Ex-propagandista do regime chinês é purgado em campanha anticorrupção

15/11/2017 18:28 Atualizado: 15/11/2017 18:28

Liu Beixian, ex-chefe aposentado do Serviço de Notícias da China, um órgão porta-voz do regime chinês, foi expulso do Partido Comunista Chinês (PCC). Sua queda política irremediável ocorreu menos de um mês depois que a liderança do regime foi assumida por Xi Jinping, que introduziu uma nova linha e diretrizes de governo.

Outra mídia estatal porta-voz do regime, o Diário do Povo, fez o anúncio em 13 de novembro, informando que a decisão foi tomada pela unidade disciplinar do Departamento de Trabalhos da Vanguarda Unida, uma agência de subversão que visa os chineses tantos dentro como fora da China.

Liu Beixian teria violado a disciplina do Partido: ele era um reincidente na recepção de subornos e por suspeitos voos de primeira classe em viagens de negócios. Por fim, mas não menos importante, ele também foi acusado de abuso de poder, ajudando empresas privadas a lucrarem às custas da perda de ativos estatais.

Liu Beixian teve um longo mandato no Serviço de Notícias da China, trabalhando primeiramente como editor em 1983. Ele obteve uma grande promoção em 2000, quando foi nomeado vice-chefe e vice-editor-chefe. Em 2009, ele foi nomeado chefe e secretário do Partido na agência. Ele anunciou sua aposentadoria em fevereiro de 2015.

A Agência de Notícias da China e a Xinhua são os órgãos de imprensa oficiais do PCC.

Sua expulsão do Partido não foi totalmente inesperada. Em agosto, o órgão de vigilância anticorrupção do PCC, o Comitê Central de Inspeção Disciplinar (CCID), anunciou que Liu Beixian tinha sido posto sob investigação por suspeita de corrupção.

A queda de Liu Beixian também sinaliza uma mensagem política, de acordo com Xia Ming, professor da Universidade da Cidade de Nova York no College of Staten Island, em entrevista à Radio Free Asia (RFA).

“É um aviso às autoridades do Partido que têm estado à margem, no que se refere a respeitar Xi Jinping como o líder central, e que devem ser absolutamente leais a Xi Jinping”, disse Xia Ming.

Liu Beixian estava associado com Bo Xilai, um fiel e desgraçado aliado do ex-líder chinês Jiang Zemin que governou Chongqing com punho de ferro. De acordo com o Diário do Povo, Liu Beixian apareceu em Chongqing para participar de uma festa noturna em setembro de 2011, quando ele e Bo Xilai cantaram “canções vermelhas“, ou propaganda comunista da era Mao Tsé-tung. A presença de Liu Beixian indicou seu apoio às políticas de Bo Xilai em Chongqing, marcadas pelo revivalismo de canções vermelhas e outras práticas de extrema esquerda no estilo da Revolução Cultural. Bo Xilai foi implicado numa tentativa de golpe político contra Xi Jinping em 2012 e condenado à prisão perpétua um ano depois.

Mais significativo foi o fato de Liu Beixian ter feito um enorme salto na escada política em 2000, no mesmo ano em que ele acompanhou o ex-líder chinês Jiang Zemin numa visita ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Liu Beixian teria sido o autor intelectual da cobertura da mídia chinesa, louvando as conquistas de Jiang Zemin na ONU.

Ao longo dos anos, o Serviço de Notícias da China (SNC) tem apoiado de forma proativa uma das agendas políticas mais sombrias de Jiang Zemin, a perseguição ao Falun Gong, orquestrando a publicação de artigos de notícias que difamavam o grupo. Em 2007, a Organização Mundial para Investigar a Persecução ao Falun Gong (WOIPFG) nomeou Liu Beixian como culpado de calúnia contra vários adeptos do Falun Gong que participaram numa competição de canto internacional organizada pela emissora New Tang Dynasty Television (NTD.tv), que tem sede em Nova York. A agência de notícias do regime reimprimiu um artigo produzido pela propaganda oficial do Partido que atacava o Falun Gong.

O Falun Gong é uma prática espiritual tradicional com exercícios lentos, meditativos e ensinamentos morais. Os adeptos da prática têm sido alvo de perseguição brutal em todo o país desde julho de 1999, quando Jiang Zemin, temendo a popularidade da prática, proibiu o Falun Gong e rotulou seus adeptos como “inimigos do Estado”. Depois disso, muitos funcionários do Partido buscaram promoção e prometeram lealdade a Jiang Zemin ajudando-o na perseguição.

O departamento que fez o anúncio da queda de Liu Beixian recentemente recebeu uma nova liderança, You Quan, o qual prometeu sua lealdade a Xi Jinping em sua primeira aparição pública.

Os esforços anticorrupção não acabarão com o expurgo de Liu Beixian, de acordo com o professor Xia Ming. Ele explicou: “É como resolver um caso rastreando as pistas. Por trás de Liu Beixian, alguém mais poderoso é o alvo real.”