Guia para entender o comportamento incivilizado da China comunista

A bárbara ditadura comunista que deliberadamente viola convenções sociais e diplomáticas e a decência não consegue entender o que significa ser civilizado, e escraviza uma população de 1,4 bilhão de chineses

18/12/2018 14:12 Atualizado: 18/12/2018 14:12

Por Peter Zhang

Existem dois tipos de lógica neste mundo: a lógica usada pela maioria das pessoas e a lógica chinesa. Aqueles que leram o artigo de Josh Rogin “Por dentro da ‘birra diplomática’ da China na APEC” publicado no Washington Post podem estar se perguntando por que a comunidade internacional lida com esse Estado canalha normalmente, como se fosse um Estado normal e racional.

Talvez os ingênuos ocidentais fiquem vermelhos, ou mesmo se sintam enganados, em face do comportamento incivilizado de Pequim na reunião da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) realizado na Papua Nova Guiné (PNG), em meados de novembro.

Aparentemente Pequim ficou ofendida com a seguinte cláusula inserida no rascunho da declaração conjunta da APEC: “Nós concordamos em lutar contra o protecionismo, incluindo qualquer prática comercial injusta”. Seus quatro delegados tentaram entrar no Gabinete do Ministro das Relações Exteriores da PNG e obrigá-lo a retirar as palavras.

Para manter sua neutralidade como anfitrião da APEC, o ministro das Relações Exteriores da PNG não quis se reunir com eles em particular e teve que chamar a polícia para manter a visita indesejada longe de sua porta. Apesar do consentimento unânime dos outros 20 membros da APEC, apenas a China se opôs a esta declaração conjunta, forçando a APEC a finalizar pela primeira vez sem emitir uma declaração conjunta.

“Frenesi jornalístico”

O comportamento de gangster do regime comunista na cúpula da APEC foi descrito como “birra diplomática”. A jornalista do China Central TV (CCTV) em Londres, Kong Linlin, deu vários exemplos dessas características quando, em setembro, passou por um “frenesi jornalístico” durante a Conferência Anual dos Conservadores sobre os Direitos Humanos em Hong Kong. Um vídeo mostra Kong, de 48 anos de idade, gritando histericamente na reunião e esbofeteando violentamente um organizador. O vídeo se tornou viral, atraindo atenção e provocando reações de todo o mundo.

A equipe de segurança teve que retirar Kong do local da conferência, enquanto ela insistia em seu “direito de protestar” em um “Reino Unido democrático”. Kong foi rapidamente detida pela polícia e agora ela está sendo acusada de agressão.

No entanto, seu estranho comportamento foi recebido como “heróico” tanto pela embaixada chinesa em Londres quanto por seu empregador, a estatal CCTV.

Internautas chineses disseram que o episódio foi “um choque entre os civilizados e os ignorantes”. Uma publicação da rede social Weibo até desafiou Kong a demonstrar seu direito de protestar no Grande Salão do Povo em Pequim para descobrir se a China era democrática ou não.

Zhang Pu, escritor chinês residindo no Reino Unido, disse à Radio Free Asia: “Kong Linlin tornou-se uma celebridade da internet representante do Partido Comunista. Todo jornalista enviado ao exterior pelo Partido Comunista Chinês tem certas obrigações [políticas]”.

Em outras palavras, o que Kong fez no Reino Unido, por mais desequilibrado que possa parecer para o resto do mundo, certamente agradou a seus supervisores e ao partido em Pequim.

James Palmer, que trabalhou para o jornal estatal Global Times, disse: “Acho que Kong Linlin estava encenando para seus chefes na China, tentando subir na hierarquia da imprensa estatal chinesa”. Para o resto do mundo, esse estranho comportamento certamente parece uma maneira muito esquisita de subir na carreira.

Desaparecimento

Não muito tempo atrás, uma família chinesa armou uma cena que causou tensão nas já tensas relações sino-suecas. Em 2 de setembro, eles chegaram a um albergue em Estocolmo na noite anterior à sua reserva, depois gritaram alto e acusaram a polícia de brutalidade quando foram removidos do local. A embaixada chinesa na Suécia e a imprensa estatal começaram a atacar a Suécia por causa da discriminação.

Isso aconteceu tendo como pano de fundo outra situação complicada: Gui Minhai, cidadão sueco de 54 anos que desapareceu misteriosamente enquanto estava de férias na Tailândia em outubro de 2015, foi depois encontrado sob custódia policial dentro da China. Gui é um dos cinco editores em Hong Kong conhecidos por publicarem “rumores” sobre líderes chineses. A Suécia, até hoje, não conseguiu garantir sua liberdade.

Atualmente, os “desaparecimentos” podem acontecer a qualquer um. Em setembro, Meng Hongwei, presidente da Interpol, desapareceu durante uma visita à China vindo da França. Sua esposa, Grace Meng, disse: “Não tenho certeza se ele está vivo”, já que a última mensagem do marido tinha sido um emoji com uma faca.

