Pela primeira vez, facção de Xi Jinping supervisionará Hong Kong e Macau

01/11/2017 13:31 Atualizado: 08/11/2017 10:02

Com a revelação, na semana passada, das novas diretrizes do Comitê Permanente do Politburo Político do Partido Comunista Chinês (PCC), o mundo tomou conhecimento de quem serão os homens mais poderosos que governarão a China nos próximos cinco anos.

Dentro da autoridade do regime chinês estão incluídos os centros financeiros de Hong Kong e Macau. Qual dos sete homens do Comitê Permanente, principal órgão de decisão do PCC, ficará responsável pelas duas regiões administrativas especiais?

Existem indicativos importantes. O posicionamento no ranking dos membros do Comitê Permanente reflete seu poder político. O número um da lista é o secretário geral, chefe do PCC e atual presidente da China, Xi Jinping. O número dois é o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang.

O número seis, Zhao Leji, ficará à frente do órgão anticorrupção e disciplinar, a Comissão Central de Inspeção Disciplinar. Quanto aos demais membros do Comitê, seus cargos administrativos ainda não foram anunciados oficialmente.

Conforme a tradição, o membro do Comitê Permanente que já ocupou o terceiro lugar durante o mandato anterior liderará o Comitê Permanente do Congresso Popular Nacional e, juntamente com esse cargo, dirigirá o escritório do PCC para assuntos de Hong Kong e Macau.

Portanto, é provável que o recém nomeado número três, Li Zhanshu, se torne o próximo funcionário do PCC a supervisionar Hong Kong e Macau. As duas cidades são antigas colônias europeias que foram transferidas para a soberania chinesa em 1997 e 1999, respectivamente.

Li Zhanshu, em uma coletiva de imprensa, anuncia os novos membros do Comitê Permanente do Politburo, no Grande Salão do Povo em Pequim em 25 de outubro de 2017 (Lintao Zhang/Getty Images)
Li Zhanshu, em uma coletiva de imprensa, anuncia os novos membros do Comitê Permanente do Politburo, no Grande Salão do Povo em Pequim em 25 de outubro de 2017 (Lintao Zhang/Getty Images)

Li, com 67 anos, é um confidente próximo de Xi. Tornou-se chefe de gabinete quando Xi Jinping assumiu o poder em 2012. Os dois homens se conheceram na década de 1980, quando ambos ocupavam o cargo de secretários do Partido nos municípios locais da província de Hebei.

Em abril deste ano, quando a recém-eleita executiva-chefe de Hong Kong, Carrie Lam, visitou Xi em Zhongnanhai, Li Zhanshu juntou-se a uma reunião com um grupo de funcionários do PCC responsáveis por Hong Kong e Macau, o Grupo de Coordenação Central para Assuntos de Hong Kong e Macau, o que levou alguns analistas a especular sobre a possibilidade de Li ser o sucessor.

A nomeação de Li significaria que, pela primeira vez desde que Hong Kong e Macau foram devolvidos à China, as duas cidades não estariam sob o controle de funcionários leais ao ex-líder do PCC Jiang Zemin.

Hong Kong goza de uma relativa autonomia e tem um sistema de governo separado, devido à Declaração Conjunta negociada entre o Reino Unido e a República Popular da China em 1997, que estabeleceu as condições para a transferência da soberania.

No entanto, os moradores locais estão cada vez mais descontentes com a crescente interferência nos assuntos locais por parte das autoridades chinesas do continente.

História

Jiang conseguiu exercer influência sobre Hong Kong e Macau muito tempo depois de deixar o poder no início dos anos 2000, através de seus aliados Zeng Qinghong, Zhang Dejiang e o ex-presidente-executivo Leung Cheung-ying.

Embora o PCC não tenha estabelecido um departamento para governar diretamente Hong Kong, o Escritório de Assuntos de Hong Kong e Macau e o Escritório de Ligação em Hong Kong atuam essencialmente como intermediários de Pequim.

Após os protestos públicos que eclodiram em 2003 contra a proposta do artigo 23 do governo de Hong Kong, uma legislação antissubversiva que poderia potencialmente desmantelar a proteção dos direitos básicos em Hong Kong, o PCC nomeou Zeng Qinghong, então membro do alto escalão do Comitê Permanente do Politburo, para cumprir diretamente os desejos dos líderes de Pequim através do Grupo Central de Coordenação para Assuntos de Hong Kong e Macau.

