Investimentos chineses na América Latina podem se tornar ativos militares contra EUA

20/10/2017 14:19 Atualizado: 24/10/2017 10:55

A crescente influência econômica da China e a frenética aquisição de infraestrutura na América Latina poderiam facilmente se tornar ativos críticos para serem usados contra os Estados Unidos em caso de conflito militar, de acordo com um pesquisador que estuda a participação da China na região.

A América Latina torna-se cada vez mais uma região estratégica para as intenções da China de construir um ponto de apoio no Hemisfério Ocidental, declarou o Dr. Evan Ellis, professor e pesquisador de Estudos Latino-americanos no Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade de Guerra do Exército dos Estados Unidos.

Na quarta-feira (18), ao falar em um evento do Instituto Hudson, Ellis explicou que, embora os objetivos declarados da China e muitas de suas atividades observáveis na América Latina até agora se concentrem mais em questões econômicas, a magnitude e extensão da participação do regime comunista na região poderia ter motivações militares.

Assim como foi observado no sudeste asiático e na África, a China vem comprando freneticamente infraestrutura e outros ativos estratégicos importantes na América Latina nos últimos anos, muitos dos quais foram adquiridos através de empresas estatais chinesas, financiadas com dinheiro do regime.

Tomando o Brasil como exemplo, Ellis mostrou que a China adquiriu 87 grandes projetos no valor de US$ 46,8 bilhões no país em todas as principais áreas dos setores público e privado, incluindo usinas hidrelétricas, portos marítimos, aeroportos, empresas agrícolas, empresas de telecomunicações, hospitais e bancos.

Ellis disse que a expansão da China na América Latina deveria servir como advertência para os que tomam as decisões de segurança nacional dos Estados Unidos. Os países latino-americanos, antes considerados “quintais dos Estados Unidos”, agora estão devorando o dinheiro chinês e entregando a propriedade e o controle de sua infraestrutura e ativos críticos.

Tudo o que a China adquiriu e procurou adquirir na América Latina poderia ser usado contra os Estados Unidos “na eventualidade de um conflito com a China”, disse Ellis. “Se eu fosse um tomador de decisões do Exército Popular de Libertação do Povo da China (EPL), eu começaria a olhar o mapa [latino-americano] e me perguntaria o que podemos fazer”.

Se não conseguimos que a Organização dos Estados Americanos (OEA) atue na Venezuela, dada a ridícula situação que vive esse país, como esperamos que essas empresas e países que estão profundamente envolvidos com os chineses apoiem os Estados Unidos? A Venezuela continua sendo um dos aliados mais próximos da China, apesar de a economia socialista do país ter fracassado, provocando uma crise humanitária.

Ellis ressalta que a China definiu suas relações com muitos Estados que pretende seduzir — dos quais existem sete na América Latina — como “alianças estratégicas”, termo que parece misterioso para a maioria dos observadores ocidentais, mas que na realidade é muito significativo. Argentina, México, Brasil, Venezuela, Equador, Chile e Uruguai são os países latino-americanos incluídos nesta lista.

Em 2016, enquanto os Estados Unidos estavam distraídos com suas próprias eleições, a China elevou silenciosamente seis desses sete países (todos exceto o Brasil) à categoria ainda mais alta de “parcerias estratégicas integrais”, o que significa que Pequim agora vê com um nível muito maior de importância estratégica suas relações com esses países.

Ellis disse que as aquisições estratégicas da China poderiam permitir ao país se aproximar de “portos e pontos de abastecimento nos Estados Unidos que estão muito perto das instalações comerciais da China [na América Latina]” e que os tomadores de decisão dos Estados Unidos precisam pensar nas implicações potenciais de tais expansões.

Por exemplo, a apenas 105km da costa dos Estados Unidos, empresas chinesas investiram US$ 10 bilhões em instalações de contêineres, instalações de distribuição logística, instalações aéreas e até mesmo um hotel de US$ 4,2 bilhões nas Bahamas.

De acordo com Ellis, a expansão da China na África fornece muitas pistas sobre como os chineses pretendem usar esses ativos uma vez que um ponto de apoio suficientemente grande seja estabelecido. Usando as operações de combate antipirataria como pretexto, a China construiu uma enorme base naval no Djibouti, no Chifre da África, oficialmente inaugurada em agosto de 2017.

“A velocidade com que a China está adquirindo e estabelecendo essas bases comerciais [na América Latina] pode fácil e rapidamente converter uma base não militar em uma base militar operacional”, disse Ellis, fazendo uma severa advertência.

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