações espanholas estão atualmente envolvidas na formação e capacitação de cirurgiões de transplantes chineses”, e ele então pede para que as autoridades detenham o programa a fim de impedir que “em seu regresso à China, estes cirurgiões possam participar de práticas de abuso de transplantes e da remoção forçada de órgãos”.

As ONGs recordam também que o Parlamento Europeu e o Congresso dos Estados Unidos aprovaram resoluções que condenam a prática da extração forçada de órgãos na China, e que vários países alteraram sua legislação para evitar que seus cidadãos sejam “cúmplices desses crimes”, limitando o que é conhecido como “turismo de transplantes”.