Por Steven W. Mosher
Para as pessoas religiosas na China, as coisas estão indo rapidamente de mal a pior. E o Partido Comunista Chinês (PCC) deixou claro que sua campanha de “sinização” — converter as igrejas em um braço do Estado — está apenas começando.
A atual onda de perseguição começou em fevereiro do ano passado, quando novas e duras restrições à atividade religiosa foram impostas. Desde então, sua intensidade continuou a aumentar, à medida que igrejas e mesquitas foram destruídas ou demolidas.
Os católicos foram um alvo em particular, com vários bispos e padres presos e alguns dos santuários mais famosos da China demolidos. Como um padre clandestino disse recentemente: “O catolicismo na China enfrenta uma calamidade”.
Outras congregações cristãs não estão se saindo muito melhor. A Igreja da Aliança da Chuva Antecipada em Chengdu, por exemplo, foi atacada em 9 de dezembro. Mais de 160 membros da congregação foram presos, juntamente com seu pastor, Wang Yi, que foi acusado de “incitar a subversão do poder do Estado”.
Muçulmanos chineses também estão sob assédio, especialmente as minorias de língua turca no extremo oeste da China. Durante o ano passado, mais de um milhão de uigures e cazaques — de uma população total de apenas 10 milhões — foram enviados para campos de reeducação. Lá eles são obrigados a falar apenas em chinês, são obrigados a comer carne de porco e a beber álcool, e é dito a eles que todas as religiões não passam de superstições.
A perseguição aos tibetanos e praticantes do Falun Dafa também está atingindo novos patamares. Mesmo a minúscula comunidade judaica na China, centrada na antiga cidade de Kaifeng, não conseguiu escapar da ira das autoridades. Em uma perturbadora repetição da “Noite dos Cristais” (que ocorreu na Alemanha nazista), as autoridades chinesas destruíram a sinagoga improvisada (estão proibidos de construir uma nova), rasgaram citações das escrituras hebraicas nas paredes e encheram os locais do ritual do banho com sujeira e pedras.
É importante entender que o Partido não está combatendo os crentes por se oporem à ideologia oficial do Estado de “socialismo com características chinesas”. A grande maioria aceita o regime comunista. Os crentes só querem permissão para praticar sua fé em paz, um direito supostamente garantido pela Constituição da República Popular da China.
O pastor da Igreja da Aliança da Chuva Antecipada, por exemplo, disse explicitamente que, seguindo a Bíblia, ele aceita e respeita “o fato de que Deus permitiu que esse regime comunista governasse temporariamente”. Isso não o manteve fora da prisão.
A Igreja Católica foi ainda mais longe em seus esforços para apaziguar a China, assinando um acordo com o Partido Comunista Chinês (PCC) sobre a nomeação de bispos em setembro passado. No entanto, a guerra do Partido contra a religião seguiu seu curso.
De fato, logo após a assinatura do acordo entre a China e o Vaticano, as estátuas do grande santuário dedicado a Nossa Senhora das Sete Dores, na província de Shanxi, foram removidas. Um funcionário local do Partido explicou que tiveram que removê-las porque o santuário tinha “estátuas demais”.
Isso é ridículo. A China está repleta de estátuas de antigos líderes comunistas. O problema com aquelas que estavam no santuário de Nossa Senhora das Sete Dores é que elas eram as estátuas erradas. Elas representavam anjos e santos, ao invés de grandes comunistas como Mao Tsé-Tung ou Deng Xiaoping. Por causa disso, eles tiveram que removê-las.
Pior, o santuário de Nossa Senhora da Montanha na Província de Yunnan foi totalmente destruído. Por que o regime está tão determinado a destruir ou demolir tais centros públicos de devoção católica?
Na minha opinião, o verdadeiro problema é que dezenas de milhares de peregrinos de toda a China visitam esses santuários todos os anos para homenagear a Mãe de Deus. Essa demonstração pública de lealdade a algo que não é o Partido e seus líderes está diretamente contra a sua sinização e não se pode permitir que continue existindo.
Alguns ocidentais ainda parecem acreditar que a sinização tem a mera intenção de libertar o cristianismo chinês e outras religiões de complicações estrangeiras. No entanto, o que isso realmente significa é que é uma poderosa campanha política que visa transformar todas as religiões na China em instrumentos de controle estatal.
Esta é a razão pela qual o PCC impôs toda uma série de novas restrições à atividade religiosa dentro das fronteiras da China. E é também por isso que o regime está invadindo agressivamente os santuários das igrejas que ele permite que continuem de pé.
As autoridades estão nomeando líderes eclesiásticos, incluindo bispos católicos, que declaram abertamente que sua lealdade primária é ao Partido, e não à sua fé. A Bíblia está sendo reescrita sob a supervisão do Partido para enfatizar a lealdade ao Estado. Pastores e padres são obrigados a pendurar a bandeira da RPC e os retratos dos líderes do Partido Comunista em seus altares. Aqueles que oferecem resistência à interferência do Estado são acusados, como o pastor Wang, de tentar subverter a ordem.
Não é a primeira vez que isso acontece.
Depois de tomar o poder em 1933, Hitler embarcou no que ele chamou de nazificação. Para alinhar as igrejas com o Estado, ele ordenou aos pastores e sacerdotes que pendurassem suásticas ao redor de seus altares e mostrassem sua imagem em lugares proeminentes. Teólogos foram recrutados para traduzir a Bíblia novamente, para que ela se adaptasse ao pensamento nazista. E aqueles que resistiram a essa interferência foram presos e acusados de traição.
O objetivo final da nazificação era o culto ao Terceiro Reich e a seu líder, Adolf Hitler.
Diante desta nova e crescente perseguição, quase todas as igrejas cristãs chinesas estão mais do que dispostas a “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
Steven W. Mosher é presidente Instituto de Pesquisa Populacional e autor de “Bully of Asia: Why China’s Dream is the New Threat to World Order”
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