Por Heng He
Huang Xiangmo, um multimilionário e proeminente líder da comunidade chinesa na Austrália, recentemente teve seu pedido de cidadania australiana negado e sua residência permanente revogada.
A mídia australiana revelou que ele havia feito doações para políticos na tentativa de convencê-los a impulsionar políticas amigáveis em relação a Pequim. Esta é a primeira ação que a Austrália toma contra os agentes comunistas chineses depois que o país adotou uma legislação contra a intervenção estrangeira. De fato, esta ação é a primeira do tipo que é publicamente documentada em um país ocidental, e sua importância não pode ser ignorada.
Huang foi presidente do Conselho Australiano para a Promoção da Reunificação Pacífica da China (CPPRC, na sigla em inglês), uma organização do Partido Comunista Chinês, até que a mídia australiana expôs sua conexão em 2017.
A julgar pelo nome da organização, ela parece inofensiva. Afinal, ela promove a unificação pacífica entre a China Continental e Taiwan. No entanto, seus verdadeiros motivos e propósitos são mais insidiosos.
O regime chinês considera Taiwan parte de seu território, apesar de ser uma ilha autônoma. O regime promulgou uma política de uma só China para pressionar outros países a reconhecerem apenas a China Continental em suas relações diplomáticas.
Mas o reconhecimento diplomático e a promoção da unificação não são a mesma coisa. Quase todos os países em que existe a organização CPPRC diplomaticamente reconhecem apenas o regime comunista chinês.
A unificação é uma política do Partido Comunista Chinês (PCC) para ter Taiwan sob o controle da China Continental, seja através da paz ou da força.
Se o objetivo do CPPRC fosse apenas influenciar a política externa de um país, não seria necessário estabelecê-lo nesses países. Quanto à promoção da unificação da China, o objetivo da organização não é promover o reconhecimento diplomático, mas implementar as políticas do PCC.
Além disso, os CPPRCs não são como as organizações não-governamentais de gestão flexível que os ocidentais conhecem, mas são organizações periféricas do PCC. Ou seja, eles têm uma organização rígida, disciplina e hierarquia de comando. Todas as organizações do mundo classificadas como CPPRC têm a característica comum de não ter uma missão e programa específicos. Eles só seguem as ordens de Pequim e, a qualquer momento, podem tomar medidas que não estão relacionadas à “unificação”, de acordo com as necessidades de Pequim.
Por exemplo, a Federação da Comunidade do Nordeste da China (tradução não oficial do nome chinês) é uma das três organizações do CPPRC estabelecidas em Nova Iorque. Em 11 de fevereiro de 2001, sua organização antecessora realizou uma reunião difamatória contra o Falun Dafa, uma disciplina espiritual com meditação que foi proibida pelo regime chinês a partir de 1999, depois que sua popularidade amedrontou a liderança do Partido. O regime chinês e suas organizações de blindagem em todo o mundo espalharam sua propaganda de ódio contra o Falun Dafa e seus praticantes na tentativa de justificar a perseguição realizada pelo regime, e até hoje os praticantes continuam sendo vigiados, detidos e torturados por sua fé.
Liang Guanjun, na época presidente da Comissão Geral da organização, juntamente com Zhu Qizhen e Li Daoyu, ex-embaixadores da China nos Estados Unidos; Zhang Wenpu, ex-embaixador da China no Canadá, e Zhang Hongxi, ex-cônsul geral da China em Nova Iorque, participaram da reunião e fizeram discursos. Em junho do mesmo ano, em uma reunião de chefes de associações chinesas no exterior realizada em Pequim, Liang informou às autoridades: “Somos a primeira associação estrangeira a se opor ao Falun Gong. Isso demonstra plenamente o patriotismo dos chineses no exterior”.
Os CPPRCs figuram como uma das muitas organizações chinesas nos Estados Unidos que são obra do Departamento de Trabalho da Frente Unida do PCC, em um relatório detalhado de novembro do ano passado sobre a infiltração do PCC na sociedade norte-americana publicado pelo Instituto Hoover da Universidade de Stanford. A Frente Unida procura empurrar a agenda de Pequim além das fronteiras da China.
Já em 1939, a Frente Unida foi nomeada pelo ex-líder do PCC, Mao Tsé-tung, como uma das três armas mágicas da Revolução Comunista Chinesa; as outras duas foram a luta armada e a formação do Partido. O princípio básico por trás da chamada “frente unida” é extrair forças do inimigo para seu próprio uso.
Então, quem é o inimigo nessa frente unida? Pode-se dizer que eles têm os mesmos objetivos da revolução comunista chinesa. Antes de 1949, foi o Kuomintang, ou Partido Nacionalista, contra o qual ele lutou — e finalmente venceu — na guerra civil chinesa. Também podem ser aqueles que resistiram aos esforços do PCC de expandir-se em todo o mundo, como governos democráticos ocidentais e partidos políticos. Mas o inimigo deve ser tão forte que o PCC não possa eliminá-lo ou conquistá-lo imediatamente. Porque se o PCC tivesse uma vantagem absoluta, não haveria necessidade de uma frente unida.
Como parte da composição do regime comunista chinês, existe uma organização que é única e não existe no resto do mundo: a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (a seguir designada “Conferência Consultiva”).
Quando o Partido Comunista Chinês estabeleceu seu regime em 1949, ainda precisava de uma autorização formal para exercer o poder. Em seguida, uma reunião de consulta política foi realizada “autorizando” o PCC a governar.
Mas a Conferência Consultiva tem uma função muito real: a frente unida. Após a Revolução Cultural, o PCC começou a se mover em direção ao desenvolvimento econômico e, de repente, encontrou um novo uso para os antigos inimigos: eles poderiam ser manipulados para servir aos interesses do PCC. Assim, os membros da Conferência Consultiva, com amplos contatos no exterior, começaram a trabalhar.
Como atual presidente da Conferência Consultiva, Wang Yang também é responsável pelo trabalho da frente unida.
No passado, três departamentos pertencentes ao sistema da frente única do PCC estavam camuflados como departamentos do Conselho de Estado, uma agência semelhante a um gabinete, mas na realidade eles eram dirigidos pelo Departamento de Trabalho da Frente Unida: o Escritório de Assuntos Chineses no Estrangeiro, a Administração Estatal de Assuntos Religiosos e o Comitê Nacional de Assuntos Étnicos. Na reestruturação do Partido que ocorreu em março de 2018, os três departamentos foram reorganizados e colocados diretamente sob a administração do Departamento de Trabalho da Frente Unida. Em outras palavras, eles são diretamente uma agência do Partido e não uma agência de governo estatal.
Portanto, essas supostas organizações chinesas no exterior, como os CPPRCs em diferentes países do mundo, foram registradas de acordo com as leis locais, embora estejam sempre sob o comando de Pequim e não operem de forma independente.
Entre os países ocidentais, os Estados Unidos têm uma vantagem com a Lei de Registro de Agentes Estrangeiros, que exige que organizações e lobbies que trabalham em nome de governos estrangeiros registrem suas informações de negócios junto ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Tudo o que é necessário é fortalecer a aplicação da lei. Como o PCC considera o CPPRC como sua ferramenta, o CPPRC serve apenas para implementar as ordens do PCC. O governo dos Estados Unidos deve reconhecer essa realidade e exigir que todos os CPPRCs do país, assim como seus presidentes, se registrem como agentes estrangeiros.
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