Por Steven W. Mosher
Não faz muito tempo desde a época em que estudiosos de esquerda cantavam louvores sobre o Partido Comunista Chinês. Tomemos por exemplo o acadêmico britânico David Runciman, que no início deste ano nos informou que “a causa democrática está na defensiva e o autoritarismo pragmático da China oferece agora um sério modelo rival, baseado em promessas econômicas e dignidade nacional”.
O professor Runciman, dirigindo-se a nós nos isolados corredores da Universidade de Cambridge através das páginas do The Wall Street Journal, está totalmente errado em todas as questões.
Longe de ser um “sério modelo rival para a democracia”, a China sob o regime do Partido é simplesmente a última versão dos regimes opressivos, ineficientes e corruptos da era soviética, ou dos regimes burocráticos totalitários dos piores imperadores da China.
A verdadeira natureza do regime, é verdade, por um tempo esteve disfarçada pelo impressionante crescimento econômico chinês. O Partido insiste em que todo o crédito pelo progresso da China nas últimas décadas pertence exclusivamente ao Partido. Xi Jinping é apenas o último líder comunista a atribuir completamente os sucessos chineses às políticas visionárias de “reforma e abertura” do Partido.
Runciman adere incondicionalmente à visão do Partido, ao escrever que “o regime chinês tem tido um sucesso notável na melhoria da condição material de sua população”. (…) Os benefícios do rápido crescimento econômico tornaram-se tangíveis para muitas centenas de milhões de chineses, e o regime entende que sua sobrevivência depende da continuação dessa história de sucesso econômico” (grifo nosso).
É exatamente o contrário. A China progrediu economicamente nas últimas décadas não por causa do Partido, mas apesar do Partido e de seus asseclas onipotentes.
Eu sei disso porque estive na China há quarenta anos, quando a “reforma e abertura” começou. O levantamento da cortina de bambu de Mao permitiu que o talento e a indústria nativos dos chineses entrassem em contato com os mercados e a tecnologia dos Estados Unidos e outros países. O resultado foi uma explosão de atividade empreendedora que começou no final dos anos 1970 e que floresceu em uma economia baseada na exportação que era a inveja do mundo.
Estou convencido de que o avanço da China teria sido ainda mais impressionante se o Partido não tivesse desperdiçado pelo caminho tanta riqueza conquistada pelo povo chinês. Quantos bilhões de dólares foram para os bolsos de funcionários corruptos durante o último quarto de século? Quantos bilhões foram desperdiçados ao se manter as empresas estatais falidas em terapia intensiva por anos?
Tenho certeza de que as enormes somas de dinheiro que o Partido está gastando com o Exército Popular de Libertação (EPL) seriam mais do que suficientes para acabar com a pobreza rural nas áreas estagnadas da China. Mas o Partido está mais interessado em consolidar a lealdade política do EPL, sem mencionar a intimidação dos vizinhos chineses, do que em programas de combate à pobreza.
Devemos também considerar quanto custa monitorar e vigiar praticamente toda a população chinesa. Prender e encarcerar qualquer um que se atreve a questionar o regime continuado do Partido não pode ser barato. E o custo de colocar milhões de muçulmanos, ou centenas de milhares de praticantes do Falun Dafa — cujo único crime é venerar algo que não é o Partido — em campos de reeducação ou prisões durante anos?
Tudo isso é para dizer que o Partido investiu enormes recursos em sua própria sobrevivência, colocando seu desejo por poder e dinheiro acima dos interesses do povo chinês.
Como dizem os chineses: “Onde a água recua, as rochas aparecem”.
Agora que o crescimento econômico da China desacelerou, a verdade não pode ser negada: de maneira criminosa, o Partido manipulou a economia chinesa em proveito próprio. O nascente setor privado foi sufocado pela corrupção, enquanto empresas estatais ineficientes continuam gerando enormes — e ocultados — déficits. O mercado de ações está prestes a desabar e a economia em geral está praticamente paralisada, se não estiver se retraindo.
O Partido, com suas práticas comerciais predatórias e espionagem cibernética desenfreada, conseguiu até desperdiçar boa parte da boa vontade que os norte-americanos e outros alguma vez já sentiram pela China, enquanto o Partido estava ocupado destruindo a melhor parte da cultura chinesa.
