Dentro do Partido Comunista Chinês, até mesmo os humildes funcionários nos níveis inferiores da burocracia do regime podem encher as mãos com milhões de yuanes por meio da corrupção.
Em 19 de dezembro, o jornal estatal Diário de Inspeção Disciplinar da China (DIDC), uma publicação do Comitê Central de Inspeção Disciplinar, a agência anticorrupção do regime chinês, publicou uma matéria detalhando um caso de corrupção envolvendo Yang Rongfu, o ex-vice-diretor do centro de serviços agrícolas em Diaopu, uma pequena área residencial na cidade de Taizhou, uma metrópole costeira na província de Jiangsu.
As responsabilidades de Yang incluíam a criação de políticas agrícolas regionais baseadas em dados econômicos locais; fornecer aos agricultores empréstimos, seguros e subsídios contra a pobreza; e divulgar e promover os produtos agrícolas locais.
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O escritório de Yang correspondia ao nível do subdistrito, estando entre os níveis mais baixos da hierarquia administrativa do regime chinês. Assim, Yang estava no patamar inferior da burocracia do Partido Comunista Chinês.
No entanto, Yang conseguiu pôr as mãos em 599 milhões de yuanes (cerca de US$ 90,1 milhões) e embolsar uma boa parte disso para si mesmo.
Em abril de 2012, ele começou a desviar fundos públicos, dinheiro destinado aos vilarejos locais. Yang concordou em emprestar 800 mil yuanes (cerca de US$ 121 mil) do dinheiro do governo a um homem de sobrenome Ji, que pagaria uma taxa de juros mensal de 1%. Ji mais tarde pagou o empréstimo com juros e depositou o dinheiro na conta pública do centro de serviços agrícolas.
Este empréstimo inicial foi o início de uma “cooperação” de longo tempo entre Yang e Ji.
No final de 2013, quando solicitou emprestar dinheiro novamente, Yang exigiu que a taxa de juros dos empréstimos fosse aumentada para 1,2%. Quando Ji pagou a soma, ele depositaria os fundos emprestados com apenas 0,6% dos juros na conta pública. E Ji entregaria os 0,6% restantes dos juros para Yang em dinheiro.
Gradualmente, o montante que Ji emprestou foi aumentando. Até setembro de 2015, Yang havia emprestado um total de 504 milhões de yuanes (cerca de US$ 76,3 milhões) para Ji, e em troca Yang embolsou cerca de 400 mil yuanes (US$ 60 mil) em juros.
Yang também emprestou fundos públicos a um secretário local do baixo escalão do Partido Comunista Chinês de sobrenome Chen, um total de 86,58 milhões de yuanes (cerca de US$ 13,1 milhões), e outros 8,5 milhões (cerca de US$ 1,3 milhão) para um empresário de sobrenome Cao. Não se sabe quanto Yang recebeu de Chen e Cao.
Para ganhar mais dinheiro, Yang inclusive investiu 200 mil yuanes (US$ 30 mil), que ele obteve por meio de seus esquemas, nos negócios de empréstimo de Ji para obter maiores ganhos.
Em março de 2016, depois que Ji falhou em pagar no prazo um empréstimo de 5,78 milhões de yuanes, Yang se entregou às autoridades locais do Partido Comunista Chinês em Diaopu.
Em junho de 2017, Yang foi condenado pelo Tribunal Popular do distrito de Gaogang a 11 anos de prisão por apropriação indevida de fundos públicos num total de 161 vezes, totalizando 599 milhões de yuanes (cerca de US$ 90,1 milhões). Depois que Yang apelou, o Tribunal Popular em Taizhou confirmou a sentença inicial, de acordo com o DIDC.
Funcionários do Partido Comunista Chinês como Yang são considerados “moscas” no jargão comunista chinês, ou seja, os funcionários de baixo escalão envolvidos em corrupção. Os altos funcionários são chamados de “tigres”. A partir de 2012, quando o líder chinês Xi Jinping assumiu o poder, até junho de 2017, sua campanha anticorrupção puniu mais de 1,34 milhão de funcionários do Partido em posições de nível distrital ou inferior.
Muito provavelmente, Yang não é a única “mosca” com as mãos em tanto dinheiro. Em março de 2017, Huang Huahui, o vice-diretor do escritório de segurança habitacional no governo municipal de Guangzhou, foi condenado à prisão perpétua por aceitar subornos totalizando cerca de 89 milhões de yuanes (cerca de US$ 13,4 milhões) para comprar 11 unidades habitacionais, de acordo com a Xinhua, uma mídia estatal porta-voz do regime chinês.
Outro caso envolveu Yu Fuxiang, um ex-secretário do Partido Comunista Chinês encarregado do Comitê do Partido no pequeno vilarejo de Shuguang, localizado em Harbin, capital de Heilongjiang, a província mais ao norte da China. Em agosto de 2017, ele foi considerado culpado de apropriação indevida de mais de 200 milhões de yuanes (cerca de US$ 30,2 milhões) em fundos públicos, de acordo com a Xinhua. Ele foi expulso do Partido e transferido para o sistema de justiça criminal para processamento.