Lutas de facções por trás das mudanças no Conselho de Estado da China

19/03/2013 15:15 Atualizado: 26/01/2018 19:11

A mudança de liderança no gabinete da China sinaliza uma mudança de poder significativa nos altos escalões do regime. Os novos nomeados são em sua maioria aliados do novo líder chinês Xi Jinping e de seu antecessor Hu Jintao, enquanto o ex-líder chinês Jiang Zemin não foi capaz de posicionar quaisquer de seus asseclas.

O Congresso Popular Nacional da China, o legislativo-carimbo do Partido Comunista Chinês (PCC), confirmou o secretário-geral Xi Jinping como o novo chefe de estado em 14 de março e o vice-secretário Li Keqiang como primeiro-ministro no dia seguinte.

Também foi anunciada uma nova configuração de oficiais no Conselho de Estado, incluindo nove novos ministros e quatro novos vice-primeiros-ministros, principalmente aliados de Xi Jinping e Hu Jintao, o que indica que eles estão tendo sucesso em minimizar a influência de Jiang Zemin e sua camarilha.

Li Yuanchao foi nomeado vice-presidente, após Xi Jinping rechaçar a proposta de Jiang Zemin de instalar o chefe da propaganda Liu Yuanshan.

Entre os quatro novos vice-primeiros-ministros, Ma Kai é o protegido do ex-primeiro-ministro Wen Jiabao e era ministro do planejamento econômico após Wen Jiabao assumir o cargo de premiê. Wang Yang, uma figura-chave da Liga da Juventude Comunista, também compõe a base de poder de Hu Jintao. Liu Yandong, a única mulher no Politburo do PCC, também é considerada forte aliada de Hu Jintao.

Novos ministros

O Conselho de Estado lançou um plano de reestruturação institucional em 10 de março, com o número de ministérios reduzidos a 25, dois a menos do que antes.

Dos 25 membros, nove são novos nomeados, incluindo o ministro das finanças Lou Jiwei, o ministro das relações exteriores Wang Yi e o ministro da defesa Chang Wanquan.

Lou Jiwei subiu a escada do PCC sob o patrocínio do ex-premiê Zhu Rongji; Wang Yi é um protegido de Wen Jiabao; e Chang Wanquan foi promovido a general do Exército da Liberação Popular e mais tarde a membro da Comissão Militar Central durante a era Hu Jintao.

Outro protegido de Wen Jiabao é Xu Shaoshi, o novo ministro da Comissão de Desenvolvimento Nacional e Reforma. Wen Jiabao e Xu Shaoshi trabalharam para o Ministério da Terra e Recursos nos anos 1980 e desde então têm um relacionamento próximo.

Gao Hucheng, o novo ministro do comércio, foi assistente de Wu Yi, ministro do Comércio Exterior e Cooperação Econômica em 1997 e vice-premiê entre 2003-2008.

Fusão de ministérios

No plano de reestruturação institucional do Conselho de Estado, o Ministério da Saúde foi fundido e o das Ferrovias desmontado.

O Ministério da Saúde e a Comissão de Planejamento Familiar foram fundidos na nova Comissão Nacional de Saúde e Planejamento Familiar. Consequentemente, o cargo do vice-ministro da saúde Huang Jiefu foi eliminado.

O Ministério das Ferrovias, notório por corrupção desenfreada, foi abolido. As funções administrativas relativas às políticas e ao desenvolvimento ferroviário agora serão coordenadas pelo Ministério dos Transportes. A proposta Corporação Ferroviária da China se encarregará da função comercial do ministério desmantelado.

O Ministério das Ferrovias foi frequentemente descrito por observadores como “um Estado dentro do Estado” e estava sob o controle da facção de Jiang Zemin, segundo Willy Lam, um observador de longa data da política chinesa.

Shi Zangshan, um comentarista independente sobre assuntos políticos chineses, chamou a atenção para as duas grandes reestruturações em torno do ex-líder chinês Jiang Zemin. “O Ministério das Ferrovias era controlado por oficiais corruptos da facção de Jiang Zemin”, disse Shi Zangshan ao Epoch Times. “A reorganização do Ministério da Saúde e a perda do cargo de Huang Jiefu não aconteceram por acidente.”

Durante anos, Huang Jiefu foi o rosto público do programa de transplante de órgãos da República Popular da China. Enquanto isso, dezenas de milhares de órgãos foram colhidos à força de prisioneiros da consciência, a maioria deles praticantes do Falun Gong. Jiang Zemin está intimamente associado com a perseguição ao Falun Gong, uma vez que esta foi sua campanha política particular lançada em 1999 embora continue até hoje.

Shi Zangshan comentou, “O fato de que dois ministérios com laços estreitos com a facção de Jiang Zemin tenham sido alvejados indica que o plano de reestruturação é a purgação de facção de Jiang Zemin em nome da reforma.”