Por que empresas Fortune 500 japonesas saíram do mercado chinês

05/04/2017 07:30 Atualizado: 04/04/2017 12:51

O empresário chinês Guo Xueming compartilhou sua experiência de parceria com investidores de negócios japoneses na China. Esta é uma tradução de um post em sua conta no Wechat de 7 de março. – Equipe de tradução do Epoch Times.

Um dia em outubro de 2012, Matsumoto Moria, o cônsul-geral japonês em Shenyang, convidou-me para jantar no restaurante japonês dentro da loja de departamento Isetan em Shenyang. Ele queria saber minha opinião sobre as manifestações antijaponesas, incluindo a destruição de carros japoneses, que estavam ocorrendo em várias partes da China.

O Sr. Matsumoto defendeu a amizade entre o Japão e a China. Como diplomata, ele ajudou ativamente a China a atrair investimentos japoneses. Eu o conheci na cerimônia de inauguração do Parque Industrial de Arquitetura Moderna na primavera de 2010. Logo depois, ele veio à minha empresa para me ver.

Durante a nossa primeira visita, o Sr. Matsumoto quis saber como eu fui capaz de trazer duas empresas líderes japonesas, o Grupo Kashima e o Grupo Lixil, para a China em apenas alguns meses. Estas eram empresas Fortune 500 e líderes em construção e materiais de construção. As empresas japonesas são muito conservadoras, e a Kashima, fundada em 1840, é ainda mais conservadora, disse ele. Nossa empresa foi registrada em outubro de 2009 e assinamos contratos com a Kashima em dezembro de 2009, com um capital social relativamente pequeno de 100 milhões de yuanes (14,5 milhões de dólares).

“Sua empresa foi criada há apenas alguns meses. Como você as introduziu à China?”, perguntou o Sr. Matsumoto.

Eu resumi os três pontos principais para o Sr. Matsumoto.

(1) A cidade de Shenyang tem um diâmetro de 200 km. Esta área de construção é equivalente à área de construção total no Japão.

(2) Há uma grande diferença na qualidade do material de construção entre a China e o Japão, especialmente na construção pré-fabricada, que a China tem zero e o Japão está entre as melhores do mundo. A tecnologia de construção pré-fabricada do Japão tem, portanto, grande vantagem na China e é capaz de tomar o mercado.

(3) Embora nossa empresa fosse muito pequena, os membros de nossa equipe eram todos empreendedores e familiarizados com o mercado. As empresas japonesas que querem investir na China precisam de um parceiro que entenda o mercado.

Meus três pontos são realmente apenas um: mercado, mercado, mercado.

O que mais interessa aos negócios é o mercado. As empresas japonesas entraram no mercado chinês. Nós assinamos contratos com o Grupo Kashima, o que trouxe o Grupo Lixil. Eles também trouxeram 17 empresas afiliadas para investigar o mercado chinês.

No entanto, durante a nossa refeição no restaurante japonês, o Sr. Matsumoto comentou que com os sentimentos anti-Japão na China, muitas empresas japonesas tinham reservas sobre as perspectivas de investir na China. Ele pediu a minha perspectiva, como um empresário chinês, sobre a tendência futura da cooperação empresarial sino-japonesa.

Eu fui muito otimista e disse a ele que, nessas três décadas de desenvolvimento, a China se beneficiou da política de portas abertas. O futuro não divergirá desta política.

Além disso, os consumidores são muito práticos. Não havia necessidade de se preocupar que não haveria um mercado para bons produtos, assegurei-lhe. O ultraje emocional nacionalista e o pragmatismo nas compras não são a mesma coisa.

E, finalmente, aqueles que boicotam produtos estrangeiros e depredam carros nas ruas não representam a maioria dos chineses, eu disse a ele.

O Sr. Matsumoto concordou com a minha análise. Ele expressou o fato de o governo japonês ser sincero sobre a amizade entre japoneses e chineses e sobre dirimir as dúvidas das empresas japonesas a respeito da China. Ele também falou sobre um plano para construir uma estrada japonesa no distrito Hunnan de Shenyang para criar um ambiente favorável para os empresários japoneses lá, e nos convidou para investir na estrada.

Pouco depois do meu encontro com o Sr. Matsumoto, um jovem que depredou um carro japonês em Xi’an foi condenado à prisão. Mas as empresas japonesas permaneceram sensíveis, realistas e conservadoras; isso não ajudou muito para criar uma atitude mais otimista.

Alguns meses depois, o Grupo Kashima e o Grupo Lixil decidiram retirar-se do mercado chinês. O plano de 17 empresas japonesas relacionadas para entrar na China também se evaporou.

Como seu parceiro, tentamos encontrar soluções viáveis. Eu pedi duas vezes para conversar com os altos executivos das três empresas para estudar a questão da adaptabilidade do produto na China e resolver dificuldades operacionais, mas eles se recusaram a dialogar. Eles nem sequer ouviram as propostas de solução. Eles estavam determinados a se retirar e a assumir as perdas financeiras e de credibilidade. Claramente, esta não foi uma decisão baseada no custo. Eles perderam a confiança na disciplina do mercado da China. Se uma empresa está confiante no mercado, ela pensará primeiramente em soluções para os problemas, em vez de fechar sem sequer ouvir qualquer solução.

Kashima e Lixil partiram. Embora tenhamos nos apossado de sua tecnologia e equipe e tenhamos seguido adiante, era difícil obter os retornos esperados das dezenas de milhões investidos. As dezenas de viagens da nossa equipe ao Japão para negociar, as quais fizemos cheios de orgulho, não deram em nada. Nosso sonho de construir na China habitações residenciais seguras e resistentes a terremotos baseadas em normas arquitetônicas japonesas era difícil de alcançar no curto prazo.

Os chineses são os maiores perdedores.

Eu entendo as empresas japonesas. A confiança dos investidores baseia-se na previsibilidade. Se o mercado de um país não é determinado pelo elemento econômico-chave da escassez, mas sim por fatores incertos, como emoções políticas, diplomáticas e nacionalistas, isso abalará a confiança do capital estrangeiro. Aqueles com capital não estão dispostos a arriscar-se num ambiente que não oferece segurança.

O fundamento mais importante da economia de mercado é a proteção da propriedade privada. Os clientes são recursos que fazem parte dessa propriedade e são a única fonte de retorno do investimento. Incentivar boicotes de produtos é, em essência, incentivar a violação e privação dos direitos de propriedade. Se fatores não econômicos de resistência são considerados legítimos e corretos, e acorrem frequentemente numa sociedade, isso abalará fundamentalmente a fundação de uma economia de mercado.

Embora os protestos anti-Japão na China tenham sido breves, as empresas veem o que eles implicam. Assim como veem uma larva no canto de um quarto, a conclusão imediata é que o quarto em si é sujo.

Nos últimos anos, muitas empresas de capital estrangeiro retiraram-se da China. A Isedan, onde o Sr. Matsumoto me convidou para o jantar, também faliu. A taxa de sucesso na introdução do investimento estrangeiro diminuiu substancialmente. Claro, há muitos fatores. Ao compartilhar minha própria experiência, eu só quero lembrar a todos sobre o mal que infligimos quando direcionamos nossos sentimentos patrióticos em direção às empresas estrangeiras.

Penso que políticos e diplomatas devem reunir a sabedoria, os meios e a paciência para resolver disputas entre países. Eles não devem motivar o público a destruir carros estrangeiros ou boicotar supermercados estrangeiros ou cadeias de fast-food estrangeiras, o que prejudica a política global de portas abertas e a base da economia de mercado.