Na véspera do Natal deste ano, dezenas de milhões de cristãos na China só podem celebrar suas datas religiosas mais importantes discretamente e com medo, já que o regime do Partido Comunista desencadeou sua mais severa repressão de Natal dos últimos anos. Os serviços em igrejas foram estritamente restringidos e monitorados por câmeras. Também houve relatos de árvores de Natal que foram derrubadas e autoridades locais inclusive patrocinando “protestos contra o Natal” para relegar os cristãos às sombras.
Numerosos relatos de toda a China indicam que funcionários do governo e do aparato de segurança foram mobilizados para suprimir as celebrações do Natal pelos cristãos chineses, de acordo com um relatório de 23 de dezembro da ChinaAid, uma ONG cristã com sede em Midland, Texas.
Num exemplo, o Departamento da Segurança Pública da cidade de Anqing, província de Anhui, Leste da China, emitiu um aviso em 21 de dezembro intitulado “Proibição de qualquer atividade relacionada ao Natal”. Ele ordenou que todas as avenidas comerciais e públicas “não criem qualquer atmosfera de celebração do Natal” e proibiu a exibição de qualquer árvore de Natal, Papai Noel ou item associado ao Natal.
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Em outro incidente que se teria ocorrido em Pequim, filmagens recentemente postadas na internet parecem mostrar uma grande árvore de Natal sendo derrubada por um grupo de homens vestidos de preto, esparramando pelo chão os vários ornamentos e guirlandas que caem da árvore.
Muitas igrejas foram desencorajadas e, em muitos casos, proibidas pelos governos locais de realizarem serviços ou celebrações para congregações na véspera ou no dia do Natal. Essa restrição no Natal ocorreu tanto nas “igrejas domésticas” como também nas “Igrejas dos Três-Autos”. As Igrejas dos Três-Autos são igrejas protestantes sancionadas pelo Estado chinês, elas são controladas institucionalmente pelo regime e supostamente representariam todos os cristãos na China.
O relatório da ChinaAid cita um fiel cristão na cidade de Heshan, província de Guangdong, Sul da China, que disse que funcionários do Departamento da Segurança Pública “assumiram o controle” de uma igreja local dos Três-Autos e instalaram várias câmeras de vigilância na entrada da igreja duas semanas antes do Natal.
A repressão é ainda mais severa para o grande número de igrejas domésticas em toda a China, que são consideradas ilegais pelo regime chinês. Uma mulher que frequenta uma igreja doméstica na cidade de Tonghua, província de Jilin, Nordeste da China, disse que o Departamento da Segurança Pública local proibiu “qualquer reunião cristã de mais de oito pessoas”.
Devido à intensa repressão, muitos cristãos na China mudaram a celebração do Natal para o início de dezembro, ou simplesmente decidiram não comemorá-lo em público. A ChinaAid publicou uma foto tirada por um fiel na província costeira de Zhejiang, que mostra a baixa frequência na ceia de Natal na igreja, provavelmente devido à pressão das autoridades.
‘Guerra ao Natal’
O Partido Comunista Chinês defende oficialmente uma ideologia ateia, baseada no marxismo-leninismo e no pensamento de Mao Tsé-tung, e proíbe que membros do Partido pertençam a qualquer religião. Apesar da oposição oficial à religião, a população cristã da China aumentou significativamente nos últimos anos e agora somaria dezenas de milhões segundo várias estimativas.
Acredita-se que a repressão renovada, descrita por alguns como a “Guerra ao Natal” na China, seja motivada, pelo menos parcialmente, pelo medo do regime chinês da influência religiosa ocidental, que ele percebe como uma ameaça potencial à sua ideologia estatal e, portanto, à estabilidade do regime.
A repressão do regime ao Natal vai além de impedir que cristãos chineses frequentem as igrejas. Funcionários do governo em muitos lugares orquestram e apoiam “protestos anti-Natal”, como um recentemente na província de Zhejiang, onde, de acordo com a ChinaAid, um grupo de “aposentados” desfilou com a bandeira nacional da China e vociferou frases como: “Boicotem o Natal!” e “Não ao Natal!”
Também foi relatado que membros da Liga da Juventude do Partido Comunista Chinês na Universidade do Sul da China na província de Hunan receberam uma ordem para não participar das comemorações relacionadas ao Natal, com base numa foto da carta enviada aos estudantes e que foi amplamente circulada no Weibo, uma plataforma chinesa semelhante ao Twitter.
A página oficial da Liga da Juventude Comunista no Weibo publicou uma mensagem na véspera do Natal que visava instruir os leitores sobre os vários eventos históricos relacionados à China que ocorreram em 24 de dezembro, o que parece querer sugerir que são mais importantes do que o Natal.
Um dos eventos mencionados é o “caso Shen Chong” de 1946, que diz respeito ao suposto estupro de uma jovem chinesa por soldados americanos estacionados em Pequim na véspera do Natal daquele ano. Esse incidente foi completamente desmascarado pelos historiadores como uma campanha de difamação fabricada pelo Partido Comunista Chinês para ser usada contra o governo nacionalista da China durante a guerra civil no país.