Por Annie Wu, Epoch Times
Uma saudação bem-intencionada pelas comemorações do Ano Novo Lunar por parte da Embaixada dos Estados Unidos na China funcionou, sem querer, como uma oportunidade para os internautas chineses despejarem reclamações contra o atual estado da economia chinesa.
Na sexta-feira (9), a Embaixada norte-americana postou na Sina Weibo — uma plataforma semelhante ao Twitter — um vídeo de felicitações pela chegada do Ano do Cachorro, que começou em 16 de fevereiro na China e cujas festividades têm início cerca de uma semana antes.
A publicação rapidamente atraiu internautas chineses descontentes, que deixaram comentários expondo sua raiva pela recente turbulência no mercado de ações em todo o mundo e suas consequentes perdas.
A queda rapidamente se espalhou para outros mercados, particularmente na China.
As ações do mercado chinês tiveram seu pior dia, nos últimos dois anos, em 9 de fevereiro, quando os dois principais índices do país, o Índice Composto de Xangai e o CSI 300 (300 ações de primeira linha listadas nas Bolsas de Valores de Xangai e Shenzhen) ), caíram 4 e 4,3%, respectivamente, de acordo com a agência Reuters.
Muitos internautas culparam as autoridades chinesas. Um comentário que exemplifica o descontentamento das pessoas dizia: “A Comissão Reguladora de Títulos e Valores da China proíbe protestar os milhões de investidores na bolsa de valores chinesa, então só podemos expor nossas frustrações e raiva aqui”. Alguns pediram que o atual chefe da comissão, Liu Shiyu, renuncie.
O número de comentários na postagem chegou a mais de 10 mil.
Em 10 de fevereiro, as coisas ficaram fora de controle. A Embaixada norte-americana deletou alguns dos comentários, explicando em uma nova postagem que os comentários não estavam relacionados com a publicação original e que os termos de uso da Weibo não permitem “comentários maldosos contra qualquer pessoa ou organização”.
Um analista da censura da internet chinesa, Gu He, disse em uma entrevista ao canal NTD Television chinês que os investidores da bolsa de valores estavam dirigindo sua raiva para a embaixada norte-americana porque “sob o rígido controle de expressão na China, praticamente não há lugar para eles expressarem sua frustração”.
Mas a história não acabou aí. O jornal estatal do Partido Comunista Chinês, Global Times, publicou um artigo em 12 de fevereiro que parecia evitar o fato de que a frustração pública era direcionada ao próprio regime chinês. O Global Times resumiu as diferentes saudações de Ano Novo das embaixadas, chamando a da embaixada norte-americana de “a mais embaraçosa” e numa situação “em que não se sabe se ri ou se chora” devido às queixas dos internautas.
Em certo momento durante o fim de semana, a função que permite comentários foi interrompida. O porta-voz da Embaixada dos Estados Unidos disse à imprensa que apenas alguns comentários haviam sido removidos, mas que a função continuava funcionando — o que levou alguns a especular que talvez a Sina Weibo tivesse feito isso na tentativa de censurar o descontentamento.
Em 12 de fevereiro, durante uma conferência de imprensa com o Ministério de Assuntos Estrangeiros, um jornalista perguntou ao porta-voz do Ministério se a Weibo havia bloqueado os comentários na postagem.
O porta-voz fugiu da pergunta, dizendo que não estava ciente da situação.