Meng, ex-vice-ministro do Ministério da Segurança Pública, está sob investigação por “corrupção e outros crimes não especificados”, segundo a declaração oficial do governo. Alguns chineses postaram na internet: “Como vice-ministro da Segurança Pública, Meng deu sumiço em outros e agora é sua vez de sumir.”

Buscar refúgio

O 55o Concurso Cavalo de Ouro, também conhecido como “Oscar” pelos chineses, foi realizado em Taipei no dia 17 de novembro. Fu Yue, diretora de documentários de Taiwan, disse em um discurso de aceitação que Taiwan deveria “ser tratado como uma entidade genuinamente independente”. Seu discurso foi aparentemente bloqueado pela TV ao vivo na China Continental, mas causou um debate acalorado em ambos os lados do Estreito de Taiwan.

Mais tarde, na cerimônia, quando o duas vezes ganhador do Oscar, Ang Lee, convidou Gong Li, estrela de cinema nascida na China e jurada este ano, para subir ao palco e distribuir os prêmios, Gong recusou, aparentemente com medo de ofender Pequim.

De fato, depois de finalizada a cerimônia de entrega do Cavalo de Ouro, todo o grupo de atores, atrizes e diretores da China continental deixou o local. O fator medo fez estas celebridades correrem em busca de refúgio e evitarem ser o foco das atenções.

Para demonstrar lealdade ao partido-Estado, alguns até publicaram em sua conta no Weibo a foto da “China, não menos!” da Liga dos Jovens Comunistas da China. Existe, no entanto, uma complicação: como muitas celebridades chinesas, Gong não é mais uma cidadã da China e na lista ela aparece como uma atriz de Singapura. Os internautas chineses também sabem disso, e chamam aqueles que têm passaportes estrangeiros de “falsos patriotas” chineses.

Neste verão, a famosa atriz chinesa Fan Bingbing desapareceu subitamente de vista. Descobriu-se depois que ela havia sido levada e ficou sob custódia da polícia por vários meses. Fan reapareceu apenas depois de concordar em pagar a vultosa quantia de US$ 130 milhões por “evasão fiscal” e declarar sua total lealdade ao partido-Estado. Isso certamente teve um impacto assustador sobre a indústria do entretenimento na China.

A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, não hesitou em comentar no Facebook: “Estou orgulhosa da cerimônia do Cavalo de Ouro realizada ontem porque ela acentuou as diferenças entre China e Taiwan”.

Escrever o roteiro

Vozes diferentes e opostas, sejam elas políticas ou não, são comuns na Taiwan democrática, mas obviamente esse não é o caso da China comunista, onde as visões e opiniões políticas de figuras públicas e famosas devem se adaptar à linha do Partido, se quiserem sobreviver lá. A pressão do Estado explica por que muitos discretamente adquiriram cidadania estrangeira por segurança, incluindo o famoso astro de Kung Fu, Jet Li.

Embora as pessoas na China continental e em Taiwan compartilhem a mesma língua, cultura e raízes étnicas, os dois sistemas políticos diferentes criaram dois tipos diferentes de cidadãos ao longo do tempo. Isso também parece ser verdade no caso da Coreia do Norte e da Coreia do Sul.

Atualmente, as democracias ocidentais estão percebendo que a China não segue as mesmas regras que o resto do mundo. Ainda pior, Pequim agora impõe novas regras e regulamentos como bem entende, para que outros os obedeçam. Por exemplo, Pequim pode ditar quais filmes Hollywood pode produzir, de acordo com o artigo “Como a China controla os roteiros de Hollywood”, que apareceu em 19 de novembro no Sydney Morning Herald.

O artigo cita o remake do drama da Guerra Fria “Red Dawn” de 2012, e diz que seu roteiro original iria mostrar “inimigos chineses invadindo uma cidade nos Estados Unidos”. “Mas a produção do filme teve que ser suspensa depois que “o roteiro vazou e irritou a mídia estatal chinesa.”

“No final, a MGM gastou um milhão de dólares para apagar digitalmente as evidências do exército chinês, quadro a quadro, e substituí-lo pelos norte-coreanos”, diz o artigo.

Como George Orwell observou em “1984”, com o comunismo “a guerra é a paz, a escravidão é a liberdade, a ignorância é a força”. Esse é precisamente o tipo de lógica com que o Partido Comunista Chinês opera, não apenas no país, mas, como vemos nesses exemplos, também no exterior.

John Ruskin, pensador vitoriano, disse: “A civilização está fazendo civis”.

Mesmo assim, a bárbara ditadura comunista que deliberadamente viola convenções sociais e diplomáticas e a decência não consegue entender o que significa ser civilizado. E escraviza uma população de 1,4 bilhão de chineses. Para o bem da humanidade, as pessoas de boa consciência devem unir forças para acabar com este regime moderno e perverso.

O foco das pesquisas de Peter Zhang é a economia política na China e no leste da Ásia. Ele é formado pela Universidade de Estudos Internacionais de Pequim, pela Escola Fletcher de Direito e Diplomacia e pela Escola Kennedy Harvard como “Mason Fellow”

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