Ex-diretor da internet da China, responsável pela pesada censura, é expurgado

23/11/2017 20:30 Atualizado: 23/11/2017 20:30

A China anunciou a queda do primeiro alto funcionário do regime desde que o líder Xi Jinping consolidou seu poder no Partido Comunista Chinês (PCC) após o 19º Congresso Nacional.

Lu Wei, como ex-diretor da Administração do Ciberespaço do PCC, foi responsável pela pesada censura e monitoramento da internet no país.

Em 21 de novembro, a agência anticorrupção do PCC, o Comitê Central de Inspeção Disciplinar (CCID), anunciou que Lu Wei estaria sob investigação por “grave violação da disciplina do Partido”, um eufemismo comumente usado para corrupção. Ele foi expulso de seus postos no governo e no Partido.

Xi Jinping já destituiu muitos funcionários poderosos – a maioria deles era parte de uma facção inimiga fiel ao ex-líder chinês Jiang Zemin – desde que lançou sua campanha anticorrupção quando chegou ao poder em 2012.

Lu Wei passou a maior parte de sua carreira trabalhando nas agências de propaganda do PCC sob Liu Yunshan, o ex-chefe de propaganda conhecido como membro-chave da facção de Jiang Zemin. Lu Wei também serviu como secretário do Partido na agência estatal de notícias Xinhua e como chefe de propaganda em Pequim, e eventualmente assumiu o cargo de vice-diretor do departamento central de propaganda do PCC.

Mas seu verdadeiro poder residia em ser o chefe da internet no país enquanto no comando da Administração do Ciberespaço, cargo que ele deteve de 2013 a 2016. Quando ele foi destituído desse cargo no ano passado, já era um sinal de que ele enfrentava problemas.

A mídia de Hong Kong informou anteriormente que Liu Yunshan e Xi Jinping não concordavam em termos da ideologia do Partido. Assim, Xi Jinping resolveu punir Lu Wei, que era o assessor de confiança de Liu Yunshan.

Lu Yunshan ficou conhecido por suas políticas severas e restritivas, como a “lei de segurança na internet”, que exigia que todas as empresas da internet forçassem seus usuários a se registrarem com seus nomes reais, e assegurou que o Facebook, Twitter e Google continuassem bloqueados no país.

Pessoas frequentam um cibercafé em Lassa, na Região Autônoma do Tibete, China, em 30 de agosto de 2006 (China Photos/Getty Images)
Pessoas frequentam um cibercafé em Lassa, na Região Autônoma do Tibete, China, em 30 de agosto de 2006 (China Photos/Getty Images)

Durante três anos consecutivos desde 2015, a China esteve na última posição no índice de Liberdade na Internet, compilado pela organização de direitos humanos Freedom House.

Usuários da internet na China foram presos e processados ​​por publicarem opiniões dissidentes ou qualquer conteúdo considerado inapropriado pelos censores. Huang Qian, de 47 anos, por exemplo, foi presa em fevereiro de 2015 por publicar uma série no Weibo, o serviço chinês equivalente ao Twitter, intitulada “Memórias do Gulag” sobre a perseguição do regime chinês à prática espiritual do Falun Dafa. Huang Qian, ela mesma uma adepta do Falun Dafa na cidade de Guangzhou, foi condenada a cinco anos de prisão.

Não obstante a censura ferrenha, Lu Wei gostava de manter um alto perfil, como demonstrado em sua criação da Conferência Mundial da Internet, realizada anualmente em Wuzhen, província de Zhejiang. Lu Wei concebeu o evento global como uma oportunidade para a China mostrar seu pioneirismo e dominância. Na conferência de 2015, um escândalo irrompeu quando Lu Wei recrutou estrangeiros que trabalhavam ou estudavam na China para se apresentarem como líderes mundiais da indústria. De acordo com uma matéria do jornal Apple Daily de Hong Kong, Xi Jinping ficou enfurecido por essa farsa.

Um chinês trabalha em seu laptop num escritório do Weibo, um serviço chinês similar ao Twitter, em Pequim, em 16 de abril de 2014 (Wang Zhao/AFP/Getty Images)
Um chinês trabalha em seu laptop num escritório do Weibo, um serviço chinês similar ao Twitter, em Pequim, em 16 de abril de 2014 (Wang Zhao/AFP/Getty Images)

Lu Wei também atraiu publicidade para si ao visitar os Estados Unidos em 2014, reunindo-se com o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, e outros executivos da internet.

Durante seu mandato, Lu Wei também trabalhou para minar seu vice-diretor Xu Lin. Xu Lin é um ex-subordinado de Xi Jinping, tendo servido sob ele quando Xi Jinping era chefe do Partido em Xangai.

O comportamento de Lu Wei quando esteve postado na Xinhua também teria sido impróprio, segundo alegações. Em 2013, um repórter da Xinhua revelou numa postagem online que Lu Wei ofereceu um banquete luxuoso a empresários em Pequim, e que inclusive leite materno foi servido como iguaria.

De acordo com Zhou Xiaohui, um comentarista político do Epoch Times, a queda de Lu Wei implica que Xi Jinping não tem planos para abrandar sua campanha anticorrupção e, em breve, irá atrás daqueles que trabalham nas agências de propaganda do PCC.

Contribuíram: Zhang Dun, Ye Feng e Liu Xiaozhen