“Estamos vendo a máquina chinesa quebrar”, afirma Kyle Bass

08/07/2016 13:42 Atualizado: 08/07/2016 20:04

Ele estava certo sobre a crise de subprime, certo sobre o mercado de ouro, e prevê com antecedência uma crise japonesa. Será que o investidor texano Kyle Bass está prevendo demasiado cedo uma crise bancária na China e a desvalorização de sua moeda, o yuan, nos próximos dois anos?

“É uma conclusão precipitada, mas não sabemos o momento preciso; parece que isso está acontecendo enquanto falamos”, disse Bass a Grant Williams da RealVisionTV durante uma entrevista. Bass apresentou pela primeira vez sua visão pessimista sobre a China no final de 2015, quando o yuan estava sob pressão e o país enfrentava fugas de capital de 100 bilhões de dólares por mês.

Desde fevereiro deste ano, com o chamado Acordo de Shanghai ou dos ministros das finanças do G20, as saídas de capital diminuíram, embora o yuan tenha caído para 6,66 por dólar americano.

A taxa de câmbio do yuan chinês em relação do dólar americano durante um período de um ano. (Bloomberg)
A taxa de câmbio do yuan chinês em relação do dólar americano durante um período de um ano. (Bloomberg)

Então, por que Bass acha que a situação na China está se intensificando? Todo mundo sabe que a China tem muita dívida, especialmente dívida corporativa. Como resultado, a relação entre a dívida total e o PIB na China é maior do que 250% segundo várias estimativas. Isso não é muito maior do que relação dívida-PIB do Japão, ou 245%, então por que o foco na China agora?

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“O mercado chinês de títulos corporativos está congelando. Desde 11 de abril os mercados de obrigações das empresas chinesas tiveram 150 cancelamentos entre 210 transações anunciadas”, diz Bass. E, de fato, o mercado chinês de títulos corporativos, que tem ajudado a manter à tona a insustentável dívida corporativa e também serve de colateral para trilhões em empréstimos reagrupados, está em dificuldades em 2016.

Fonte: McKinsey
Fonte: McKinsey

De acordo com a Bloomberg, as empresas chinesas levantaram 1,85 trilhões de yuanes (280 bilhões de dólares) em títulos no estrangeiro entre abril e julho deste ano, 30% menos em comparação com os três meses anteriores.

As falências também estão em ascensão. Apesar dos calotes corporativos ainda estarem em pequenos dois dígitos, os tribunais chineses processaram 1.028 casos de falência no primeiro trimestre de 2016, 52,5% mais do que o ano anterior.

“Há tantos paralelos perfeitos entre o sistema bancário chinês e o sistema de crédito hipotecário dos EUA ou o sistema bancário europeu. Há coisas que ocorrem nesses sistemas que mostram que há problemas”, diz Bass, enfatizando a acuidade da situação. “Vemos isso começando agora.”

Enquanto há óbvias semelhanças com o que ocorreu nos Estados Unidos em 2008 e na Europa em 2010, Bass diz que os problemas da China são de maior magnitude. “Eles têm incompatibilidades de ativos-passivos em produtos de gestão de riqueza que representam mais de 10% do seu sistema. Nossas incompatibilidades foram de 2,5% do sistema e você sabe no que deu”, diz ele.

De acordo com Bass, os empréstimos improdutivos afetarão primeiro o sistema bancário e, em seguida, provocarão uma forte desvalorização do yuan chinês.

“Como eles lidam com isso, não é o fim do mundo. Eles irão recapitular os bancos, eles expandirão o balanço do Banco Popular da China, eles cortarão a exigência de reserva bancária, eles reduzirão sua taxa de depósito para zero, eles farão tudo que os Estados Unidos fez em nossa crise”, disse ele.

Desvalorização

Todas estas medidas econômicas levarão à depreciação da moeda, se tudo mais permanecer estável. Mas a moeda chinesa já está sob pressão, enquanto a maior parte dos cidadãos chineses está movendo seu dinheiro para fora do país, porque eles não confiam mais no sistema bancário. Bass estima que os empréstimos improdutivos possam levar a perdas de até 3 trilhões de dólares, ou 30% do PIB. As poupanças dos cidadãos chineses servem de colateral para estes empréstimos, e eles não querem esperar para saber se os números de Bass estão corretos ou não. “Na China, o excesso de crédito já se consolidou”, diz Bass.

Goldman Sachs estimou que as saídas líquidas de capital da China no primeiro trimestre de 2016 foram de aproximadamente 123 bilhões de dólares, segundo um relatório, 70% das quais vieram de cidadãos chineses movendo dinheiro para fora do país. Eles fazem isso apesar do aumento dos controles de capital em 2016 e usam tanto métodos ilícitos, como o contrabando, ou lícitos, como a compra de imóveis em Vancouver e Nova York.

De acordo com Bass, não há saída para o regime chinês, que está tentando gerir a desvalorização tanto quanto possível. “O governo chinês quer uma desvalorização, mas eles querem que isso ocorra em seus próprios termos.”

Um mulher conta notas de yuan. (Benjamin Chasteen/Epoch Times)
Um mulher conta notas de yuan. (Benjamin Chasteen/Epoch Times)

A Reuters havia relatado anteriormente que o banco central chinês não se importaria com a desvalorização da moeda para 6,80 em relação ao dólar, um alvo que provavelmente será ultrapassado se as coisas não mudarem materialmente.

Bass também esclarece por que o regime não se oporia a desvalorização da moeda, embora comedidamente. Ele diz que o vice-premiê Wang Yang, um dos assessores mais próximos do presidente Xi Jinping, acha que os japoneses cometeram um erro ao não desvalorizar sua moeda em meados da década de 1980, quando a bolha de crédito japonesa estava estourando.

“Wang disse que ele pensa que o erro crítico do Japão foi concordar com o Acordo do Plaza. O Japão decidiu ser submisso aos Estados Unidos mais uma vez, e sacrificar seu crescimento econômico em favor dos Estados Unidos.” Como a desvalorização do dólar e a apreciação do iene japonês, os Estados Unidos finalmente emergiram de uma década de estagflação. O que aconteceu com o Japão no início da década de 1990 foi menos lisonjeiro. De acordo com Bass, no entanto, desta vez será diferente: “Eles farão o que é melhor para a China. E o que é melhor para a China é a desvalorização significativa de sua moeda.”

Depois da desvalorização e da recapitalização do sistema bancário, no entanto, é hora de comprar novamente: “Se você tiver algum dinheiro disponível, será o melhor momento do mundo para investir. Será a maior oportunidade para investir na Ásia.”