Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
O contrabando de madeira das antigas florestas de Moçambique para a China está ajudando a impulsionar uma insurreição islâmica e o crime organizado no país da África Austral, de acordo com um relatório da Agência de Investigação Ambiental (EIA).
O comércio ilegal de madeiras nobres raras, envolvendo exportações multimilionárias para a China, viola a proibição de exportação de toras de Pequim, ao mesmo tempo que também financia jihadistas na província de Cabo Delgado, de acordo com um relatório de quatro anos divulgado em maio pela EIA, uma organização sem fins lucrativos com sede em Washington.
Terroristas afiliados à rede global do grupo terrorista ISIS têm realizado uma campanha brutal no norte de Moçambique durante a última década, matando milhares de pessoas e deslocando cerca de 1 milhão.
Ansar al-Sunna, também conhecido como ISIS-Moçambique e designado pelos Estados Unidos como um grupo terrorista global, quer transformar Cabo Delgado em um califado, uma forma islâmica de governo.
O grupo afirma lutar pelos direitos dos moradores empobrecidos contra o governo do presidente Filipe Nyusi, que acusam de não desenvolver a província apesar de seus vastos recursos.
As fontes de riqueza de Cabo Delgado incluem petróleo, gás natural, rubis e safiras.
A empresa de energia francesa Total construiu uma planta de liquefação de gás de US$ 20 bilhões na costa de Cabo Delgado.
A marca de joias Fabergé, pertencente ao Grupo Gemfields, detém 75% da mina de rubis de Montepuez na província. Em 2023, sua receita foi de US$ 167 milhões.
Desde 2017, terroristas do Ansar têm atacado cidades e vilarejos, realizando massacres, decapitações, estupros e sequestros. Casas e assentamentos foram destruídos por foguetes e incêndios criminosos.
Raphael Edou, gerente do programa África da EIA, disse ao Epoch Times que Cabo Delgado é o “lugar perfeito” para o crime organizado prosperar.
“Você tem uma aplicação da lei mínima, pobreza intensa, rotas de tráfico bem estabelecidas, atores estatais corruptos e agora terroristas”, afirmou.
Tropas de países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e de Ruanda estão atualmente em combate com os terroristas do Ansar.
A investigação da EIA é corroborada por um relatório recente do governo de Moçambique que afirma que os terroristas têm se aproveitado do comércio ilegal de madeira para “alimentar e financiar a reprodução da violência”.
O relatório aponta que os terroristas estão contrabandeando uma variedade de “recursos florestais e de vida selvagem”, incluindo madeira, principalmente para a China, o que está contribuindo para um “nível muito alto de arrecadação de fundos” para o Ansar.
Filimão Suaze, porta-voz do governo de Moçambique, disse ao Epoch Times que o grupo terrorista está arrecadando pelo menos US$ 2 milhões por mês com exportações ilícitas de pau-rosa para a China.
A EIA explicou que pau-rosa é um termo geral para várias espécies de árvores tropicais de madeira nobre que produzem madeira vermelha profunda. Na China, essa madeira é chamada de hongmu e usada para fabricar réplicas caras de móveis da Dinastia Ming.
A Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES), um acordo internacional entre governos, descreve o pau-rosa como o produto mundial mais traficado da vida selvagem, representando mais de um terço de todas as espécies contrabandeadas.
Moçambique, segundo o relatório, é o principal fornecedor de pau-rosa para a China.
O país enviou 20 mil toneladas métricas dessa madeira protegida internacionalmente para a China apenas em 2023, apesar de uma proibição de longa data à exportação de toras, informou a EIA.
Com isso, Moçambique ultrapassou Madagascar, Nigéria e Senegal como a principal fonte de pau-rosa para a China.
“As empresas madeireiras chinesas devastaram florestas de pau-rosa em toda a África, e Moçambique é o próximo da lista”, disse Gabriel Klaasen, ativista ambiental sul-africano, ao Epoch Times.
“A investigação da EIA expõe como a China está coludindo com autoridades corruptas em Moçambique para cometer crimes ambientais com lucros imensos, aproveitando-se também da insurreição em Cabo Delgado”.
