O modelo de negócios kamikaze da Huawei

"A Huawei é a 'ponta de lança' do Partido Comunista

25/01/2019 13:57 Atualizado: 25/01/2019 13:57

Por Nicole Hao, Epoch Times

Em sua análise do modelo de negócios da Huawei, o economista chinês Wang Shuangyi concluiu que a empresa de tecnologia atua como uma unidade kamikaze “gan si dui” ou “disposta a morrer” na estratégia de Pequim de dominar os mercados de todo o mundo.

“O modelo básico de negócios da Huawei pode ser resumido como uma fábrica clandestina [que funciona como] ‘a unidade disposta a morrer’ do Partido Comunista Chinês em um esquema Ponzi [global]”, escreveu Wang em seu artigo de 20 de dezembro de 2018.

Wang usou o termo “disposto a morrer” como referência ao ambiente de trabalho extremo da empresa, bem como a seu papel especial nas ambições econômicas do regime chinês. Sendo, pelo menos no papel, uma empresa privada, a Huawei pode realizar certas atividades que seriam muito arriscadas ou diplomaticamente inadequadas para uma empresa estatal chinesa.

“Sob a bandeira do patriotismo e devido à localização, a Huawei e outras [empresas chinesas] copiaram, plagiaram e roubaram” tecnologia de empresas estrangeiras, disse Wang. Eles aplicaram engenharia reversa à tecnologia estrangeira e “expulsaram os fornecedores estrangeiros da China”.

“Então, usando os lucros do mercado chinês e os diferentes tipos de subsídios da China, eles exercem uma dominação ativa nos mercados estrangeiros”, disse Wang. A chave para isso, segundo ele, é que os produtos da Huawei vêm com backdoors que proporcionam um canal de acesso para os hackers do regime chinês.

A Huawei é a “ponta de lança” do Partido Comunista, disse Wang. “Ela tem a responsabilidade de comprar e roubar tecnologia [estrangeira]”.

Wang prevê que, à medida que a natureza perniciosa do modelo Huawei se tornar mais evidente para os mercados e governos estrangeiros, ela enfrentará uma reação crescente às suas ações. Isso se refletiu com destaque na recente prisão da diretora financeira Meng Wanzhou pelas autoridades canadenses devido à suposta violação das sanções dos Estados Unidos contra o regime iraniano pela empresa chinesa.

O regime chinês reagiu fortemente à prisão de Meng, prendendo vários cidadãos canadenses na China e organizando protestos diplomáticos de alto nível. Ele também promoveu o boicote da empresa de roupas canadense Canada Goose entre o povo chinês. De acordo com Wang, isso mostra até que ponto o regime do PCC valoriza a Huawei por sua utilidade em coletar informações e expandir sua influência global.

Fases de expansão

Chen Lifang, membro do conselho e vice-presidente sênior da Huawei, disse em um discurso para os novos funcionários da empresa em abril que a China ainda está décadas atrás dos Estados Unidos em muitos campos da tecnologia.

“Nos instrumentos de precisão e equipamentos inteligentes, e também nos equipamentos de teste, a diferença é maior (…) para todos os dispositivos de teste, dependemos das importações”, disse Chen. “No que diz respeito ao equipamento proibido pelo Acordo de Wassenaar sobre o Controle das Exportações de Armas Convencionais e de Bens e Tecnologias de Dupla Utilização, nossos colegas que trabalham clandestinamente na linha de frente têm que se arriscar e contrabandear.”

Segundo Wang, a Huawei planejou três etapas para atingir os países desenvolvidos.

Na primeira etapa, durante a década de 2000, a Huawei copiou o software da Cisco, conglomerado de tecnologia multinacional norte-americano, e vendeu seu sistema por menos da metade do preço original. A Cisco processou a Huawei, mas o forte endosso do regime do PCC significou que a empresa norte-americana dificilmente poderia vencer no tribunal.

Enquanto isso, a propaganda chinesa promoveu a Huawei como uma empresa patriótica e alegou que o uso de produtos da Huawei era patriótico.

Na segunda etapa, a Huawei expandiu seus negócios no exterior, sem levar em conta as leis e regulamentações internacionais. O principal concorrente da Huawei nesta etapa era a ZTE, uma empresa de telecomunicações estatal e a segunda maior fabricante de equipamentos de telecomunicações na China.

“Lutamos muito para competir com a Huawei na África”, disse Lu J., gerente de projetos da ZTE, ao Epoch Times. De acordo com Lu (seu nome completo não será divulgado para proteger sua identidade), tanto a Huawei quanto a ZTE lançam mão de subornos no mercado global, mas a Huawei está disposta a dar mais. “Eles são muito generosos.”

A Huawei e a ZTE têm outra vantagem que não está disponível para as empresas dos Estados Unidos.

O regime do PCC financia projetos de infraestrutura em outros países. Parte das condições para participar desse desenvolvimento é que o país anfitrião tem que instalar equipamentos fabricados na China. Isso resultou em uma grande participação da Huawei e da ZTE no mercado da África, da América Latina e em outras regiões em desenvolvimento.

A terceira etapa envolve o desenvolvimento dos planos do PCC, desde forçar empresas estrangeiras na China a entregar sua tecnologia, até recrutar especialistas e cientistas estrangeiros para trabalhar nas empresas chinesas.

“Sendo uma empresa privada, a Huawei parece independente. Investindo em institutos na Europa e na América do Norte e ajudando universidades, ela obtém tecnologia deles”, escreveu Wang.

Além de estabelecer programas de cooperação com universidades e institutos estrangeiros, a Huawei também estabelece centros de pesquisa no exterior que podem se beneficiar da tecnologia de ponta produzida localmente.

“Experts militares do PCC podem inclusive se apresentar como funcionários da Huawei e receber treinamento em universidades europeias e americanas”, disse Wang. “A equipe da Huawei desempenha um papel fundamental nos ataques cibernéticos do Partido.”

Custo humano

Nos últimos anos, tem havido muitos relatos a respeito de funcionários da Huawei que se suicidaram ou que morreram devido ao excesso de trabalho, ou que foram demitidos por causa da idade ou de alguma doença.

“A Huawei enfatiza a cultura do lobo”, disse Wang. “Ela demite em massa os empregados com mais de 35 anos de idade.”

Xie Ting, uma jovem viúva, publicou um longo post em 25 de dezembro de 2018 para lamentar a morte de seu marido Qi Zhiyong, engenheiro da Huawei de 36 anos que morreu no Quênia por excesso de trabalho.

Xie disse que Qi não teve permissão para tirar férias por 22 meses seguidos.

“Uma semana antes de sua morte, ele me enviou uma mensagem pelo WeChat e me disse que não tinha terminado a migração da rede. Dois dias antes de morrer, ele trabalhou dia e noite”, disse Xie.

Após a morte de Qi, a Huawei se recusou a compensar Xie e seus dois filhos pequenos, ambos com menos de dez anos.

“O gerente de Recursos Humanos da Huawei no Quênia, o representante no Quênia e o diretor de recursos humanos da sede da Huawei me disseram que eu posso registrar uma queixa e reivindicar indenização”, escreveu Xie. “Mas como uma mãe solteira pode ter dinheiro, tempo ou energia para processar um grande conglomerado multinacional?”