Nova liderança chinesa exclui principais membros da facção opositora

30/10/2017 11:31 Atualizado: 30/10/2017 11:31

O 19º Congresso Nacional terminou em 24 de outubro, concluindo assim uma semana de negociações para determinar a nova geração da liderança do Partido. Foram eleitos 204 membros do Partido Comunista Chinês (PCC) para ocupar cargos do Comitê Central. E os membros de alto escalão do Partido que foram excluídos têm uma coisa em comum: sua afiliação política com a facção opositora ao atual líder do Regime Chinês, Xi Jinping.

Han Zheng é uma exceção. Em uma conferência de imprensa realizada em 25 de outubro, revelou-se que o secretário do partido de Xangai foi escolhido para fazer parte da elite de sete membros do Comitê Permanente do Politburo, o mais alto órgão de decisão do Partido. Han teve uma longa carreira política em Xangai que começou no final da década de 1980, quando estabeleceu laços com Jiang Zemin, ex-chefe do Partido na região antes de se tornar líder do PCC. A cidade tornou-se conhecida como um terreno fértil para os aliados de Jiang.

O legado político de Han em Xangai carrega uma mancha. Dois grandes desastres irritaram os cidadãos locais: um incêndio em um apartamento em Xangai em novembro de 2010 que matou pelo menos 58 pessoas e o rompimento de uma represa em 2014 em que pelo menos 36 pessoas foram mortas. De acordo com a revista de Hong Kong, Cheng Ming, Han também usou fundos públicos e dinheiro de impostos para conceder habitação gratuita e luxuosa a funcionários departamentais ou de cargos ainda mais altos, mas parou de fazer isso quando Xi foi secretário do Partido na cidade por um breve período em 2007.

Deixar entrar Han e ao mesmo tempo excluir três funcionários da facção de Jiang — Zhang Dejiang, Zhang Gaoli e Liu Yunshan — do Comitê Central é um sinal de que Xi consolidou seu poder enormemente. Ele não só pode exercer melhor suas políticas em todo o país, mas também pode ampliar sua influência em Xangai, uma das cidades mais importantes da China. Na verdade, assim que Han deixar seu posto em Xangai para se juntar ao Comitê Permanente, Xi poderá escolher o substituto de Han.

Zhang Dejiang, Zhang Gaoli e Liu Yunshan eram membros do antigo Comitê Permanente do Politburo e galgaram suas poderosas posições graças à sua lealdade ao ex-líder do Partido, Jiang Zemin. Embora pareça que eles renunciaram naturalmente devido a uma regra tácita do Partido quanto à idade de aposentadoria — ninguém no Comitê pode ter mais de 67 anos de idade — suas saídas também foram um sinal de que Xi consolidou ainda mais seu poder contra Jiang. Desde que Xi assumiu o poder há cinco anos, ambos lutaram entre si para dominar o Partido.

Zhang Dejiang, anteriormente em terceiro lugar após Xi e o primeiro-ministro Li Keqiang no Comitê Permanente, também foi vice-chefe da Comissão Nacional de Segurança. Ele tinha raízes profundas fincadas em Chongqing, local de agrupamento das atividades da facção de Jiang, e foi o secretário do Partido na cidade entre março e novembro de 2012. Tanto seu antecessor Bo Xilai quanto seu sucessor Sun Zhengcai, tinham ligações com Jiang e consequentemente foram expurgados pela campanha anticorrupção de Xi. Apenas alguns dias atrás, Liu Shiyu, chefe da Comissão Regulatória de Títulos e Valores da China, acusou abertamente Bo e Sun, entre outros, de planejarem um golpe de Estado contra Xi.

Quanto a Zhang Gaoli, ele conquistou os favores de Jiang durante uma viagem de turismo ao Monte Tai. Zhang demonstrou sua lealdade fechando a área para os turistas, permitindo assim que Jiang desfrutasse da vista em particular. Zhang foi o chefe do comitê que supervisiona o projeto de infraestrutura “Um cinturão, um caminho”, iniciativa de Xi para abrir rotas comerciais com países da Europa e África. A editora de negócios chinesa Caixin Weekly insinuou que Sun estava sendo investigado por corrupção por ter desviado fundos da iniciativa.

Durante anos, Liu Yunshan, também membro do Comitê Permanente e chefe do Departamento de Propaganda, levou a cabo os planos de Jiang, incluindo a perseguição contra a prática espiritual Falun Dafa. Seu departamento de propaganda lançou campanhas difamatórias nos meios de comunicação estatais para caluniar o Falun Dafa e seus adeptos.

Falun Dafa, também conhecido como Falun Gong, é uma prática tradicional de auto-aperfeiçoamento, que ensina os princípios da Verdade, Benevolência e Tolerância, bem como uma série de cinco exercícios suaves de qigong. Em julho de 1999, Jiang lançou uma perseguição em nível nacional contra cerca de 100 milhões de adeptos da prática, com centenas de milhares sendo levados ilegalmente para prisões, campos de trabalhos forçados e centros de lavagem cerebral, de acordo com relatórios do Centro de Informação do Falun Dafa.

Nos últimos anos, Liu viu sua influência política ser gradualmente minada por Xi. Em outubro de 2014, durante o 4º Plenário do Comitê Central, o departamento de propaganda de Liu não realizou uma reunião-chave até o dia posterior à conclusão do plenário. Analistas de assuntos da China observaram que o atraso da reunião era uma forte indicação de que o departamento de propaganda havia perdido sua importância e status político.

Além da ausência de poderosos membros da facção de Jiang no Comitê Permanente, vários aliados-chave de Jiang também ficaram de fora do quadro da nova liderança. Men Jianzhu, ex-chefe do aparelho de segurança e membro da “gangue de Xangai”, grupo de funcionários que devem suas carreiras ao patrocínio político de Jiang, foi excluído do Comitê Central.

A Organização Mundial para Investigar a Perseguição ao Falun Dafa (WOIPFG, segundo a sigla em inglês), organização cuja missão seu nome deixa óbvio, elegeu Meng, Zhang Dejiang e Zhang Gaoli como os cabeças da perseguição.

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