Depois de percorrer 4,5 quilômetros no frio, um aluno chinês da terceira série entrou em sua sala de aula, em 9 de janeiro, com a cabeça cheia de geada. Seu professor confuso tirou uma foto e postou online. Ele não esperava que houvesse um debate acalorado sobre a extrema pobreza na China, o que foi seguido por uma resposta dos propagandistas do regime chinês, que astuciosamente banalizaram a questão com a clássica retórica comunista, que efetivamente enterrou a narrativa inicial.
Wang Fuman, de oito anos, mora numa casa simples de barro com sua avó e irmã mais velha, no condado de Ludian, na província de Yunnan. Sua mãe “desapareceu” um dia e seu pai é um trabalhador migrante que não mora em casa. Para chegar à escola, o jovem Wang anda mais de uma hora, o que não é nada fácil no inverno, especialmente quando não se tem roupas quentes. Fazia cerca de -9 graus Celsius na manhã de terça-feira quando esta foto foi tirada.
A picture of a young boy with his hair frozen went viral and attracted thousands of people’s attention. He walked over one hour, 4.5 kilometers, in minus 9 degree temperature to reach his school. pic.twitter.com/8ouQOUxNkk
— China Review Studio (@ChinaLifeng) January 10, 2018
A foto de Wang com seus cabelos e sobrancelhas incrustados de gelo se difundiu viralmente na internet e atingiu um ponto sensível para o regime chinês, cujos funcionários de alto escalão são sinônimos de peculato, suborno e corrupção.
Mais da metade da população da China vive na pobreza, fato que o regime chinês quer manter em sigilo. Por exemplo, 1,5 milhão de moradores foram removidos de suas casas, agora demolidas ou deslocadas, antes das Olimpíadas de Pequim de 2006, porque a China queria exibir uma imagem falsa para os visitantes estrangeiros e mostrar os vistosos edifícios do Oriente. Então, quando a foto de Wang, o “menino de gelo”, foi superdivulgada tanto na China quanto no exterior, os demagogos da China responderam rapidamente.
Wang não é mais o símbolo da pobreza rural, pois agora ele está sendo usado como garoto propaganda pelo Partido Comunista Chinês. O menino de 8 anos foi convidado para ir a Pequim e saudado como um herói patriótico. Ele foi fotografado agitando a bandeira comunista e fazendo um juramento de lealdade ao Partido Comunista Chinês. Ele foi fotografado usando equipamento policial antichoque e expressou sua intenção de se tornar um policial quando crescer.
Ele provavelmente não tem a menor ideia de que a polícia chinesa foi instruída e ainda executa as políticas genocidas do ex-líder chinês Jiang Zemin para “eliminar” os praticantes do Falun Gong — que são um grupo de pessoas pacíficas que praticam a verdade, a compaixão e a tolerância — prendendo-os arbitrariamente, torturando-os e usando-os como bancos de órgãos vivos, sendo mortos ou mutilados sob demanda para abastecer o hediondo mercado de transplante de órgãos do regime chinês.
Ao tratar o menino como uma celebridade, o regime chinês não apenas visa reforçar sua própria reputação entre a população como se estivesse “lutando pelo povo”, como também faz do “menino de gelo” um guerreiro da luta contra as condições difíceis de frequentar uma escola na China, quando a corrupção e a ideologia do regime são as principais razões para a existência de escolas precárias e frequentemente desabando, os incessantes escândalos de abuso sexual infantil, e a doutrinação político-ideológica perniciosa. Essa mudança de foco tem efetivamente banalizado e silenciado o debate sobre a verdadeira e incapacitante pobreza na China.