Nova regulamentação intensifica controle da internet na China

06/11/2017 14:29 Atualizado: 06/11/2017 14:29

O Partido Comunista Chinês (PCC) está determinado a continuar silenciando a dissidência na internet da China com suas “normas para a indústria de notícias” lançadas recentemente.

Em 30 de outubro, a principal agência do PCC encarregada da censura e do monitoramento da Internet, a Administração do Ciberespaço, publicou um anúncio dirigido ao conteúdo da internet criado pelos “serviços de informação de notícias da Internet”.

A partir de 1º de dezembro, os criadores de conteúdo da internet terão de manter posições políticas “corretas” e direcionar a opinião pública de maneira “correta”, segundo as diretrizes do PCC.

De acordo com o anúncio, eles deverão “insistir nas notícias do ponto de vista do marxismo e dos principais valores do socialismo”. As regras também serão aplicáveis às mensagens instantâneas e conteúdo de vídeo.

O ex-repórter do jornal chinês Zhejiang Youth Times, Wei Zhenling, disse que suas matérias eram editadas tantas vezes antes de serem aprovadas para publicação que no final ficavam irreconhecíveis.

“Você tem que ser o porta-voz do Partido. Você só informa o que o Partido permite. O que o Partido considera correto, você não pode considerar incorreto”, disse ele.

Wei acredita que as regras têm por finalidade acabar com qualquer espaço de livre expressão que ainda resta na internet.

O PCC quer censurar o conteúdo que ainda não conseguiu controlar completamente e quer que o público veja apenas a propaganda da mídia oficial, acrescentou.

No anúncio, a Administração do Ciberespaço também disse que as autoridades centrais e os escritórios locais da Administração do Ciberespaço manterão registros dos nomes dos criadores de conteúdo de notícias, elaborarão uma lista negra e implementarão um sistema que denunciará os autores de matérias jornalísticas que não respeitarem as regras gerais.

Cidadãos chineses e jornalistas independentes estão se voltando cada vez mais para a internet para publicar informações, e alguns deles podem se tornar alvo das autoridades chinesas.

Na China, a informação ainda é severamente restringida por um firewall e as autoridades chinesas constantemente censuram conteúdo que não se alinha com o Partido — desde política a meio ambiente ou qualquer outro assunto que possa prejudicar a imagem do PCC. Os funcionários das empresas de internet são contratados para monitorar o conteúdo e reportar os usuários que expressam discordância.

Em setembro, um jornalista que havia publicado um artigo na web sobre estudantes universitários desaparecidos na cidade de Wuhan foi preso pela polícia local. Seu artigo, que foi compartilhado muitas vezes, foi rapidamente removido da internet.

O ex-jornalista Wei observou que muitos cidadãos comuns conseguem coletar e divulgar informações em primeira mão na internet.

“Se você fizer um vídeo e o divulgar na internet, o PCC ainda não tem como controlar isso completamente. Por isso, agora ele está usando novos métodos como exigir o registro online com nomes reais ou estabelecer um sistema de crédito para registrar como alguém se comporta na web”.

Em setembro, por exemplo, um usuário do popular serviço de mensagens instantâneas WeChat divulgou indícios da existência de livros pirateados na coleção de uma reconhecida biblioteca de Pequim. Como resultado, a instituição foi fechada. Nesse caso, as autoridades se colocaram do lado do usuário do WeChat.

Mas se uma pessoa publica algo que as autoridades não aprovam, elas podem descobrir sua identidade imediatamente, já que os usuários do WeChat devem se registrar com um número de telefone celular.

Em maio, o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação ordenou que todos os operadores de companhias telefônicas exijam que seus usuários usem nomes reais ao se registrarem. Todas as pessoas que possuem telefones celulares também são obrigadas a fazer o mesmo.

Através do serviço chinês de microblogging semelhante ao Twitter chamado Sina Weibo, alguns usuários da Internet reagiram sarcasticamente à notícia.

Um usuário da província de Shanxi escreveu: “O cerco está se fechando e em breve só restarão o Diário do Povo, Xinhua e CCTV (todos porta-vozes do Estado)”.

Outro usuário da província de Shandong simplesmente escreveu: “Um país livre….”.

Colaborou: Xiao Lusheng

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