Postura restritiva da China em negociações de carne aumenta pressão no mercado brasileiro

Após conversas sobre fornecimento, China reduz preços e demanda, causando desconforto no setor pecuário do Brasil.

Por Redação Epoch Times Brasil
06/12/2024 18:12 Atualizado: 06/12/2024 18:12

A China tem adotado uma postura mais restritiva em relação às compras de carne bovina do Brasil, reforçando uma forte pressão de baixa no mercado do boi gordo e aumentando as incertezas para pecuaristas brasileiros.

Nos últimos dias, as negociações entre frigoríficos brasileiros e importadores chineses se mostraram particularmente lentas. A menor demanda por carne por parte da China e o aumento da oferta interna pressionam os preços para baixo.

Atualmente, os valores oferecidos pelos compradores chineses estão abaixo do preço de referência, o que tem gerado impacto direto sobre a cadeia de produção no Brasil.

A China, principal destino da carne bovina brasileira, está oferecendo cerca de US$ 5.000 por tonelada de carne, enquanto o valor de referência para o dianteiro bovino exportado para o país asiático gira em torno de US$ 5.500 por tonelada.

Essa tentativa de barganhar valores mais baixos reflete a estratégia chinesa de aproveitar um momento em que a oferta no mercado interno está em alta, ao passo que a demanda global não parece estar crescendo no mesmo ritmo.

Como consequência, frigoríficos brasileiros utilizam esses argumentos para justificar a redução do valor pago ao produtor pelo boi gordo, aprofundando a crise do setor.

No domingo (3), o preço do boi gordo no mercado físico teve uma queda de 4,38% em relação ao dia anterior, evidenciando os efeitos imediatos dessa conjuntura internacional.

Apesar de uma variação semanal ligeiramente positiva de 3,9%, o setor tem enfrentado um ambiente volátil, com perspectivas de incerteza tanto no curto quanto no longo prazo.

Outros produtos do setor pecuário, como o bezerro e a carcaça casada, também mostraram leve desvalorização, ainda que sem grandes mudanças nos últimos dias.

Conforme relatado pelo Epoch Times Brasil em outubro de 2024, o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, reuniu-se com o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, para discutir o aprofundamento das relações comerciais e futuros investimentos chineses no setor agropecuário e logístico brasileiro.

O encontro fazia parte de um movimento de diplomacia econômica, que incluía a celebração dos 50 anos de relações diplomáticas entre Brasil e China. A reunião focou no fortalecimento da segurança alimentar chinesa e na importância do Brasil como fornecedor de alimentos.

Queda da demanda chinesa

A China diminuiu suas importações do mercado brasileiro não apenas em relação a carnes. Dados publicados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços mostram que as exportações da China caiu -3,5%, totalizando US$ 84,74 bilhões.

A decisão chinesa de reduzir compras de carne e outros produtos do Brasil está ligada às recentes revisões nas perspectivas de crescimento da economia do país asiático.

Apesar dos dados oficiais do regime chinês não serem confiáveis, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China foi reduzida para 4,8% em 2024, refletindo uma economia em desaceleração e um consumo doméstico mais fraco.

Esses fatores têm levado o governo chinês a adotar uma postura mais cautelosa em relação às suas compras internacionais, privilegiando a oferta interna e dificultando as importações de carne de outros países, como o Brasil.

A dinâmica do mercado não se limita à carne bovina. O cenário para outras commodities também é de enfraquecimento, principalmente devido à menor demanda chinesa.

Os contratos futuros de soja na Bolsa de Chicago registraram queda significativa, também impactados pelas expectativas de uma ampla oferta global e pela redução nas importações chinesas.

Em julho, as compras de soja pela China totalizaram 7,88 milhões de toneladas, um declínio de 14,1% em relação ao mesmo mês do ano passado, gerando uma queda de 1,5% no valor dos contratos de setembro.

A situação do petróleo segue um padrão semelhante. Os contratos futuros de petróleo também estão em tendência de queda durante todo o ano de 2024, influenciados pela fraca demanda da China, que também foi impactada pelo lento crescimento econômico e eventos climáticos extremos.

A Associação Mundial do Aço revisou suas projeções e indicou que a demanda global por aço deve diminuir pelo terceiro ano consecutivo em 2024 em cerca de 2%. O uso de aço pela China também caiu cerca de 3% em 2024.

Com uma economia pressionada e sinais de desaceleração em diversos setores, a China adota uma postura que reflete diretamente nos mercados globais, especialmente no Brasil, que é um dos seus principais fornecedores de commodities.