Especialistas alertam para táticas de zona cinzenta de Pequim após incidentes com cabos no Báltico

A capacidade e o histórico do regime chinês o tornaram o principal suspeito pelos danos à infraestrutura de comunicação da Europa, afirmou um especialista.

Por Lily Zhou
28/11/2024 18:28 Atualizado: 28/11/2024 18:28
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times. 

Dois especialistas em questões militares relacionadas ao regime chinês disseram acreditar que Pequim provavelmente empregará mais táticas de guerra de zona cinzenta após a suspeita de que uma embarcação chinesa tenha danificado recentemente dois cabos submarinos de telecomunicações no Mar Báltico.

Nos dias 17 e 18 de novembro, respectivamente, um cabo entre a Lituânia e a Suécia e outro entre a Finlândia e a Alemanha foram rompidos.

Um navio cargueiro chinês, Yi Peng 3, tornou-se o foco das investigações das autoridades porque seus movimentos coincidiram com o momento e o local dos danos, embora nenhum vínculo direto entre o navio e os incidentes tenha sido estabelecido.

Após os incidentes, o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, afirmou acreditar que os cabos foram sabotados deliberadamente. Os incidentes foram presumivelmente uma “ação híbrida”, disse ele, referindo-se à guerra híbrida ou guerra de zona cinzenta, termos que descrevem agressões abaixo do limiar de um conflito militar aberto.

O Partido Comunista Chinês (PCCh) e o governo russo negaram qualquer envolvimento.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou em uma coletiva de imprensa que é “bastante absurdo continuar culpando a Rússia por tudo sem qualquer motivo”. Enquanto isso, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, disse que o ministério não tinha conhecimento da situação.

O Epoch Times não conseguiu entrar em contato com o proprietário do Yi Peng 3, a Ningbo Yipeng Shipping.

Capacidades de zona cinzenta de Pequim

De acordo com especialistas em defesa do Instituto de Pesquisa de Defesa Nacional e Segurança (INDSR) de Taiwan, as capacidades de Pequim e seu histórico de uso de táticas de guerra de zona cinzenta tornam o regime um principal suspeito.

“É razoável suspeitar que Rússia e o Partido Comunista Chinês (PCCh) estejam por trás disso”, afirmou Su Tzu-yun, diretor da Divisão de Estratégia e Recursos de Defesa do instituto, referindo-se às capacidades robóticas submarinas tanto da Rússia quanto da China e aos danos anteriores a cabos na Europa.

Os incidentes no Mar Báltico ocorreram pouco mais de um ano após o navio de contêineres Newnew Polar Bear, registrado em Hong Kong, ter sido suspeito de danificar um gasoduto entre Estônia e Finlândia e dois cabos submarinos conectando Estônia, Finlândia e Suécia.

Em agosto, foi relatado que Pequim conduziu uma investigação e concluiu que o navio havia danificado o gasoduto por acidente. No entanto, a Estônia declarou, na época, que Pequim não respondeu a um pedido de auxílio jurídico, enquanto a polícia finlandesa informou que sua investigação ainda estava em andamento, segundo o South China Morning Post.

O Epoch Times entrou em contato com o Escritório Nacional de Investigação da Finlândia e com a Procuradoria da Estônia para atualizações sobre o caso.

Shen Ming-Shih, diretor da Divisão de Pesquisa de Segurança Nacional do INDSR, mencionou o incidente de fevereiro de 2023, quando embarcações chinesas danificaram cabos submarinos conectando a ilha principal de Taiwan às Ilhas Matsu, um arquipélago próximo.

“Portanto, é possível que o PCCh tenha realizado sabotagens no Mar Báltico”, disse ele, acrescentando que uma explicação mais plausível seria uma colaboração entre Pequim e Moscou.

“É o mesmo padrão em que o PCCh arma a Rússia de forma indireta e discreta, para evitar questionamentos dos Estados Unidos e de outros países ocidentais”, explicou Shen.

“Se o PCCh fez isso, ele, naturalmente, teria que esconder suas intenções e ações, ou usar um navio civil para realizar a tarefa, a fim de evitar desencadear um conflito; esse é o objetivo de ações de zona cinzenta”.

Segundo Vladyslav Vlasiuk, conselheiro do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, cerca de 60% das peças estrangeiras encontradas em armas russas na Ucrânia são de origem chinesa.

Os Estados Unidos já sancionaram entidades chinesas por vender peças para a Rússia que poderiam ser usadas para fins militares. Em outubro, pela primeira vez, os EUA aplicaram sanções contra entidades chinesas por “desenvolverem e produzirem diretamente sistemas de armas completos em parceria com empresas russas”.

Pequim negou repetidamente que entidades chinesas tenham fornecido armas à Rússia para uso na Ucrânia, afirmando que mantém uma posição neutra.

De acordo com a análise de Shen, os possíveis objetivos de sabotar cabos submarinos na Europa incluem interromper comunicações (particularmente em países da OTAN que apoiam a Ucrânia), testar as reações dos países europeus às táticas de zona cinzenta e enfraquecer a cooperação entre países europeus nas áreas de comunicações e defesa.

Ele alertou que o PCCh “também poderia realizar mais táticas de guerra de zona cinzenta em torno de Taiwan ou em outras áreas antes da posse do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, para inclinar a balança em favor da China e da Rússia e ajudar indiretamente a guerra da Rússia” contra a Ucrânia.

Su concordou com a análise, afirmando que isso pode ser apenas “o primeiro passo” da hostilidade do PCCh em relação à Europa.

No entanto, se for comprovado que o PCCh está por trás das sabotagens, “a União Europeia pode impor sanções comerciais” a Pequim, ele acrescentou.

Luo Ya contribuiu para este artigo.