Pequim censura críticas ao regime de Maduro nas redes sociais

Desde novembro do ano passado, as autoridades chinesas têm perseguido usuários do Twitter no país

14/02/2019 19:38 Atualizado: 14/02/2019 19:38

Por Frank Fang, Epoch Times

O apoio de Pequim ao regime venezuelano de Nicolás Maduro chegou ao ponto de censurar posts nas redes sociais que criticam o ditador comunista.

Em 29 de janeiro, Zhao Weidong, residente da província de Shaanxi, no norte da China, foi convocado pela polícia local que impôs a ele uma multa administrativa de 500 iuanes (US$ 74) por retweetar uma mensagem de @Brother_chui, de acordo com um artigo de 11 de fevereiro da Radio Free Asia (RFA).

“Como foi que a Venezuela deixou de ser a democracia mais rica do mundo para se transformar em um Estado comunista totalitário?”, dizia a mensagem original do Twitter, datada de 20 de janeiro. Zhao a retuitou em sua conta @ctm10001.

O Twitter está bloqueado dentro da China, mas muitos chineses usam programas como o VPN para contornar a censura do regime.

O governo de Maduro tem fortes laços com a China, como pode ser visto nos comentários feitos por Delcy Rodríguez, vice-presidente da Venezuela, durante uma recepção do Ano Novo Chinês organizada em janeiro pela Embaixada da China em Caracas.

“Todo o petróleo que a China precisa, a Venezuela tem”, disse a vice-presidente.

O tuíte de @brother_chui apontou para as políticas de Maduro, mencionando que depois de tomar o poder, Maduro modificou a Constituição, prendeu dissidentes, reprimiu a mídia e importou sistemas de vigilância em massa da China.

Em novembro do ano passado, a agência Reuters informou que a gigante chinesa de tecnologia ZTE foi a principal arquiteta do recente lançamento do programa chamado “carnet de la patria” da Venezuela, que transmite informações sobre o titular do cartão para os servidores do governo. O cartão está ligado a muitos programas sociais dos quais os venezuelanos dependem. Grupos de direitos humanos criticaram o sistema “carnet de la patria” por causa de sua extensa capacidade de vigilância.

A polícia local chinesa determinou que o retuíte de Zhao era “fake news”, de acordo com uma cópia do documento policial visto pela RFA.

Wu Bin, ativista chinês pela liberdade de expressão na Internet, que também usa o apelido de Xiucai Jianghu, disse à RFA que ele teve que deletar seu tuíte sobre a multa de Zhao depois de receber a visita da polícia de segurança nacional chinesa.

“É ridículo, agora você não é multado apenas por criticar o próprio governo, você também pode ser multado por criticar um país estrangeiro”, disse Wu à RFA. Ele acrescentou que “não há liberdade de expressão neste país nem qualquer senso de segurança”.

Um usuário do Twitter de sobrenome Wang disse à RFA que o Partido Comunista Chinês (PCC) tem censurado notícias sobre eventos na Venezuela depois que o líder da oposição Juan Guaidó começou a receber reconhecimento internacional como presidente interino do país sul-americano.

O tuíte de Wang explicava que o PCC não queria que o movimento de oposição influenciasse os chineses e os encorajasse a iniciar um protesto político.

He Jiangbing, economista chinês e comentarista nas redes sociais, disse algo semelhante à RFA. “Eles estão tentando evitar outra revolução das cores”, referindo-se aos movimentos políticos na Europa Oriental nos anos 80 e 90 que derrubaram regimes autoritários.

Pequim teve reações semelhantes quando eclodiu a Revolução de Jasmim, uma revolta popular ocorrida na Tunísia contra a corrupção e a repressão política do governo do ex-presidente Zine El Abidine Ben Ali, entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011. O regime chinês censurou a palavra “jasmim” na Internet e proibiu a venda de flores em vários mercados de Pequim.

Desde novembro do ano passado, as autoridades chinesas têm perseguido usuários do Twitter no país. Contas de dissidentes de vários municípios e províncias chinesas, incluindo Pequim, Shandong e Guangdong, foram recentemente encerradas pelas autoridades.

As contas no Twitter do advogado e defensor de direitos humanos na China, Chen Yunke, e do dissidente Ye Jinghuan, foram hackeadas pelas autoridades, que inventaram conteúdo “ilegal” para incriminá-los.