Enviados norte-coreanos chegam a Pequim em meio a notícias de novos detalhes sobre reunião Coreia-EUA

Analistas se mostram céticos quanto ao que pode ser alcançado na próxima reunião em Cingapura

17/05/2018 10:57 Atualizado: 17/05/2018 10:57

Por Frank Fang, Epoch Times

Faltando pouco menos de um mês para a realização do histórico encontro entre o presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o ditador norte-coreano Kim Jong-un em Cingapura, em 12 de junho, começaram a ser feitas negociações para decidir como o regime norte-coreano irá desmantelar o seu arsenal nuclear.

Enquanto isso, o regime chinês, aliado comunista da Coreia do Norte, tem estado ansioso por participar das conversações entre os dois países.

Na segunda-feira (14), a mídia da Coreia do Sul divulgou a chegada de uma delegação norte-coreana a Pequim. Dois representantes do regime: Ryu Myong-son, chefe de departamento do Comitê Central do Partido Trabalhista da Coreia no poder, e Kim Nung-o, chefe do Comitê Central de Pyongyang do Partido faziam parte do grupo. Os enviados discutiram a cooperação entre os dois regimes durante a próxima reunião Trump-Kim.

Embora não estivesse claro quem mais fazia parte da delegação, o grupo foi recepcionado no aeroporto por Ji Jae Ryong, embaixador norte-coreano na China, segundo a emissora japonesa NHK.

Desconfiança norte-coreana nos EUA

A notícia de outra reunião entre China e Coreia do Norte foi dada ao mesmo tempo em que a mídia japonesa informou que a Coreia do Norte expressou falta de confiança nos Estados Unidos quando Kim visitou Pequim para encontrar-se com o líder chinês Xi Jinping em 7 e 8 de maio.

“Embora os Estados Unidos tenham dito que irão fornecer ajuda econômica se a Coreia do Norte concretizar sua desnuclearização, não se pode confiar na promessa dos Estados Unidos”, disse Kim para Xi, segundo o jornal japonês Yomiuri Shimbun em 13 de maio, citando recursos diplomáticos anônimos

Até agora, Coreia do Norte e Estados Unidos expressaram diferentes pontos de vista sobre os passos a serem dados e o calendário para desmantelar o arsenal nuclear do regime. Segundo o jornal japonês Asahi Shimbun, a Coreia do Norte resistiu ao pedido norte-americano para realocar milhares de engenheiros nucleares norte-coreanos, medida que visa garantir que a Coreia do Norte não possa reiniciar seu desenvolvimento nuclear no futuro.

Embora os Estados Unidos queiram que o desmantelamento nuclear ocorra dentro de meses ou no máximo dois anos, a Coreia do Norte quer um período de tempo mais longo para realizar a desnuclearização.

Além disso, ainda não houve um acordo sobre o pacote econômico que o regime norte-coreano receberia em troca do desarmamento nuclear.

Na matéria do Yomiuri Shimbun também foi observado que, durante a visita de Kim, este pediu a Xi ajuda financeira durante a fase intermediária do desarmamento, caso seu regime e os Estados Unidos cheguem a um acordo.

O regime chinês tem sido por muito tempo o maior sócio comercial da Coreia do Norte, fornecendo alimentos, recursos energéticos e outros suprimentos para os norte-coreanos.

No domingo (13), o assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos John Bolton deixou claro qual é a postura norte-americana quando declarou que o regime norte-coreano não receberá nenhum benefício a menos que adote um processo de desnuclearização “completamente irreversível”.

Expectativas pouco realistas?

Depois de décadas de uma fracassada diplomacia para negociar o desarmamento norte-coreano, analistas se mostram céticos quanto ao que pode ser alcançado na próxima reunião em Cingapura. Um desses céticos é Thae Yong-ho, ex-embaixador adjunto da Coreia do Norte no Reino Unido, que desertou para a Coreia do Sul com sua família em 2016.

“Esse milagre não vai acontecer”, disse Thae, que falou na segunda-feira (14) durante coletiva de imprensa sobre a publicação de sua autobiografia, “O Código Secreto do Escritório de Três Secretários: Testemunho de Thae Yong-ho”, em Seul, capital da Coreia do Sul, informou o Korea JoongAng Daily.

Ele explicou que Kim não aceitará a desnuclearização completa, verificável e irreversível (CVID, na sigla em inglês), porque isso significa uma inspeção ilimitada por parte de agências internacionais. Fazer isso seria “um golpe crítico contra os fundamentos da estrutura de poder norte-coreano”, acrescentou.

Disse também: “Eu acho que a solução mais realista seria a Coreia do Norte concordar em reduzir sua ameaça nuclear”.

Portanto, o cenário provável seria, segundo Thae, que Pyongyang aceitasse, em vez disso, a desnuclearização SVID — suficiente, verificável e irreversível — reduzindo seu arsenal nuclear.

A Coreia do Norte transformaria o acordo, então, em “energia nuclear embrulhada num papel chamado ‘desnuclearização'”, concluiu Thae.