Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
Em seu novo livro, On Xi Jinping (Sobre Xi Jinping, em tradução), o ex-primeiro-ministro trabalhista australiano Kevin Rudd sugere que o mundo precisa apenas esperar o fim da liderança de Xi Jinping, momento em que a China retomaria um curso mais moderado.
O atual embaixador da Austrália nos Estados Unidos afirma que essa mudança pode ocorrer à medida que a adesão rigorosa de Xi à ideologia marxista começa a prejudicar a economia.
Rudd argumenta que o objetivo de Xi é “mudar a ordem internacional em si, sustentada por uma China cada vez mais poderosa como o fulcro emergente geopolítico e geoeconômico dessa ordem”.
Ele diz que o líder comunista de 71 anos deslocou a política de Pequim para a “esquerda leninista” ao reafirmar o poder do líder, enquanto moveu a política econômica para a “esquerda marxista” ao priorizar o planejamento estatal em detrimento das forças de mercado.
Ao mesmo tempo, Xi deslocou a política externa para a “direita nacionalista”, promovendo o ressentimento em relação à ocupação e contenção da China pelo Ocidente no passado, além de enfatizar a centralidade da civilização chinesa.
Embora Xi “entendesse o que seus predecessores estavam buscando ao deixar a porta democrática aberta para a próxima geração”, ele decidiu “fechá-la firmemente”.
A sua liderança “provavelmente representa o período de pico de perigo quanto à possibilidade de guerra sobre Taiwan”, diz Rudd, mas as tensões diminuirão quando ele for substituído.
“A menos que Xi consiga aguentar-se por 20 anos ou mais, a China, no geral, terá menos probabilidades de se tornar mais ideologicamente extrema quando ele partir”.
Quando isso acontecer, a China “seria, em geral, bem-vinda com um regresso ao centro”.
A única forma de a atitude e abordagem de Xi prevalecerem seria se ele fosse capaz de “manter o poder até aos noventa anos para nomear quadros jovens ideologicamente fiáveis suficientes para permitir que a sua estratégia política de longo prazo se enraízasse”, diz Rudd.
A previsão de Rudd é irrealista, afirma dissidente chinês
No entanto, a previsão do embaixador de um renascimento de Pequim após Xi Jinping foi rejeitada por um dissidente chinês na Austrália, que disse que essa visão era irrealista e ignorava a história da China.
Chin Jin, presidente da Federação para uma China Democrática na Austrália, disse ao Epoch Times que Rudd “vê apenas um lado da moeda, enquanto o outro lado ou escapa de sua atenção, ou ele escolhe ignorá-lo”.
Embora concorde que Xi se mostrou o líder mais agressivo desde Mao, Chin afirma que a causa raiz dos problemas da China está na “ditadura autocrática” do regime.
“Essa é uma grande cegueira política de figuras ocidentais que se concentram nas árvores, mas não conseguem ver a floresta”.
“O objetivo fundamental do Partido Comunista Chinês sempre foi a dominação global, uma visão que tem desde sua fundação em 1949”.
Ele explica que a única razão pela qual Pequim foi menos expansionista sob líderes anteriores, como Deng Xiaoping, Jiang Zemin, Hu Jintao e até mesmo Mao, era que faltava força para perseguir suas ambições internacionais.
Deng Xiaoping introduziu a estratégia de “esconder a força e esperar o momento certo” para induzir o Ocidente a uma sensação de complacência. Agora, é a combinação da força do país e da determinação de Xi que o mundo está testemunhando, e isso não mudará apenas com a troca de liderança, afirma Chin.
“Kevin Rudd vê Xi Jinping como uma ameaça ao mundo, mas isso não é só sobre Xi—é sobre todo o regime autoritário do Partido Comunista Chinês. O Ocidente percebeu isso? Kevin Rudd percebeu isso?”, pergunta Chin.
De 1979 a 1989, a China aparentemente viveu sua década mais liberal politicamente—após os fracassos do Grande Salto Adiante—período em que teve uma oportunidade de mudança política semelhante à de Taiwan, segundo Chin. No entanto, o Massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, marcou o fim desse período.
Depois disso, a China concentrou-se apenas no desenvolvimento econômico, sem realizar mais reformas políticas.
Uma década depois, a repressão interna piorou significativamente quando Jiang Zemin lançou a perseguição ao Falun Gong, uma prática espiritual de meditação, incluindo a extração de órgãos de seus praticantes—uma política que desde então se estendeu à minoria muçulmana uigur e a outros alvos.
Essas ações ocorreram uma década antes da ascensão de Xi, mostrando que o foco do Ocidente deveria estar no partido como um todo, e não apenas em quem o lidera, argumenta Chin.
No entanto, isso não significa negar a influência de Xi.
“Xi Jinping transformou a estrutura de poder político da China através de sua própria ideologia e ditadura pessoal, absorvendo o Partido Comunista Chinês e transferindo o controle da governança partidária para o governo da família Xi”, disse ele.
“Isso o transformou, na prática, em um imperador sem coroa. Em meio ao constante clamor de que ‘o Oriente está subindo e o Ocidente está declinando’ ao seu redor, o confiante Xi tem como objetivo remodelar a ordem internacional, com a crescente força da China servindo como um novo pivô geopolítico e geoeconômico [para realizar essa mudança]”.
Ex-ministro das Relações Exteriores e embaixador apoiam a visão de Rudd
Enquanto isso, o ex-ministro das Relações Exteriores do governo liberal, Alexander Downer, descreveu o livro de Rudd como um “bom trabalho”.
“Tendo lido apenas resumos em jornais sobre o que o livro diz, parece-me bastante acertado”, disse Downer à Sky News.
“Focar em Xi Jinping como um líder muito diferente de seus predecessores, muito mais marxista-leninista, mais maoísta, se preferir, do que seus predecessores imediatos, tendo levado o país fortemente para a esquerda economicamente e se tornado um nacionalista muito agressivo—acho que toda essa análise está completamente correta”.
Já o ex-político liberal Arthur Sinodinos, que foi embaixador em Washington até ser substituído por Rudd, afirmou que a descrição de Xi como um nacionalista ambicioso e agressivo, determinado a fazer com que Pequim desempenhe um papel importante na formação de uma nova ordem mundial, está de acordo com a visão de Washington.
“Acho que os chineses, sem dúvida, veem Kevin agora bastante alinhado com a visão de mundo de Washington”, disse Sinodinos.
Ex-general da Força Aérea diz que mudança para o “centro” é improvável
Pelo menos um republicano discorda do otimismo de Rudd em relação a uma China menos ameaçadora após Xi. O deputado de Nebraska, Don Bacon—ex-brigadeiro-general da Força Aérea—afirmou que não havia evidências dessa mudança.
“Não vejo nenhum indício de que a China esteja tentando voltar ao centro. Nenhum sinal de que eles estão tentando se moderar. Eles querem tomar Taiwan em 2027. [Mas] também não acho que devemos provocar um conflito. Precisamos ter uma aliança forte e um orçamento militar que possa dissuadi-los”, disse ele.