Ex-vice-líder chinês Zeng Qinghong, durante sessão de abertura do 18º Congresso Nacional realizado em Pequim, na China, em 8 de novembro de 2012 (Feng Li/Getty Images)
Ex-vice-líder chinês Zeng Qinghong, durante sessão de abertura do 18º Congresso Nacional realizado em Pequim, na China, em 8 de novembro de 2012 (Feng Li/Getty Images)

Depois que Zeng se retirou do Comitê em 2008, Xi foi nomeado líder do Grupo de Hong Kong. Mas, como Jiang continuou a exercer poder em Pequim nos bastidores, ele conseguiu manter Zeng a cargo dos assuntos de Hong Kong.

Depois que Xi assumiu o poder como chefe do PCC, Zhang Dejiang, funcionário da facção de Jiang e terceiro na lista do Comitê Permanente do Politburo, tornou-se líder do Grupo de Hong Kong. Alguns analistas políticos comentaram que primeiro Zeng, e então Zhang, poderiam ter provocado tumultos locais em Hong Kong para distrair a liderança de Xi Jinping.

Ex-membro do Comitê Permanente da Polícia no Politburo (esq.) Zhang Dejiang e o ex-presidente-executivo da Hong Kong, Leung Chun-ying, em Hong Kong, em 19 de maio de 2016 (Anthony Wallace/AFP/Getty Images)
Ex-membro do Comitê Permanente da Polícia no Politburo (esq.) Zhang Dejiang e o ex-presidente-executivo da Hong Kong, Leung Chun-ying, em Hong Kong, em 19 de maio de 2016 (Anthony Wallace/AFP/Getty Images)

Em junho de 2012, poucos meses antes de Xi assumir ao poder, formou-se uma frente de ação do PCC chamada Associação de Atendimento ao Jovem de Hong Kong, que começou a atrapalhar as atividades locais dos praticantes de Falun Dafa, uma prática espiritual perseguida na China Continental. A associação tem sua sede na cidade de Shenzhen, onde compartilha um estabelecimento com o Escritório 610, polícia estatal chinesa semelhante à Gestapo criada para levar a cabo a perseguição contra os praticantes do Falun Dafa. Os membros de Hong Kong são pagos para gritar, agredir e impedir os praticantes de Hong Kong de se encontrarem em locais onde podem distribuir informações sobre a prática. Com o apoio do chefe-executivo Leung, a Associação de Atendimento ao Jovem operou impunemente, e a polícia muitas vezes fez vista grossa.

No verão de 2014, o PCC emitiu um documento exigindo uma “jurisdição integral” sobre Hong Kong, o que alarmou os habitantes da região administrativa especial. O documento ameaçava acabar com a política “um país, dois sistemas” que governa Hong Kong desde 1997 e que garante as liberdades e o autogoverno da cidade.

Em agosto desse ano, foi adotada uma deliberação do Comitê Permanente do Congresso Popular Nacional sobre como se realizariam as eleições do Conselho Legislativo de Hong Kong de 2016 e as eleições para o cargo de chefe-executivo em 2017. Essa decisão, considerada muito restritiva para muitos em Hong Kong, desencadeou os protestos da Revolta dos Guarda-chuvas em favor do sufrágio universal.

Milhares de pessoas seguram guarda-chuvas em sinal de protesto no Distrito Central de Hong Kong em 28 de outubro de 2014 (Benjamin Chasteen/Epoch Times)
Milhares de pessoas seguram guarda-chuvas em sinal de protesto no Distrito Central de Hong Kong em 28 de outubro de 2014 (Benjamin Chasteen/Epoch Times)

O principal analista de assuntos da China na atualidade, Ji Da, observou que a facção de Xi está assumindo o controle de Hong Kong e isso indica que haverá mudanças importantes na cidade.

No discurso inaugural de Xi para o maior conclave do Partido, o 19º Congresso Nacional, realizado na semana passada, o mandatário dedicou mais tempo falando sobre Hong Kong e Macau do que seus predecessores, o que indica que Xi considera prioritária a questão.

Nos últimos anos, o pessoal do Escritório de Ligação em Hong Kong e Macau foi substituído por aliados de Xi, como Wang Zhimin e Zheng Xiaosong, que foram colegas da Xi na época em que ocuparam cargos na província de Fujian. No Congresso, ambos foram promovidos ao poderoso Comitê Central.

Colaborou: Li Ling-pu

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