Por onde os membros do regime chinês acompanham as notícias?

Quando o Politburo faz reuniões, uma edição do Epoch Times é colocada sobre a mesa, segundo fontes

26/04/2018 13:37 Atualizado: 26/04/2018 13:45

Por Sunny Chao, Epoch Times

Os meios de comunicação estatais da China são conhecidos por divulgar notícias falsas e por sua propaganda descarada para difundir a agenda do Partido Comunista Chinês (PCC). Se os cidadãos comuns só podem ficar sabendo das “notícias” por meio dessas fontes e de qualquer informação que passe através da censura estrita do Partido, onde os membros de alto escalão do PCC obtêm a informação real?

Quando Zhu Rongji, ex-primeiro-ministro, pronunciou um discurso na Universidade de Tsinghua durante a celebração do centenário da fundação da universidade, em 22 de abril de 2011, comentou que depois que se aposentou, começou a olhar para as câmeras de circuito fechado da emissora de televisão do PCC às sete da tarde, após o jantar. “Eu só assisto para ver o absurdo que dizem”, disse ele.

Então, de onde os funcionários de alto escalão como Zhu recebem as notícias? Eles obtêm informações verdadeiras sobre o mundo exterior através de uma publicação especial chamada “Referência Interna“. Trata-se de uma compilação de notícias e avisos dos principais líderes do Partido, notícias nacionais e internacionais que os meios de comunicação chineses estão proibidos de divulgar. A “Referência Interna” é considerada um documento confidencial e as cópias antigas são destruídas.

Ao longo dos anos, desde o Comitê Central do Partido — corpo de mais de 200 membros de alto escalão — até os meios de comunicação estatais, provinciais e centrais, e diferentes agências estatais centrais, todos publicam suas versões da “Referencia Interna” apenas para sua própria consulta.

As versões da “Referência Interna” são classificadas de acordo com a hierarquia dos funcionários: há uma cuja leitura só é permitida para os funcionários do nível provincial ou ministerial, e outro para o Politburo, grupo formado por 25 membros da elite. O nível mais alto está disponível apenas para poucos membros da liderança do Partido. A “Referência Interna” de nível mais alto inclui uma seção sobre assuntos internos que é atualizada diariamente.

Mulher consulta programação antes do discurso do vice-chefe de Missão da Embaixada dos EUA, Dan Kritenbrink, e do vice-ministro das Relações Exteriores da China, Liu Zhenmin, em Pequim, em 3 de dezembro de 2014 (Fred Dufour/AFP/Getty Images)
Mulher consulta programação antes do discurso do vice-chefe de Missão da Embaixada dos EUA, Dan Kritenbrink, e do vice-ministro das Relações Exteriores da China, Liu Zhenmin, em Pequim, em 3 de dezembro de 2014 (Fred Dufour/AFP/Getty Images)

Que tipo de “Referência Interna” os membros do PCC podem ler também está estreitamente relacionado a seu status político. Por exemplo, o secretário do ex-líder do Partido Mao Tsé-Tung, Tian Jiaying, foi desqualificado para ler uma “Referência Interna” de alto nível pouco antes de cometer suicídio. Deng Xiaoping, líder do PCC desde finais da década de 1970 até início da década de 1980, recebeu permissão para ler a “Referência Interna” de alto nível antes de se tornar líder do Partido.

Quando o atual líder do PCC, Xi Jinping, foi à Agência de Notícias Xinhua em 19 de fevereiro de 2016, visitou especificamente o departamento que publica a “Referência Interna”. “Quando trabalhei para o governo local, comecei a prestar mais atenção à ‘Referência Interna'”, disse aos repórteres da Xinhua, segundo informado pelo jornal. “Quando trabalhei para o governo central, prestei especial atenção.”

Os jornalistas da Agência de Notícias Xinhua vangloriam-se frequentemente diante de seus colegas que trabalham nos meios de comunicação chineses de que a primeira coisa que os líderes centrais, provinciais e municipais fazem quando chegam aos seus escritórios é ler os documentos de “Referência Interna” compilados por Xinhua.

Funcionários de alto escalão também recorrem à publicação do Epoch Times chinês e seu associado, a New Tang Dinasty Television (NTD), que se estabeleceram nos Estados Unidos em 2000 e 2001, respectivamente.

Sentado em um pequeno escritório em Flushing, Zhang Kaichen lê um dos jornais produzidos pela comunidade chinesa dissidente (Matthew Robertson/Epoch Times)
Sentado em um pequeno escritório em Flushing, Zhang Kaichen lê um dos jornais produzidos pela comunidade chinesa dissidente (Matthew Robertson/Epoch Times)

O jornal internacional The Epoch Times descobriu, por meio de fontes fidedignas dentro da liderança do Partido, que os funcionários de altos cargos recorrem frequentemente ao jornal The Epoch Times e à rede de televisão NTD para obter informação verdadeira sobre assuntos da atualidade.

Quando o Politburo faz reuniões, uma edição do Epoch Times é colocada sobre a mesa, contaram as fontes.

Hao Fengjun, ex-agente de polícia na cidade de Tianjin, desertou para a Austrália em fevereiro de 2005, levando com ele muitos documentos confidenciais. Estes registros revelaram que os oficiais de polícia leem frequentemente a versão do Epoch Times em chinês e assistem à NTD para encontrar maneiras de suprimir ou minar sua história verdadeira sobre a China.

Estas fontes disseram também que o consulado chinês em Nova York recolhe edições do Epoch Times em chinês e envia cópias periodicamente para Pequim.

Além disso, um membro atual do Comitê Permanente do Politburo — hierarquia mais elevada do Partido — registra regularmente os programas da emissora NTD.

Após a chegada da era da Internet, funcionários de cargos elevados do Partido agora conseguem navegar diretamente pelos sites bloqueados, como o The Epoch Times chinês, a NTD e a rádio Voz da América, usando um software especial para driblar a proteção do firewall.

Depois que Xi Jinping assumiu o poder em 2012, ele mandou que funcionários recolhessem os exemplares do Epoch Times e revistas da NTD, e os enviassem regularmente a Zhongnanhai, complexo em Pequim onde a liderança do Partido se reúne, segundo fontes anônimas.