EUA multam chinesa ZTE em US$ 1 bi e impõem estritas sanções

Em 2017 foram fabricados no mundo um total de 1,4 bilhão de smartphones, dos quais a ZTE produziu 42,8 milhões

08/06/2018 15:10 Atualizado: 13/06/2018 09:41

Por Ivan Pentchoukov, Epoch Times

A gigante chinesa das telecomunicações ZTE concordou ontem (7) em pagar uma multa de 1 bilhão de dólares e respeitar as medidas de controle mais rigorosas já emitidas pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos, a fim de recuperar o acesso à tecnologia norte-americana que é crucial para o seu negócio.

O secretário do Comércio Wilbur Ross anunciou que ZTE terá de pagar uma multa de 1 bilhão de dólares adiantado e depositar 400 milhões de dólares em uma conta de depósitos em garantia. O fabricante chinês de celulares também concordou em trocar todo o seu conselho de diretores e gerentes no prazo de 30 dias e incorporar em suas operações uma equipe de supervisão formada pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos.

Segundo o acordo de 23 páginas assinado às 6 da manhã de ontem (7), ZTE vai pagar durante 10 anos os salários do novo diretor e da equipe de supervisão, a qual irá se reportar ao Departamento de Indústria e Segurança (BIS) do Departamento de Comércio. Uma equipe de supervisão externa já está trabalhando com a ZTE como parte do acordo comercial.

“Hoje, o BIS está aplicando a maior multa já imposta e exigindo que a ZTE adote medidas de cumprimento sem precedentes”, disse Ross em um comunicado. “Estaremos monitorando de perto o comportamento da ZTE. Se eles cometerem quaisquer outras violações, podemos negar-lhes novamente o acesso à tecnologia norte-americana e tomar o depósito de 400 milhões de dólares adicionais”.

ZTE já havia violado anteriormente as sanções dos Estados Unidos contra a Coreia do Norte e o Irã. Essa violação foi resolvida em março do ano passado, quando a empresa concordou em pagar uma multa de 892 milhões de dólares e colocar 300 milhões de dólares em depósito.

As autoridades norte-americanas descobriram que a ZTE havia mentido antes, durante e depois do acordo de março de 2017. A empresa teria pago bônus para os funcionários que violaram as sanções, enquanto dizia a seus homólogos norte-americanos que os funcionários tinham sido punidos. Em resposta, controladores norte-americanos de exportações impediram que a ZTE comprasse componentes e software cruciais para a fabricação de telefones celulares e equipamentos de telecomunicações para empresas de tecnologia nos Estados Unidos, como Qualcomm, Google e Corning.

O bloqueio tecnológico colocou a empresa de joelhos, avaliada em 17 bilhões de dólares, e fez com que o presidente chinês Xi Jinping intercedesse pessoalmente junto a Donald Trump. Trump, por sua vez, mandou que o Departamento de Comércio trabalhasse em um acordo.

Da mesma forma que outras medidas, a decisão de Trump de ajudar Xi Jinping recebeu críticas dos democratas. Trump respondeu explicando que a administração Obama havia permitido que “ZTE florescesse sem qualquer controle de segurança”.

“Eu fechei a empresa e, em seguida, permiti que ela reabrisse com garantias de segurança de alto nível, com a mudança de executivos e de diretores, com a obrigação de comprar partes dos Estados Unidos e com uma multa de 1,3 bilhão de dólares”, escreveu Trump em seu Twitter em 25 de maio. “Os democratas não fizeram nada”.

O presidente também explicou que sua demonstração de boa fé foi motivada por um desejo de manter um bom relacionamento com Xi Jinping. Trump também lembrou das negociações comerciais que estão ocorrendo entre os dois países, sugerindo que a decisão da ZTE é uma carta de negociação para diálogos comerciais de alto nível.

As multas combinadas pagas pela ZTE equivalem atualmente a 2,2 bilhões de dólares, com 400 milhões de dólares adicionais em depósito, que os Estados Unidos podem cobrar no caso de a empresa chinesa não cumprir o acordo.

Segundo uma declaração do Departamento de Comércio, ZTE originalmente violou sanções norte-americanas contra o Irã ao conspirar para “fornecer, construir e operar redes de telecomunicações no Irã usando equipes de origem norte-americana em violação ao embargo comercial dos Estados Unidos”. A empresa também violou centenas de sanções norte-americanas ao enviar equipamentos de telecomunicações para a Coreia do Norte.

O acordo com a ZTE acontece no momento em que Trump tenta impulsionar o equilíbrio comercial com a China. Ross passou o fim de semana em Pequim participando de reuniões de alto nível. Em março, os Estados Unidos impuseram tarifas de 50 bilhões de dólares a produtos chineses. A lista exata de produtos ainda não foi finalizada.

Trump quer usar as negociações comerciais para recuperar enormes perdas da economia norte-americana após décadas de roubo de propriedade intelectual e transferência forçada de tecnologia por parte do regime comunista chinês. Ross apontou que os Estados Unidos finalmente estão reagindo.

“Os governos anteriores se comportaram como verdadeiros fracos para com os chineses e outros países”, disse Ross à CNBC. “Eles nunca reagiram”.

O acordo também ocorre menos de uma semana antes do encontro de Trump em Singapura com o ditador norte-coreano Kim Jong-un. Pequim é crucial para manter as estritas sanções internacionais contra a Coreia do Norte, enquanto Trump se esforça em fazer o regime comunista isolado de Pyongyang abandonar suas armas nucleares. A maioria dos produtos entram na Coreia do Norte através de sua fronteira com a China. Trump agradeceu a Xi Jinping por manter um estrito controle da fronteira.

ZTE foi a primeira empresa de telecomunicações chinesa a ser cotada no mercado de ações. Durante anos foi o quarto maior fabricante de smartphones do mundo até sua recente queda no ranking devido à concorrência agressiva.

Cerca de 60% dos componentes do smartphone Axon M vêm de fabricantes norte-americanos, incluindo Qualcomm, SanDisk e Skyworks Solutions, segundo a Abi Research.

Em 2017 foram fabricados no mundo um total de 1,4 bilhão de smartphones, dos quais a ZTE produziu 42,8 milhões.

É pouco provável que o acordo provoque uma recuperação rápida para a ZTE. A proibição sobre algumas partes congelou seus projetos de telecomunicações em todo o mundo, e os clientes estão exigindo compensação. A proibição sobre software também impediu que milhões de usuários dos aparelhos ZTE atualizassem seus sistemas operacionais Google Android.