Muita dívida: perspectiva do grupo chinês Fosun recebe avaliação negativa

22/06/2016 12:27 Atualizado: 22/06/2016 12:27

A agência de avaliação de mercado Standard & Poors (S&P) reviu sua perspectiva sobre o conglomerado chinês Fosun International Ltd. de estável para negativa em 30 de maio.

“A alavancagem da Fosun aumentou substancialmente no último ano após a conclusão de aquisições”, afirmou a agência de classificação S&P em seu relatório.

O Fosun (0656.HK) é um conglomerado baseado na China com empresas nos sectores industrial e financeiro. O grupo quer se tornar primordialmente um holding de investimentos de seguros como o conglomerado Berkshire Hathaway do bilionário Warren Buffet. Desta forma, o Fosun começou a expandir seus negócios de seguros através da aquisição em 2015 das seguradoras Ironshore Inc. e Meadowbrook Insurance Group, baseadas em Bermuda e nos EUA, respectivamente.

“Esperamos que as empresas de seguros do Fosun parcialmente compensem o fraco desempenho de suas operações industriais e que a empresa mantenha um diversificado portfólio de negócios e ativos com qualidade satisfatória”, disse a S&P.

Operações industriais foram responsáveis por 81% da receita do Fosun em 2015. No entanto, com as aquisições recentes, a contribuição do segmento de seguros para sua receita aumentará para 30% em 2016, segundo estimativas da S&P.

A relação dívida-EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do Fosun, que mostra a posição de alavancagem da empresa referente às suas operações industriais, aumentou para 16.8x em 2015, em relação a 9.1x em 2014. Isso se compara a uma relação média de dívida-EBITDA de 2,1x para empresas do S&P 500.

A relação dívida-EBITDA é uma métrica comum usada por agências de classificação de crédito para avaliar a probabilidade de uma empresa dar calote em sua dívida. Quanto maior o valor, mais difícil se torna para uma empresa poder saldar sua dívida.

“A perspectiva negativa reflete nossa expectativa de que a alavancagem do Fosun continuará alta nos próximos 12 meses, apesar do foco na consolidação de seus investimentos atuais”, disse a S&P.

Guo Guangchang, o presidente do Fosun, participa de uma conferência em Hangzhou, na província de Zhejiang, leste da China, em 11 de dezembro de 2015. (Getty Images)
Guo Guangchang, o presidente do Fosun, participa de uma conferência em Hangzhou, na província de Zhejiang, leste da China, em 11 de dezembro de 2015. (Getty Images)

A S&P também afirmou que a avaliação de crédito corporativo de longo prazo do Fosun está atualmente em “BB”, que representa dois níveis abaixo do grau de investimento recomendável e que isso reduz sua classificação regional de longo prazo para a Grande China em um ponto ou para “cnBB +”.

O Grupo Fosun, liderado pelo bilionário chinês Guo Guangchang, deve muito do seu sucesso inicial ao regime do Partido Comunista Chinês (PCC). Mas nos últimos anos, quando o PCC tem enfrentado conflitos internos e incerteza econômica, o grupo tem tentado se desvencilhar de sua dependência no PCC.

O Fosun deslocou agressivamente seu capital para fora da China nos últimos anos, adquirindo empresas e imóveis na Europa e América do Norte. A empresa adquiriu as seguradoras Ironshore e Meadowbrook em acordos de mais de 2,2 bilhões de dólares em 2015. O Fosun também comprou empresas como Club Med e Cirque du Soleil.

Seu braço imobiliário adquiriu a 186 mil metros quadrados no One Chase Manhattan Plaza, no centro de Manhattan em Nova York, por 725 milhões de dólares em 2014. O Fosun gastou cerca de 10 bilhões de dólares comprando ativos em mercados de países desenvolvidos desde 2013, segundo um artigo da Bloomberg.

Guo cita o investidor americano Warren Buffett como fonte de inspiração e considera o conglomerado Berkshire Hathaway de Buffett como seu Santo Graal. Em 2011, Guo já tinha seus olhos voltados para a Berkshire Hathaway. Ele se referiu a si mesmo como um “aprendiz” de Buffett durante uma entrevista à CNBC. “Estamos aprendendo com seus métodos de investimento. Esperamos crescer com nossas próprias forças e nos tornarmos discípulos bem-sucedidos de Buffett na China”, disse Guo à CNBC.

Guo também é um dos magnatas chineses que está sendo investigado na campanha anticorrupção do atual líder chinês Xi Jinping. Guo desapareceu por alguns dias em dezembro de 2015 e reapareceu eventualmente depois de prestar assistência às autoridades, segundo relatos da mídia. Ele é suspeito de ter fortes laços com a família e principais assessores do ex-líder chinês Jiang Zemin.