Indústria automotiva chinesa enfrenta grande desaceleração

16/05/2016 10:52 Atualizado: 16/05/2016 11:17

Depois de anos de crescimento de dois dígitos, o mercado chinês de automóveis está desacelerando. De acordo com um estudo recente da empresa de consultoria McKinsey, o maior mercado mundial de automóveis crescerá apenas 5% ao ano até 2020.

A economia fraca prejudica as vendas de automóveis. Além disso, uma mudança no comportamento dos consumidores também está afetando esse segmento.

“Mudanças na atitude dos consumidores e adversidades macroeconômicas estão retardando o crescimento do mercado automotivo da China. De 2010 a 2015, a venda de veículos na China aumentou mais de 12% ao ano. Olhando em direção a 2020, no entanto, projetamos que o mercado de veículos crescerá a uma média de 5% ao ano”, afirma o relatório da McKinsey.

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Os preços dos automóveis na China caíram 4% ao ano na última década devido à intensa concorrência entre os fabricantes. Mas, apesar dos cortes de preços generalizados, as vendas mensais de carros novos caíram drasticamente nos três primeiros trimestres de 2015 quando a economia desacelerou.

No entanto, os fabricantes de automóveis têm se beneficiado com a redução do imposto sobre a compra-venda de veículos, que entrou em vigor em outubro de 2015 e durará até o final de 2016. O governo chinês reduziu para 5% o imposto sobre a compra-venda de veículos com motores de 1,6 litros ou menores, num esforço para impulsionar a venda de carros.

Com a redução do imposto, as vendas mensais ganharam fôlego no último trimestre de 2015 e a tendência continuou durante os primeiros meses de 2016.

As vendas de automóveis de passageiros subiram 6,7% nos primeiros quatro meses de 2016, segundo um relatório da Bloomberg. No entanto, especialistas alertam que políticas de curto prazo, como o corte de impostos, meramente empurram para frente os problemas de demanda. É esperado que compradores de carro comprem este ano e não no próximo, o que criará recessão em 2017 depois que a política fiscal expirar.

A China é o principal produtor mundial de automóveis, com um volume de produção de 21 milhões de veículos de passageiros em 2015. A indústria automotiva tem sido uma força importante para a economia chinesa na última década. Ela contribui com mais de 10% do produto interno bruto (PIB), impostos e empregos.

Necessidade e valor têm prioridade

A desaceleração econômica chinesa desde meados de 2015 e a campanha anticorrupção do regime chinês lançada em 2013 mudaram a atitude dos consumidores chineses.

Para entender melhor a mudança de comportamento do consumidor, McKinsey realizou uma pesquisa envolvendo mais de 3.500 chineses em março de 2016.

Sua conclusão foi que compradores de automóveis chineses estão se tornando mais práticos e dando menos importância ao status de possuir um automóvel. Quase metade dos consumidores consultados consideram carros como necessidades e não como símbolos de status. Os consumidores estão menos interessados em comprar carros de luxo, pois isso poderia implicá-los na campanha anticorrupção do regime chinês.

Logo ao assumir a liderança do regime no final de 2012, o presidente chinês Xi Jinping lançou uma ampla campanha anticorrupção, visando funcionários em todos os níveis do Partido Comunista, na burocracia do governo e em empresas estatais por diversos crimes, incluindo desvio de fundos públicos, suborno, abuso de poder, entre outros.

O relatório também descobriu que as compras online de carros são uma tendência crescente na China, e isso deve acelerar conforme as plataformas digitais melhorem.

Em vez de comprar um carro novo, os consumidores estão escolhendo cada vez mais comprar carros usados. Apesar dos grandes descontos em carros novos, quase metade dos consumidores pesquisados consideram adquirir um veículo usado quando compraram seu último carro.

Leasing, aluguel e outros serviços de partilha de automóveis também estão se tornando cada vez mais populares. Estas tendências afetarão o mercado de carros novos e criaram negócios alternativos para montadoras.

Daimler, por exemplo, introduziu um serviço de compartilhamento de carro, Car2Share, em quatro grandes cidades da China. Outros fabricantes de automóveis podem optar por desenvolver modelos de veículos especificamente para e-hailing (o processo de pedir um transporte de aluguel via computador ou dispositivo móvel) e outros serviços de aluguel para transporte.

“Para as montadoras, concessionárias de veículos e prestadores de serviços, atender a essas mudanças da demanda será a chave para o sucesso num país habitado por proprietários de automóveis cada vez mais práticos”, afirmou McKinsey.