Estudo descobre possível ponto fraco em enzima do novo coronavírus

09/06/2020 17:42 Atualizado: 09/06/2020 17:42

Por Carmen Rodríguez – EFE

Madri, 9 jun – O coronavírus SARS-CoV-2, que causa a Covid-19, pode ter um ponto fraco: uma enzima indispensável para a sua sobrevivência e que teve novos detalhes revelados, informações que podem contribuir para o desenvolvimento de remédios, segundo um estudo publicado nesta terça-feira pela revista “Chaos”.

O pesquisador espanhol Ernesto Estrada, que trabalha no Instituto de Matemática e Aplicações da Universidade de Zaragoza, no norte da Espanha, assina o novo estudo focado na principal protease do novo coronavírus.

Esta protease seria “como o aparelho digestivo, a que realiza a transformação das poliproteínas no vírus”, explicou o cientista.

Estrada descobriu um aumento importante na sensibilidade da protease principal do SARS-CoV-2 diante de pequenas alterações que podem alterar sua estrutura, em comparação com a do coronavírus SARS-CoV-1, que apareceu entre 2002 e 2003.

O cientista estudou como esse aumento da sensibilidade poderia ser usado para que inibidores da protease (moléculas orgânicas, medicamentos ou novos compostos químicos) possam atacá-la, já que sem ela o vírus não pode sobreviver.

Os resultados do estudo abrem o caminho para protocolos de detenção massiva de moléculas que permitam identificar potentes inibidores da protease principal do SARS-CoV-2 e, consequentemente, para o desenvolvimento de novos medicamentos.

A protease principal nos coronavírus não costuma mudar tanto como a proteína Spike, que eles utilizam para penetrar nas células humanas.

“Esta é uma das vantagens de atacá-la”, disse Estrada. A outra vantagem é que não existe uma protease semelhante nos humanos, motivo pelo qual a especificidade dos fármacos pode ser muito significativa.

Estrada analisou de perto a protease principal do SARS-CoV-2, e notou diferenças em relação à do SARS-CoV-1, embora ambas tenham 96% de semelhança nas sequências de aminoácidos.

Usando técnicas matemáticas padronizadas, essas diferenças sutis são imperceptíveis. Para o estudo, foi necessário utilizar técnicas mais avançadas desenvolvidas por Estrada e sua equipe há dois anos.

O pesquisador espanhol tem experiência em análise matemática de redes, por isso decidiu tratar a enzima como se fosse uma rede. Para isso, representou sua estrutura de uma forma matemática, na qual cada um dos 303 aminoácidos é um nó e a interação física entre eles é representada por arestas.

Assim, foi desenhada uma espécie de “teia de aranha” que representa a protease principal do coronavírus.

Quando um inseto cai em uma teia de aranha, ocorre uma perturbação no tecido que avisa a aranha sobre o lugar onde se encontra a presa. A efetividade da teia consiste na sensibilidade de transmitir essas informações e na distância em que são transmitidas.

Se comparadas as “teias de aranha” do coronavírus de 2003 e a do atual, é possível ver que a última é quase 2.000% mais suscetível à transmissão dessas perturbações, que podem ocorrer por qualquer interação molecular no ambiente intracelular.

Além disso, a protease do SARS-CoV-2 é capaz de transmitir essas perturbações muito mais longe do que a do SARS-CoV-1 através da proteína.

Seguindo com o exemplo da teia, Estrada indica que as presas que ficam presas seriam os inibidores, que são depositados sempre em um “lugar” específico, um pequeno grupo de aminoácidos, que cercam o local ativo da protease com o qual a enzima realiza sua função.

O cientista estudou três tipos de inibidores, dois deles “extremamente potentes”, e descobriu que à medida que um inibidor “é capaz de reduzir o menos possível essa sensibilidade para a transmissão de perturbações, mais efetivo será contra a protease”.

Esta maior sensibilidade às perturbações faz com que a protease seja mais eficaz na função como enzima, mas deixa uma porta aberta que “pode ser um ponto fraco” a favor dos inibidores.