Por Isabel Van Brugen, Epoch Times
Afirmações feitas pelas autoridades da China de que os enormes campos de confinamento de Xinjiang — onde há pelo menos um milhão de prisioneiros uigures — são “centros de formação profissional” são completamente “falsas e inventadas”, declarou ao Epoch Times uma uigur que ficou presa em um desses campos.
Em resposta às declarações do Partido Comunista Chinês, que em outubro descreveu as instalações como “centros de formação profissional gratuita” que tornam a vida mais “colorida”, a ex-prisioneira Gulbukhar Jalilova afirmou que “eles estão mentindo de forma descarada”, e acrescentou que “eu nunca vi uma única sala de aula enquanto estive lá”.
O governador de Xinjiang, Shohrat Zakir, disse à agência de notícias estatal Xinhua que as pessoas presas nos campos “vão aprender o idioma comum do país além de adquirir conhecimento jurídico e habilidades profissionais”.
No entanto, Gulbukhar, de 54 anos, salientou que, em vez de aprender habilidades profissionais, “fui levada de campo em campo, de sala em sala, e nunca vi ninguém aprendendo nada”.
Gulbukhar, empresária nascida no Cazaquistão, foi mantida em um campo de mulheres em Urumqi, capital de Xinjiang, por pouco mais de 15 meses antes de sua libertação, em setembro deste ano. Ela foi presa depois de ser falsamente acusada de transferir 17 mil dólares a uma empresa chamada Nur. Ela foi libertada pelas autoridades depois que disseram que haviam sido informados de que ela era inocente.
Gulbukhar foi levada em viagem a Urumqi depois de receber um telefonema de um colega de sua filha. Ele lhe disse que havia “grandes problemas” e que ela precisava ir imediatamente à capital. Ela foi presa assim que chegou.
A história do PCC de oferecer “treinamento profissional” aos presos a fim de ajudá-los a arrumar trabalho não tem sentido, observou a empresária, porque a classe de mulheres que estava no campo com ela era de “pessoas muito ricas e educadas, mulheres de negócios, médicas, enfermeiras e professoras”.
“Elas não eram sem-teto ou sem dinheiro que precisassem de treinamento, isso é uma mentira do PCC”, disse ela ao Epoch Times.
“Elas podiam se dar ao luxo de viajar ao exterior e, quando voltaram, foram presas”.
Entre as alegações feitas por Zakir, enquanto o PCC trabalhava para legalizar os centros, constatou-se que os detentos recebiam “oportunidades práticas”, como aprender sobre como administrar “empresas de fabricação de vestuário, montagem de telefones celulares e cozinha étnica”.
O PCC há muito tempo justifica suas ações contra os uigures, a maioria dos quais são muçulmanos sunitas, alegando que os centros pretendem “educar e transformar” aqueles que eles consideram um risco de trabalharem para uma das “três forças do mal“, o “extremismo, o separatismo e o terrorismo“.
Os uigures, juntamente com outras minorias étnicas como os tibetanos, bem como os crentes que estão fora do controle do Estado, incluindo os cristãos das igrejas domésticas e do Falun Dafa, têm sido alvo do PCC que impõe sua transformação através da “reeducação”.
Em outubro, a emissora estatal chinesa CCTV transmitiu um segmento de 15 minutos oferecendo um vislumbre da vida dentro de um dos centros, o Centro de Treinamento e Desenvolvimento de Habilidades Profissionais, na cidade de Hotan.
No vídeo você pode ver os “alunos” lendo livros grandes e eles são mostrados aprendendo várias habilidades, tais como cozinha, marcenaria, costura e cosmetologia.
“Seja o que for que o PCC mostra na televisão e nos vídeos, é tudo falso e inventado. Não há salas de aula. Nós apenas sentamos em nossos quartos e ficamos olhando para a parede. A porta só abre quando é para castigar você, isso é tudo”, acrescentou Gulbukhar.
Embora as imagens do canal estatal chinês mostrem quartos com ar condicionado, decorados com flâmulas e balões, Gulbukhar disse que é uma descrição muito distante da realidade. Os detentos são confinados em seus quartos, maltratados e acorrentados em condições de superlotação, acrescentou.
Os prisioneiros eram forçados a ingerir diariamente uma droga desconhecida e todos os meses recebiam uma substância que “entorpecia suas emoções”. Eles também foram submetidos a várias formas de tortura, como privação de comida e sono e castigos físicos. Inclusive alguns foram assassinados, disse ela.
Presidindo uma audiência do Comitê Executivo do Congresso sobre a China, em 29 de novembro, o senador Marco Rubio disse que, dadas as realidades cotidianas na China comunista, onde “muçulmanos uigures são perseguidos e presos em campos de trabalhos forçados, monges e freiras tibetanos são submetidos a sessões de reeducação política, praticantes do Falun Gong são enviados para centros de educação legal para doutrinação, e os devotos cristãos são perseguidos e encarcerados”, muitos analistas estão descrevendo a atual onda de repressão na China como “a mais severa desde a Revolução Cultural”.
Rubio acrescentou que ele acredita que a motivação do PCC por trás da crescente repressão “é um desejo obsessivo (…) de criar uma espécie de identidade nacional unificada, que deve ser despojada de tudo o que compete com ela: etnia, religião, tradição cultural étnica”.
A analista especializada em assuntos da China, Samantha Hoffman, do Instituto Australiano de Política Estratégica, acrescentou, na audiência, que a atual repressão na China está sendo feita para “proteger o Partido Comunista Chinês”.
O “conceito do PCC que nós poderíamos chamar de segurança nacional, eu acho que se traduz melhor como segurança do Partido”, disse ela. “Existem muitas dimensões (…) relacionadas à luta interna pelo poder (…) e também relacionadas a tudo que está fora do Partido; controlar a história, controlar o espaço ideológico”.
“Isso significa que os métodos de segurança do Estado se estendem além das fronteiras da China e é por isso que você vê o assédio dos chineses no exterior”.