O Ministério das Relações Exteriores da China declarou nesta segunda-feira (20) que seria um “grande erro” para a Argentina cortar os laços com “países tão grandes quanto Brasil e China”, uma possibilidade sugerida nos últimos meses pelo presidente eleito, Javier Milei, e alguns de seus colaboradores.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, respondeu às recentes declarações feitas à agência de notícias russa “Sputnik” pela assessora de política externa de Milei, Diana Mondino, que disse: “Deixaremos de interferir com os governos de Brasil e China”.
A porta-voz comentou que há “discrepâncias” sobre o significado das palavras de Mondino – cujo nome está sendo cogitado como possível ministra das Relações Exteriores do novo governo argentino – e afirmou que “nenhum país pode separar as relações diplomáticas do desenvolvimento da cooperação econômica e comercial”.
Em entrevista coletiva, Mao lembrou que “a China é o segundo maior parceiro comercial da Argentina e o principal mercado de exportação de seus produtos agrícolas”.
“Os dois lados têm uma forte complementaridade econômica e um grande potencial de cooperação”, acrescentou.
De acordo com a “Sputnik”, Mondino disse que “a relação com ambos os países – em referência à China e ao Brasil – será excelente como deve ser”, mas que “é preciso distinguir o que é o governo do que é o Estado”.
A China parabenizou Milei na segunda-feira e garantiu que ainda estava disposta a trabalhar com a Argentina para “continuar a amizade entre os dois países”.
Há dois anos, Milei garantiu que “não faria negócios com a China” e afirmou que o corte de relações com o gigante asiático “não seria uma tragédia macroeconômica”.
Em agosto deste ano, a China aconselhou Milei a “visitar” o país e “observar”, depois que o candidato liberal lamentou o fato de que as pessoas na China “não são livres”.
A posição de Milei sobre a China contrasta com a de seu rival, o peronista Sergio Massa, que viajou a Pequim em junho, como ministro da economia da Argentina, e disse que a Argentina considerava a China um importante parceiro econômico e comercial e expressou sua disposição de fortalecer a cooperação nessas áreas.
Pequim e Buenos Aires mantiveram boas relações nos últimos anos: no ano passado, a Argentina aderiu às Novas Rotas da Seda, a principal iniciativa econômica internacional da China para consolidar sua influência por meio da infraestrutura, embora ainda não se saiba se continuará a fazer parte dela com o governo resultante da eleição de Milei.
Por sua vez, a China tem investimentos na Argentina em áreas estratégicas como infraestrutura e mineração, bem como um acordo de “swap” pelo qual o país sul-americano paga à Argentina por suas exportações em yuans em vez de dólares.
Da mesma forma, muitas empresas chinesas estão de olho no país sul-americano, especialmente no setor agrícola e em recursos naturais como o lítio, um material fundamental para a indústria chinesa de carros elétricos, do qual a Argentina é o quarto maior produtor do mundo.
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