Por Donna He
“Meio século atrás, no auge da Revolução Cultural, quando o culto à personalidade de Mao Tsé-Tung era o pior, ou seja, quando o terror vermelho era o pior (…) medo, repressão, [os alunos indo] para as montanhas e para o interior; era como um disparo, uma mobilização coletiva – que cruzava a fronteira – transformou-se em um movimento em massa”, afirmou Kent Wong.
Wong é autor do novo livro, “Swimming to Freedom: My Untold Story of Escaping the Cultural Revolution”. (Nadando em direção à liberdade: minha história não contada da fuga da Revolução Cultural).
Ele era um refugiado chinês que nadou para Hong Kong pela fronteira sul da China durante a Revolução Cultural. Hong Kong foi um destino popular para os caçadores da liberdade na década de 1960.
Em uma entrevista recente para a edição chinesa do Epoch Times, Wong relatou seu processo de aceitação da natureza do Partido Comunista Chinês, meio século atrás.
A Grande Fuga
Após seu pai ser classificado como direitista, Wong, um estudante diligente, foi imediatamente rotulado como membro do Black Camp, um mau elemento.
Ele testemunhou como os chamados “inimigos do povo” foram executados.
“Você não sabe como o medo afeta as pessoas. Naquela noite, a cidade inteira – nem mesmo o cachorro latiu – estava quieta como um homem morto”, afirma.
Foi uma época em que as gerações mais jovens foram encorajadas a ir para as montanhas e aldeias para aprenderem com os fazendeiros e trabalhadores, abandonando sua educação.
Gradualmente, as pessoas perceberam a crueldade do regime comunista e um movimento de fuga em grande escala para Hong Kong se desenvolveu silenciosamente.
“Não foi só apoiado pelos pais. Mesmo os membros do comitê local do partido não intervieram. Acho que muitos deles ficaram profundamente chateados com o regime, porque seus filhos ou parentes também estavam nas montanhas ou no campo”, afirma Wong.
Segundo Wong, a resistência era muito evidente na época. Basicamente, todos os supostos “emigrantes ilegais” de Guangdong pararam de ir para as áreas rurais. “Com o apoio de nossos pais, nos encontrávamos e discutíamos o plano de fuga todos os dias”, relatou.
Esses potenciais “emigrantes ilegais” desenvolveram seu plano com seis rotas, quatro etapas, três palavras-chave e uma pista.
As quatro etapas incluíam passar pelos postos de controle da polícia e da milícia, esconder-se durante o dia com alguém que trazia comida à noite, escalar as montanhas e, finalmente, cruzar o mar para Hong Kong.
A única pista é um prato de pés de frango na mesa, o que significa que alguém do grupo será o passageiro clandestino. Aquele com mais pés de frango no prato é o que o fará. Se a polícia ir atrás do emigrante, diz-se que a polícia vai atrás daquele que come pés de galinha.
Wong lembra-se das seis rotas, que estão marcadas. Ele afirma que a determinação e a grande maioria das pessoas que organizaram e se juntaram à grande fuga eram muitas para acreditar.
Wong relata que o sentimento de rejeição à Revolução Cultural foi muito grande, mas o terror pelos traidores manteve a todos em alerta e ninguém ousou falar sobre isso.
De acordo com Wong, o terror vermelho foi tão forte que centenas de milhares de pessoas fugiram para Hong Kong, mas raramente alguém escrevia sobre isso. O terror ofuscou o resto de suas vidas. Com muita dor e pesar, ele afirmou: “É uma pena que tenham enterrado a dor em seus corações. Quando eles faleceram, a história ficou em branco”.
O “teto subterrâneo” era um pequeno grupo de amigos que aderiu ao plano de fuga. “Teto” referia-se ao ponto de encontro no telhado de um edifício e “subterrâneo” referia-se ao clandestino que guardava segredo por medo de ser exposto.
“Voice of America” era o que ouviam durante as reuniões, quando se encontravam para discutir o plano de fuga. Ele relata: “Depois de ver o terror vermelho, o clandestino realmente não tinha nada a temer”.
“Quando você está no seu momento mais difícil, doloroso e decepcionante, você pensa muito”, afirmou Wong, referindo-se a como ele havia se transformado durante seus primeiros anos no campo.
Ele acreditava que somente despertando as pessoas ganhariam forças para suportar dificuldades impensáveis.
A Segunda Revolução Cultural
Admirando a bravura das novas gerações, Wong acreditava que suas ações afirmavam apenas uma coisa: não importa as táticas de repressão que o regime adotasse, “as aspirações das pessoas por liberdade, igualdade e oportunidade nunca serão suprimidas”.
Desde que o livro “Citações de Xi Jinping” foi disponibilizado em 2018, o regime exigiu que os comitês estudassem o livro, que supostamente carregava a filosofia essencial do atual líder do partido, Xi Jinping. Isso lembrou Wong da época em que os chineses eram obrigados a estudar as “Citações do presidente Mao” durante a Revolução Cultural, há mais de meio século.
“Eles podem forçar, mas não podem conquistar corações”, afirmou.
Mais de 386 milhões de chineses renunciaram ao Partido abandonando o PCC e suas organizações afiliadas desde que os “Nove Comentários sobre o Partido Comunista Chinês” foram publicados pela primeira vez, em novembro de 2004, pela edição chinesa do Epoch Times. Esta série detalha a propaganda, perseguição, fome, massacre, tirania e censura do PCC desde sua fundação.
Liu Feilong foi um dos que se inspirou nos Nove Comentários. Ele ficou chocado com as brutalidades cometidas ao longo da história do Partido. “Estou determinado a renunciar a este partido maligno. Estou envergonhado dele”, declarou, “é doentio pensar que um dia eu levantei meu punho e jurei dedicar minha vida a esta organização maligna”, relatou à edição chinesa do Epoch Times.
Yi Liufei também renunciou ao Jovens Pioneiros, a versão juvenil do PCC, ao qual as crianças são forçadas a aderir. “Espero que um dia todo o povo chinês consiga se livrar do regime cruel e autoritário”, afirma.
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