Após a morte de um jovem universitário chinês na explosão de uma fábrica em Shanghai, a atenção do público voltou-se para a exploração frequente e difundida de estudantes no meio acadêmico chinês.
O Beijing News informou que Li Peng, um estudante de 25 anos da Universidade de Ciência e Tecnologia do Leste da China, morreu em 23 de maio junto com outros dois funcionários de uma fábrica de produtos químicos chamada Joule Wax Co. Ltd.
No mesmo dia, Li Huimin, a irmã de Li Peng, descreveu numa postagem na mídia social chinesa Weibo como Zhang Jianyu, o professor-orientador e chefe de seu irmão, forçou-o a trabalhar na Joule Wax enquanto se recusava a publicar os trabalhos acadêmicos exigidos para sua graduação.
A universidade anunciou em 27 de maio que Zhang Jianyu era o único acionista na Joule Wax.
Colegas e a irmã de Li Peng, cujo nome é idêntico ao de um ex-primeiro-ministro chinês, pensam que Zhang Jianyu tinha medo de perder o aluno se publicasse seu trabalho e, também, porque Zhang planejava usar as fórmulas químicas de Li Peng em seus próprios processos industriais.
“Meu irmão estava sob grande pressão por medo de Zhang não deixá-lo se graduar”, escreveu Li Huimin numa postagem no Tianya, um fórum popular na internet chinesa. “Zhang queria apropriar-se dos resultados da pesquisa do meu irmão e usá-los em sua empresa.”
A postagem de Li Huimin foi eventualmente excluída por censores chineses.
A família de Li suspeita que ele morreu quando realizava reações químicas perigosas na fábrica. Um colega, que não foi identificado, especula que o equipamento da fábrica era diferente dos instrumentos disponíveis para investigação no ambiente controlado de laboratório da universidade, o que poderia ter causado a explosão.
A família de Li está atualmente buscando compensação da universidade.
Comentários na internet sobre a tragédia de Li Peng condenaram a situação do meio acadêmico chinês e alguns descreveram suas próprias experiências.
“Meu irmão também está fazendo mestrado e ele diz que seu orientador coloca-o para trabalhar por pouco dinheiro enquanto fica com a maior parte do salário”, diz um comentário. “Por causa disso meu irmão não tem tempo para realizar os trabalhos que precisa para concluir sua tese. Vocês devem compreender a importância desses papéis para estudantes de pós-graduação.”
Outro internauta descreveu como orientadores acadêmicos usam seus alunos para vários “favores”. “Eu busquei o filho do meu orientador várias vezes e acompanhei-o para suas aulas extracurriculares. Joguei bola com a criança, apanhei seus familiares em estações de trem… Exemplos desse tipo em meus dois anos de graduação são inúmeros.”
Li Peng não é a primeira vítima de relações acadêmicas obscuras. Em janeiro deste ano, Jiang Huawen, um estudante de graduação de 25 anos na Universidade dos Correios e Telecomunicações de Nanjing, terminou sua vida pulando de um prédio. Especula-se que a morte de Jiang Huawen foi resultado de depressão porque seu supervisor retardou sua graduação em função de uma disputa sobre o salário de seu estágio.
A comercialização do meio acadêmico na China nas últimas décadas tem gerado corrupção nas instituições de ensino superior do país, diz Xie Tian, um professor da Universidade da Carolina do Sul—Aiken. “O problema na China é que a sociedade está presa numa atmosfera que favorece o abuso de poder para obtenção de ganhos pessoais. … Muitos desses hábitos corruptos se espalharam na academia.”
Ren Dong, um professor da Universidade Normal da Capital de Pequim, disse ao China News Digest, uma mídia chinesa baseada nos EUA, que muitos estudantes se sentem frustrados com seus orientadores coagindo-os a trabalhar ou realizar “favores” não relacionados com seus projetos de pesquisa ou graduação.