Pela Reuters
Pequim – As turnês “altamente coreografadas” para Xinjiang, organizadas pelo Partido Comunista Chinês (PCC), enganam e propagam falsas narrativas sobre a problemática região, disse uma autoridade dos Estados Unidos, depois que a China anunciou planos de convidar enviados europeus a visitá-los.
A China vem intensificando um esforço para dissipar as crescentes críticas de governos internacionais e de grupos de direitos humanos sobre o seu programa maciço de “treinamento vocacional” em Xinjiang, que faz fronteira com a Ásia Central.
Especialistas e autoridades do governo dos Estados Unidos apontaram evidências de que a China está operando campos de concentração para uigures, também chamados Uighur, e outros grupos étnicos minoritários que vivem em Xinjiang, embora o governo os chame de “centros de treinamento vocacional” e diz que eles atendem à necessidade real de educação para prevenir o pensamento extremista e a violência que o regime diz ter causado tumultos em massa na região na última década.
O Ministério das Relações Exteriores da China disse na semana passada que convidaria diplomatas europeus em Pequim para visitar em breve. Fontes diplomáticas disseram que o convite informal foi para os embaixadores e foi planejado para esta semana.
Um funcionário do governo dos Estados Unidos, perguntado pela Reuters se o embaixador dos Estados Unidos na China, Terry Branstad, havia sido convidado a visitar Xinjiang, disse que não havia reuniões ou visitas para anunciar.
“Viagens altamente coreografadas e acompanhadas pelo governo em Xinjiang propagaram falsas narrativas e ofuscaram as realidades dos violentos abusos dos direitos humanos na China”, disse o funcionário, sob anonimato.
A visita deste mês seria a primeira de um grande grupo de diplomatas ocidentais para a região desde que a preocupação internacional com o aperto de segurança de Xinjiang começou a se intensificar no ano passado. Centenas de pessoas morreram em conflitos em Xinjiang nos últimos anos, o que Pequim atribui a terroristas, mas grupos uigur no exterior culpam as políticas étnicas coercivas e restritivas do regime comunista.
Vários grupos de diplomatas de outros países já foram trazidos para Xinjiang em viagens bem programadas desde o final de dezembro para visitar as instalações.
Houve duas visitas de grupos, incluindo diplomatas europeus, a Xinjiang este ano. Um era um pequeno grupo de diplomatas da UE e o outro, por um grupo de diplomatas de uma ampla gama de países, incluindo missões da Grécia, Hungria e Norte da África, e estados do Sudeste Asiático.
Um jornalista da Reuters visitou em uma viagem organizada pelo governo em janeiro.
O funcionário dos Estados Unidos descreveu o que estava acontecendo em Xinjiang como “uma campanha altamente repressiva”, e disse que as alegações de que as instalações eram “centros humanitários de treinamento profissional” ou “internatos” não eram confiáveis.
“Continuaremos a pedir à China que ponha fim a essas políticas contraproducentes, liberte todos os que foram arbitrariamente detidos e cesse os esforços para coagir os membros de seus grupos minoritários muçulmanos residentes no exterior a retornarem à China para enfrentar um destino incerto”.
O Ministério das Relações Exteriores da China não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
No início deste mês, o Departamento de Estado dos Estados Unidos disse que o tratamento do PCC aos muçulmanos, em Xinjiang, marcou os piores abusos dos direitos humanos “desde os anos 1930”.
A administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pesou as sanções contra altos funcionários chineses em Xinjiang, incluindo o chefe do Partido Comunista, em Xinjiang, Chen Quanguo.
No final do ano passado, mais de uma dúzia de embaixadores de países ocidentais, incluindo França, Grã-Bretanha, Alemanha e o principal enviado da UE em Pequim, escreveram ao governo para buscar uma reunião com Chen para discutir suas preocupações sobre a situação dos direitos.
Duas fontes diplomáticas falaram à Reuters em 23 de março, que autoridades do governo disseram que uma reunião com Chen não estava sendo oferecida aos embaixadores europeus e que a viagem não foi para discutir os direitos humanos, mas para falar sobre a cooperação entre a China e a Europa no projeto Cinturão e Rota, do presidente Xi Jinping.
Ainda não está claro se eles aceitariam o convite, embora as duas fontes tenham dito que é improvável.
A embaixada da União Europeia em Pequim se recusou a comentar o convite.
Xi está atualmente na Europa em uma visita de estado à Itália, Mônaco e França. O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, vai a Bruxelas no próximo mês para uma cúpula China-UE.
Líderes da UE disseram na sexta-feira que o bloco deve reconhecer que a China é tanto concorrente quanto parceira.