Entenda o otimismo de Trump em relação à China

26/04/2017 06:30 Atualizado: 24/04/2017 09:57

Em sua campanha presidencial, Donald Trump prometeu ser duro com a China em questões cambiais e de comércio.

No entanto, o presidente Trump parece ter mudado de postura após uma reunião com o líder chinês Xi Jinping. Ele postou no Twitter em 16 de abril, “Por que eu chamaria a China de um manipulador de moeda quando eles estão trabalhando conosco no problema da Coreia do Norte? Veremos o que acontece!”

Desde então, Trump foi criticado por várias agências de notícias por suavizar sua posição sobre o regime chinês.

Mas uma análise detalhada dos comentários de Trump para a mídia a respeito do regime chinês e Xi Jinping pode sugerir que Trump recentemente apurou sua compreensão sobre a delicada situação política na China. Essa compreensão e as ações imediatas da liderança de Xi Jinping contra a Coreia do Norte poderiam ter convencido Trump a moderar qualquer repreensão a Xi Jinping.

Xi e Trump anunciaram na conclusão da reunião EUA-China de dois dias na Flórida que eles estabeleceram um bom entendimento entre si. “Estivemos juntos sozinhos por horas e horas”, disse Trump à FOX & Friends. “Tivemos uma reunião programada de 15 minutos que durou três horas. E o mesmo aconteceu no dia seguinte.”

As seis horas de conversa privada – ou um pouco menos, considerando as pausas e o tempo de tradução – seriam suficientes para Xi Jinping apresentar a Trump uma descrição decente dos desafios que ele enfrenta de uma facção política rival encabeçada pelo ex-líder chinês Jiang Zemin.

Jiang Zemin foi líder do Partido Comunista Chinês de 1989 a 2002 e manteve uma poderosa presença e influência nos bastidores durante o mandato de seu sucessor Hu Jintao (2002-2012). O tempo de Jiang Zemin como a força política suprema no regime chinês foi marcado pela corrupção, cleptocracia e perseguição.

Jiang Zemin não era influente apenas na China continental. A semiautônoma cidade de Hong Kong é considerada um feudo político de Jiang Zemin; e Jiang e seus principais aliados têm laços estreitos com o regime dos Kim na Coreia do Norte.

Xi Jinping tem tentado eliminar a facção de Jiang Zemin e consolidar seu controle sobre o regime chinês desde que se tornou líder do Partido em 2012. A campanha anticorrupção de Xi Jinping tem visto a queda de muitos aliados e apoiadores importantes de Jiang. Em outubro de 2016, Xi assumiu o título politicamente simbólico de líder “central” do Partido, efetivamente deslocando o “núcleo” anterior, Jiang Zemin.

Jiang Zemin, no entanto, permanece em liberdade, e embora sua facção esteja em declínio, ela ainda não está morta.

Aliados de Jiang Zemin controlam pastas importantes no Comitê Permanente do Politburo, o principal órgão decisório do regime. Os órgãos governamentais poderosos, como a segurança pública e a propaganda, ainda seguem em grande parte as orientações de Jiang Zemin. E as tensões crescentes em Hong Kong e as recentes provocações nucleares da Coreia do Norte são fenômenos que a facção de Jiang Zemin poderia muito bem estar manipulando.

Se Xi Jinping realmente informou Trump sobre os problemas internos que está enfrentando, isso colocaria em perspectiva os comentários de Trump feitos a vários meios de comunicação sobre os esforços da liderança de Xi para controlar o líder norte-coreano Kim Jong-un.

“Depois de ouvir por 10 minutos, eu percebi que não é tão fácil”, disse Trump ao Wall Street Journal, acrescentando que ele “sentiu muito fortemente” que a liderança de Xi Jinping tem um “poder tremendo” sobre a Coreia do Norte. “Mas não é o que você pensaria”, disse ele, insinuando as complexidades entre os dois regimes comunistas.

Um regime norte-coreano que confabula com o principal rival de Xi Jinping certamente não seria algo fácil para Xi ter de lidar.

Numa entrevista com a FOX & Friends, Trump disse: “A China está tentando nos ajudar; eu não sei se eles poderão ou não.”

Presumindo que Trump esteja ciente da luta faccional no regime chinês, faria sentido para ele não rotular imediatamente a China como um manipulador de moeda, um desenvolvimento que a facção de Jiang Zemin quase certamente usaria contra Xi Jinping.

Sem a pressão dos Estados Unidos, a liderança de Xi Jinping pode então concentrar seus esforços na luta contra a facção de Jiang Zemin.

E sem a facção de Jiang Zemin como apoiadores políticos, o regime norte-coreano pode não estar disposto a avançar tão imprudentemente seu programa nuclear, como tem acontecido nos últimos meses.

Direitos humanos

Uma possível resolução de longo prazo para o problema da Coreia do Norte pode não ser o único fator que mudou a percepção de Donald Trump sobre a China e Xi Jinping.

O líder chinês prometeu a Trump na Flórida que resolverá uma importante questão de direitos humanos na China, o Epoch Times soube de uma fonte no círculo íntimo de Xi Jinping.

“Acredito que muitos problemas potencialmente ruins desaparecerão”, disse Trump no final do encontro com Xi Jinping. Se isso se refere à “proeminente questão dos direitos humanos”, à Coreia do Norte ou a outra coisa completamente diferente, não está claro.

Rex Tillerson, o secretário de Estado, quando perguntado durante uma conferência de imprensa se os direitos humanos foram discutidos durante a reunião, disse: “Quanto às discussões em torno dos direitos humanos na China, acho que os valores da América são bastante claros e eles realmente ocuparam uma posição central em todas as nossas discussões.”

A repressão do regime chinês aos praticantes do Falun Gong, o grupo de prisioneiros de consciência mais severamente perseguidos na China atualmente, diminuiu um pouco durante o mandato de Xi Jinping; mesmo que observadores da China e grupos de direitos humanos tenham notado o aperto do controle social e da repressão aos advogados e ativistas dos direitos humanos.

Jiang Zemin lançou a perseguição ao Falun Gong em 20 de julho de 1999. Por quase 18 anos, os praticantes foram presos por sua fé e submetidos a torturas e abusos que em muitos casos levaram à morte. Os investigadores da extração forçada de órgãos na China julgam que os praticantes formam a maior parte dos prisioneiros de consciência que são mortos para abastecer a indústria de transplante de órgãos do regime chinês, resultando num número de vítimas de centenas de milhares.

Uma das primeiras ações de Xi Jinping no governo foi ordenar o desmantelamento do sistema de campos de trabalhos forçados, cuja metade ou mais da população reclusa em dado momento era composta de praticantes do Falun Gong, de acordo com relatórios citados pelo Departamento de Estado dos EUA e pela Comissão Executiva do Congresso sobre a China. Além disso, vários funcionários de alto escalão que supervisionaram a campanha anti-Falun Gong foram purgados por acusações de corrupção. Em 2016, Xi Jinping ordenou que os paramilitares chineses cessassem seus serviços pagos, inclusive em seus hospitais, que são os principais locais onde ocorre a extração forçada de órgãos.

Se a liderança de Xi Jinping acabar com e expor a perseguição ao Falun Gong, isso também poderia inspirar mais mudanças políticas, devido à gravidade dos crimes, o grande número de chineses afetados e o impacto inevitável na imagem do Partido Comunista.

Para o presidente Trump, há muito para ser otimista. Ao parecer renegar suas promessas de campanha em relação à China, ele pode ajudar a acabar com uma brutal perseguição e até mesmo com o comunismo na China.