Runciman argumenta que a China é um modelo econômico atraente em comparação com a Índia. Ele escreve: “A China antidemocrática fez progressos surpreendentemente muito maiores na redução da pobreza e no aumento da expectativa de vida do que a Índia democrática”, sugerindo que a presença ou ausência da democracia é a única diferença entre esses dois países. Ele não menciona que Nehru atrasou a Índia recentemente independente ao impor-lhe o socialismo. Isso resultou no que o economista indiano Gurcharan Das chama de “estrangulamento das empresas, crescimento lento, oportunidades perdidas, altos subsídios e burocracia voraz”.
Uma comparação melhor seria entre a China antidemocrática e a Taiwan democrática. Os taiwaneses têm uma renda per capita três vezes maior que a da China e vivem uma média de cinco anos a mais. Sem mencionar que desfrutam de liberdade de expressão, reunião e associação, todas as quais são severamente restritas na China.
A comparação entre China e Taiwan revela quão vazias são as “promessas econômicas” do comunismo.
É claro que, se Hillary Clinton tivesse sido eleita, eu poderia concordar relutantemente com Runciman de que “a causa democrática está na defensiva”. Em sua apressada corrida por impostos mais altos e mais regulamentações governamentais, a Sra. Presidente teria debilitado ainda mais a economia norte-americana, que já está sobrecarregada com esses dois fatores.
Felizmente, a eleição surpreendente de um norte-americano original com o nome de Donald Trump impediu essa calamidade. Trump acredita junto com Calvin Coolidge que “o negócio dos Estados Unidos são os negócios” e deu partida no enorme motor de progresso conhecido como livre mercado.
Professores de Cambridge podem zombar do presidente dos Estados Unidos devido à sua insolência, mas aqueles que vivem no mundo real entendem que os cortes de impostos e as políticas comerciais de Trump transformaram a economia norte-americana e colocaram em alerta o Partido sobre o fato de que os Estados Unidos não são uma presa fácil para ninguém.
Talvez os melhores dias dos Estados Unidos estejam chegando.
Como a maioria da esquerda, Runciman minimiza a falta de “dignidade individual” — termo insípido que ele usa para o total desprezo do Partido pelos direitos humanos universalmente reconhecidos — na China. De fato, até sugere que a falta de direitos humanos é mais do que compensada para a maioria dos chineses porque, sob o regime do Partido, eles agora desfrutam de “dignidade nacional” em abundância.
Com isso ele está repetindo a atual liderança do partido, que propõe essa troca. “Eles podem estar sob vigilância constante do Estado, proibidos de falar livremente, impedidos de formar associações políticas e impedidos de praticar a crença que escolhem”, diz o Partido para as pessoas que oprime. “Mas nunca se esqueçam de que a crescente grandeza econômica e militar da China é a sua grandeza. E vocês devem essa grandeza ao Partido”.
O Partido usa esses apelos à xenofobia e ao nacionalismo para criar narcisistas nacionais superpatriotas que irão ignorar o fato de que eles, juntamente com qualquer outro chinês, estão sendo sistematicamente privados de seu direito natural à vida, à liberdade e à busca da felicidade.
Tais apelos ao nacionalismo também são usados para desviar a atenção das consequências negativas do regime continuado do Partido, a saber, a corrupção crescerá, a inovação será paralisada e tanto as pessoas quanto o capital procurarão cada vez mais escapar do país para se abrigar em países estrangeiros.
Onde alguns vêem a ascensão do autoritarismo e a queda da democracia, eu vejo um incrível espetáculo em que tanto a China quanto os Estados Unidos serão os mesmos de sempre.
Os Estados Unidos com Trump estão retornando aos princípios que os tornaram a potência dominante no mundo por mais de um século.
Sob a péssima administração do Partido Comunista Chinês, a China está regredindo para o despotismo totalitário de seu passado distante. O povo chinês merece algo melhor.
Steven W. Mosher é presidente do Instituto de Pesquisa Populacional e autor de “Fanfarrão da Ásia: por que o sonho da China é a nova ameaça à ordem mundial”
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