Instalações de quarentena COVID-19 da China são como ‘campos de concentração’

Por Sophia Lam
14/11/2022 17:18 Atualizado: 14/11/2022 20:11

Um empresário no Tibete criticou as autoridades do partido comunista chinês por causar desordem na região com suas políticas de “COVID-Zero”, descrevendo as instalações de quarentena da China como “campos de concentração”.

O Partido Comunista da China (PCCh) impôs medidas rigorosas de lockdown contra a COVID-19 no Tibete desde o início de agosto.

Xiao Wang (pseudônimo), que tem feito negócios em Lhasa, capital do Tibete, é residente da cidade de Leshan, na província de Sichuan, sudoeste da China.

Ele foi forçado a se isolar em uma instalação de quarentena improvisada no Tibete, por 25 dias, depois que seu teste de PCR deu negativo no primeiro, mas positivo em seguida.

“Não posso deixar de chorar depois de experimentar o lockdown. Tenho muito a dizer, mas fico sem palavras quando falo sobre isso, e também estou com medo ”, disse Wang à edição em chinês do Epoch Times em 9 de novembro.

Medidas de COVID-Zero “uma bagunça”

Wang foi pela primeira vez ao Tibete com sua esposa em março para fazer negócios na região de alta altitude. Eles não esperavam ficar presos nos lockdowns contra a COVID-19 do governo na região. Wang criticou as medidas de gerenciamento do COVID por serem, nas suas palavras, “uma bagunça”.

“Toda a cidade de Lhasa está uma bagunça”, disse Wang ao Epoch Times na entrevista.

Ele foi obrigado a fazer exames PCR consistentemente desde que o governo municipal lançou sua política de testes em massa para os moradores.

Em um dia, ele recebeu dois resultados conflitantes de um único teste

“No início da manhã, foi negativo. Mas depois, acabou sendo positivo, só que os os dois resultados vieram da mesma amostra de teste”, disse Wang.

As autoridades então decidiram isolá-lo em uma instalação de quarentena, conforme ele relata: “Antes de sair, tive que fazer um teste de antígeno. E o resultado do teste foi negativo, mas eles ainda me levaram para a instalação de quarentena”.

“O governo disse que eu estava infectado [com o vírus que causa a COVID], mas eu diria que é apenas uma decisão arbitrária do governo. Eles decidem quem vai ficar em quarentena à vontade.”

Durante seus 25 dias de isolamento, de 16 de setembro a 10 de outubro, Wang diz que não apresentou nenhum sintoma de COVID-19 e o resultado da tomografia computadorizada do tórax foi normal,.

A viagem para a instalação de quarentena foi difícil, segundo ele: “Fica a cerca de 16 quilômetros de distância, mas o ônibus de transferência levou cerca de oito horas na estrada”.

Ele acrescentou que o ônibus estava lotado com mais de 50 pessoas, velhos e jovens, amontoados. “Por mais de oito horas, ficamos lotados naquele ônibus. Eu me senti sem esperança e com o coração partido”.

Em 10 de outubro, Wang foi liberado da instalação de isolamento e transferido de volta para casa. Ele conta que essa viagem foi igualmente difícil.

“Tive que trocar cinco vezes de ônibus no caminho de volta para casa. Um ônibus me levou a um lugar e eu desci dele, esperei para registrar minhas informações, depois peguei outro ônibus, desci em outro lugar e esperei e me registrei novamente, cinco vezes antes de finalmente chegar em casa ”, disse Wang.

Epoch Times Photo
Um adorador tibetano observa um policial chinês patrulhando em frente ao Palácio de Potala, em Lhasa, Tibet, China, antes do revezamento da tocha olímpica de Pequim em 20 de junho de 2008. (Guang Niu/Getty Images)

Instalações de quarentena são ‘campos de concentração’

Wang disse que foi levado primeiro para uma instalação de isolamento improvisada que foi montada no campus da Universidade de Medicina Tibetana.

“Os prédios acadêmicos e os dormitórios estavam cheios de pessoas isoladas e centenas de pessoas dormiam juntas”, ele conta. “Esses lugares podem ser chamados de instalações de isolamento improvisadas? São campos de concentração!” disse ele, citando as condições precárias e inadequadas.

Mais tarde, ele foi transferido para outra instalação de isolamento improvisada que, segundo ele, era tão ruim quanto a primeira: “Centenas de milhares de pessoas estão isoladas nesses ‘locais de isolamento’, o que não tem sentido”.

Ele disse que eles receberam pouco tratamento médico enquanto estavam lá.

“Pessoas com temperatura corporal acima de 40℃ não receberam nenhum tratamento médico. Uma jovem, que era estudante, morreu de febre alta em uma instalação de quarentena”, disse Wang.

Ele disse ao Epoch Times que nas instalações improvisadas de quarentena, eles receberam uma cama e apenas isso. Eles tinham que fazer exames PCR todas as manhãs. Se alguém tivesse sintomas, eles eram orientados a beber água da torneira.

“O remédio que recebemos é Lianhuaqingwen [cápsulas ou grânulos], mas não queremos tomá-lo”, disse Wang.

Lianhuaqingwen é uma medicina tradicional chinesa que o PCCh afirma ser eficaz no tratamento da COVID-19. O produto não é aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA.

Wang está de volta à sua cidade natal na província de Sichuan. Ele está atualmente em quarentena em um centro de isolamento improvisado em Leshan, após o qual deve ficar em quarentena em casa por mais quatro dias. Ele disse que só conseguiu sair de Lhasa depois que os protestos contra os estritos bloqueios de COVID zero eclodiram na cidade.

VOA relatou o protesto em 28 de outubro, descrevendo-o como “raro” devido ao fato de Lhasa ser uma “cidade fortemente policiada”.

O PCCh anunciou o surto no Tibet em 8 de agosto e bloqueou partes de Lhasa e duas outras cidades tibetanas em 9 de agosto, ordenando testes em massa para todos os residentes nas três cidades. As autoridades locais anunciaram a flexibilização gradual das restrições em 11 de novembro, o que não significa um “levantamento das restrições”, de acordo com um aviso no site oficial do governo municipal de Lhasa.

O aviso também dizia que as pessoas que não obedecem à exigência de usar máscaras faciais ou que não fazem testes de PCR estão violando a lei.

De acordo com o comitê de saúde do Tibete, Lhasa relatou oficialmente dois casos assintomáticos em 12 de novembro. O principal órgão regional de saúde disse que existem duas áreas de alto risco na região, mas estranhamente não nomeou as cidades afetadas.

Moradores de áreas de alto risco foram proibidos de deixar suas casas.

Xia Song, Gu Xiaohua e Hong Ning contribuíram para esta notícia.

 

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