Por Daniel Holl, Epoch Times
A iniciativa chinesa “Um Cinturão, Uma Rota” (OBOR, na sigla em inglês) está causando preocupação e críticas devido a seu impacto negativo sobre várias nações e empresas. O projeto tornou muitos países receptores altamente endividados com Pequim e permitiu que o regime chinês exportasse seu modelo autoritário de governo através de seus equipamentos de vigilância.
A iniciativa OBOR é um plano agressivo de construção de infraestrutura em muitos países asiáticos, africanos e da União Europeia. Ela estabeleceu projetos semelhantes em países da América Latina e já está de olho na região da Ásia-Pacífico.
Empresas e bancos chineses estabeleceram formas de ganhar soberania nas nações por meio de projetos de construção e concessão de empréstimos.
O presidente de uma operadora portuária internacional acusou empresas chinesas de práticas comerciais abusivas em entrevista à CNBC. O sultão Ahmed bin Sulayem, presidente da DP World, falou sobre como ele vê as ações das empresas chinesas no exterior.
“Eles adotaram práticas abusivas no que hoje é chamado de ‘armadilha do endividamento’, através do qual eles aumentam as dívidas dos países e finalmente se apoderam de seus recursos”, disse Bin Sulayem à CNBC.
A DP World, sediada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, é uma das maiores operadoras portuárias do mundo. De acordo com a CNBC, a DP World entrou com uma ação contra a China Merchants Port Holdings no Supremo Tribunal de Hong Kong devido à aquisição ilegal de terras por parte da empresa chinesa e por ela ter induzido o Djibouti a romper os acordos com a empresa de Dubai.
Além dos meios legais, os países ou empresas afetados se opõem de outras formas. A administração Trump começou a implementar iniciativas com o objetivo de oferecer projetos de infraestrutura aos países que a China está afetando através do OBOR.
Países endividados: diplomacia da armadilha do endividamento
A China usa grandes projetos de infraestrutura OBOR para inserir bilhões de dólares em economias emergentes. Ao mesmo tempo, grande parte do financiamento é feito através de empresas de crédito chinesas, o que coloca em risco a soberania de uma nação. A China frequentemente exige os recursos do próprio país como forma de pagamento.
Jeff Smith, especialista em Ásia Meridional da Heritage Foundation, disse que países como Djibouti, Quirguistão, Laos, Maldivas, Mongólia, Montenegro e Paquistão estão com sérios problemas de endividamento com a China, de acordo com um relatório do Epoch Times. A produção interna de muitos desses países não é suficiente para pagar a elevada dívida contraída graças aos projetos de infraestrutura da China.
Um dos países mais recentemente ameaçados é o Quênia. Se os empréstimos usados para construir um sistema ferroviário no país não forem pagos, a China não apenas controlará os trens, mas terá direito soberano sobre o Porto de Mombasa, o maior porto da África Oriental.
De acordo com imagens de satélite divulgadas em 10 de setembro de 2018, o Partido Comunista Chinês (PCC) já instalou uma base militar em Djibouti, pequeno país africano que faz fronteira com o Mar Vermelho. Em 13 de novembro de 2018, dois senadores norte-americanos expressaram preocupação com as consequências políticas e militares se a China assumir o controle do porto em Djibouti, já que isso aumentará enormemente a influência chinesa na África Oriental.
A população do Sri Lanka protestou em setembro de 2018 devido à incapacidade de seu governo de pagar as dívidas e por entregar um porto tão importante para o regime chinês. Em dezembro de 2017, o governo do Sri Lanka ofereceu uma concessão de 99 anos sobre o principal porto de Hambantota para Pequim, em um plano para converter os empréstimos devidos de US$ 1,4 bilhão em capital. Esse movimento permitiu que o PCC ganhasse controle sobre o Oceano Índico.
Pequim também participou da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico em novembro de 2018, onde o líder chinês Xi Jinping apresentou a iniciativa OBOR aos países do Pacífico que necessitam de infraestrutura.
Embora os países latino-americanos não estejam tecnicamente incluídos nas políticas do OBOR, projetos semelhantes também estão sendo oferecidos a eles. O Equador foi vítima recente dos acordos de infraestrutura da China por conta de uma barragem mal construída que já está desmoronando na selva montanhosa, além de contrair uma dívida de US$ 19 bilhões com os chineses.
Exportando a ditadura
O PCC usa o projeto OBOR não apenas como um meio de obter um benefício econômico por si só, mas também como uma rede de controle e vigilância que está sendo exportada para as nações receptoras.
A Huawei, que está sob investigação por violar as sanções dos Estados Unidos contra o Irã e por exportar equipamentos de vigilância, aproveitou o projeto OBOR. A Huawei foi contratada para construir cabos submarinos e redes 5G que conectam nações entre si, mas que atualmente está perdendo terreno devido a problemas de segurança.
Duas grandes empresas chinesas de tecnologia, a Huawei e a ZTE, desenvolveram sistemas de vigilância em massa para ajudar o PCC a controlar sua população. Essas mesmas tecnologias estão sendo exportadas pela iniciativa OBOR. A Venezuela foi investigada em dezembro de 2018 por usar a tecnologia da ZTE para rastrear seus cidadãos.
Uma comissão bipartidária norte-americana disse ao Congresso que os Estados Unidos deveriam criar um fundo para combater as relações financeiras da China com o projeto OBOR. Isso seria usado para evitar que a China exporte seu “modelo ditatorial de governo”, disse a comissão ao Congresso em 14 de novembro de 2018.