Histórias da Antiga China: a história de Jigong, o bem ou mal surgem de um só pensamento

Escolher o bem ou o mal vem de um único pensamento. Esse bom pensamento é muito importante, e a cultura tradicional chinesa o descreve como "a luz do Buda brilha em toda parte"

11/11/2018 13:17 Atualizado: 11/11/2018 13:17

Por Epoch Times

Jigong foi um proeminente monge da dinastia Song do Sul (1127-1279), também conhecido como Daoji. Existem muitas lendas sobre Jigong salvando as pessoas com suas habilidades sobrenaturais. Na cultura popular de hoje, circulam muitas histórias sobre Jigong ajudando os pobres e punindo os malfeitores.

Um dia, Jigong estava pedindo esmolas como de costume quando viu um vendedor de carne de cachorro fazendo suas necessidades em uma latrina. Duas cestas com carne e a vara para carregar sobre os ombros estavam encostados à beira da rua. Jigong viu com seu olho celestial que a latrina iria desabar em breve e que o vendedor de carne de cachorro seria soterrado e morreria ali. Jigong pensou: “Não. Ele não deve morrer, porque é um grande exemplo de devoção filial do qual o mundo pode aprender”. Então ele se aproximou, pegou a vara para carregar no ombro e fugiu com as cestas de carne de cachorro. Em voz alta, Jigong disse: “Olha! Ninguém quer essas duas cestas de carne! Eu vou levá-las ao meu templo!”

O vendedor de carne de cachorro ouviu isso e, sem perder tempo, correu para fora da latrina, segurando as calças com as duas mãos. Ele gritou: “Ei, monge, devolva minhas cestas!”

Depois de correr apenas alguns passos, ele ouviu um som alto “Buuum!” atrás dele. Quando ele olhou para trás, ficou surpreso ao ver que a latrina havia desmoronado. Ele ficou com medo e pensou: “Oh, meu Deus! Graças ao monge, eu me salvei. Caso contrário, eu teria morrido esmagado”. Jigong riu e devolveu as cestas.

Jigong lhe disse: “Você é um filho obediente. Vá para casa quando terminar de vender a carne; sua mãe está esperando por você”.

O vendedor de carne de cachorro, chamado Husan, exercia essa atividade há muitos anos. Ele morava na rua Qiantang com sua mãe e sua esposa. Husan gostava de ser gentil com outras pessoas, mas nunca era gentil com sua mãe. De manhã cedo, ele costumava discutir com ela e até falava com uma atitude muito grosseira. Sua esposa era uma mulher gentil, e ela costumava dar-lhe conselhos, tais como: “Sua mãe é muito velha; por favor, não a deixe com raiva.” Husan não dizia nada e continuava com suas atividades.

Um dia, Husan estava cozinhando carne em casa e pediu a sua esposa para ficar com sua mãe enquanto ele saía da sala. Ele pegou dois cachorros, uma mãe e um filhote que acabara de comprar no mercado. Husan amarrou a cadela e levou o cão jovem no ombro. Ele os colocou no quintal e entrou na casa para pegar uma faca grande para matar os cachorros. Ele deixou a faca no quintal e voltou para a casa para pegar um recipiente, mas quando voltou ao quintal, ele não conseguiu encontrar a faca. Ele perguntou a sua esposa: “Você pegou a faca?”

“Não, eu não peguei”, ela respondeu.

"O Clássico da Devoção Filial", da dinastia Song, tradicionalmente atribuído a Ma Hezhi, que foi bem sucedido como pintor em 1131-1189 e depois como imperador Gaozong (1107-1187) como calígrafo. Taipei: Museu do Palácio Nacional (Domínio Público)
“O Clássico da Devoção Filial”, da dinastia Song, tradicionalmente atribuído a Ma Hezhi, que foi bem sucedido como pintor em 1131-1189 e depois como imperador Gaozong (1107-1187) como calígrafo. Taipei: Museu do Palácio Nacional (Domínio Público)

Depois de um tempo procurando a faca, ele descobriu que estava debaixo do cachorro menor. O filhote viu que Husan ia matar sua mãe, então ele imediatamente pegou a faca com a boca e escondeu-a debaixo do corpo. Husan imediatamente chutou o filhote, mas o pequeno cachorro correu e se aninhou no pescoço da mãe. Mostrando os dentes, o filhote olhou fixamente para Husan. Lágrimas caíam dos olhos do filhote. Vendo isso, Husan ficou surpreso. Ele jogou a faca e correu para a sala gritando alto. Sua esposa se assustou com os gritos. Husan pensou: “Não sou melhor do que um cachorro. Até um cão sabe de onde vem, também não deveria saber um ser humano?” Depois disso, ele foi até o quintal e falou com os dois cachorros: “Tudo bem. Eu não vou matá-los. Se quiserem ficar, vocês podem ficar e eu tenho comida para vocês. Se quiserem sair, podem sair”.

Ele foi até o quarto de sua mãe, ajoelhou-se na frente dela e disse: “Eu me arrependo do meu comportamento desrespeitoso. Sou culpado”.

Sua esposa lhe disse: “A partir de agora, contanto que você seja bom com sua mãe, nossas vidas serão mais felizes”.

Então Husan disse: “Depois que vendermos a carne de cachorro que está na panela, eu mudarei de profissão e não matarei mais animais”.

Husan saiu naquele dia e de repente sentiu vontade de ir ao banheiro. Ele colocou as cestas na beira da rua e correu para a latrina próxima. Inesperadamente, o banheiro desmoronou, mas ele foi salvo por Jigong. As pessoas podem se perguntar por que Husan era chamado de “um grande exemplo de devoção filial” se ele era tão rude com sua mãe.

Da mesma forma, se uma pessoa sempre fez o bem por muitos anos, mas um dia, de repente, ele tem um pensamento ruim, esse pensamento ruim pode levá-lo a fazer o mal, e todo o bem que ele fez antes seria cancelado. No momento em que o pensamento ocorre, mesmo que não faça nada de errado, já é uma pessoa verdadeiramente má no mundo. Portanto, é preciso escolher um destino elevado e caminhar em direção a esse destino, mesmo que esteja longe. Como já começou a ir nessa direção, mais cedo ou mais tarde você chegará ao seu destino. Escolher o bem ou o mal vem de um único pensamento. Esse bom pensamento é muito importante, e a cultura tradicional chinesa o descreve como “a luz do Buda brilha em toda parte”.

Traduzido por Dora Li para o inglês, esta história foi reimpressa com a permissão do livro “Treasured Tales of China”, Vol. 1, disponível na Amazon