Suaze, porta-voz de Moçambique, negou que autoridades do governo estejam envolvidas no corte e contrabando ilegais de pau-rosa.
Os relatórios da EIA afirmam que pelo menos 30% do pau-rosa em Moçambique cresce em florestas controladas por terroristas.
Outra organização ambiental, a Global Forest Watch, calculou que o corte ilegal de madeira nobre contribuiu para a perda de mais de 4 milhões de hectares de cobertura florestal em Moçambique nos últimos 20 anos.
Ela afirmou que o país perde o equivalente a 1.000 campos de futebol de cobertura florestal todos os dias.
“Uma proibição de exportação de toras está em vigor em Moçambique desde 2017, mas a China continua importando volumes enormes, a ponto de ser responsável por mais de 90% da madeira ameaçada de Moçambique”, disse Edou, gerente do programa África da EIA.
Investigadores da EIA rastrearam cerca de 300 contêineres de um tipo de pau-rosa conhecido como pau-preto do porto da Beira para a China entre outubro de 2023 e março de 2024.
Segundo o relatório, os carregamentos totalizaram 10 mil toneladas métricas de pau-rosa, avaliadas em mais de US$ 18 milhões.
Klaasen afirmou que grande parte da receita está “indo diretamente para os bolsos de terroristas que cometeram atrocidades terríveis”.
“Os terroristas estão permitindo que grupos de crime organizado acessem as florestas para cortar árvores e enviar a madeira para a China”, disse ele.
“Em troca, os terroristas recebem uma parte dos lucros. Todos ficam satisfeitos, exceto o povo de Cabo Delgado, que continua sujeito ao terror todos os dias”.
A China proibiu a exploração de pau-rosa nativo em 1998, após o corte descontrolado devastar os estoques locais.
Foi então que as empresas madeireiras chinesas se voltaram para a África, onde as leis muitas vezes não são aplicadas e onde as autoridades são suscetíveis à corrupção.
“Os chineses começaram na Gâmbia, em 2001. Levou menos de uma década para que o pau-rosa indígena desse país fosse declarado extinto”, disse Klaasen. “Depois, os chineses voltaram-se para países como Senegal e outros, onde a destruição continuou”.
A EIA afirmou que comerciantes chineses contornam as proibições de exportação usando várias táticas, incluindo misturar pau-rosa adquirido em Cabo Delgado com toras legais nos contêineres de transporte. Eles também rotulam incorretamente o conteúdo dos contêineres para esconder os carregamentos de pau-rosa.
O relatório cita as atividades do cidadão chinês Yu Guofa, descrito como um empresário com concessões de mineração e exploração florestal em Moçambique.
Yu reconheceu aos investigadores que pelo menos metade da madeira que ele comercializa é “não processada”, prática que viola a proibição de exportação de toras de Moçambique.
Ele confirmou que tem negociado toras não processadas de Cabo Delgado para a China e o Vietnã “há muitos anos” e que ajudou outras empresas chinesas a fazer o mesmo.
Yu disse à EIA que mantém relações próximas com Nyusi e alguns comandantes militares em Cabo Delgado.
Suaze afirmou que o presidente de Moçambique nega conhecer “qualquer pessoa chamada Yu Guofa”.
Jasmine Opperman, analista de segurança e ex-oficial de contrainteligência sul-africana, disse ao Epoch Times que as revelações da EIA “fazem muito sentido”.
“Ficou óbvio que esses terroristas têm fontes externas de financiamento, porque a insurgência continua a intensificar-se, apesar da presença das tropas da SADC”, afirmou.
“Os ataques recentes mostram que a campanha de terror está se espalhando para áreas até mesmo fora de Cabo Delgado. Minha informação é que Ansar al-Sunna está recrutando novos combatentes em todo Moçambique e até mesmo em países vizinhos, como a Tanzânia.
“Seria impossível fazer isso, e ter acesso a mais armas e munições, a menos que tivessem um canal regular de dinheiro”.