Empresas estatais são como cupins e corroem riqueza da China

26/08/2016 11:16 Atualizado: 26/08/2016 11:16

O consumo doméstico na China é baixo porque muito pouca riqueza escorre para a grande maioria da população. A maior parte da riqueza flui para o governo. O governo então investe o dinheiro, e é por isso que a China tem tanto excesso de capacidade. A China se tornou um país com enorme excesso de capacidade, uma situação que não pode ser facilmente resolvida.

Os problemas econômicos da China resultam do baixo consumo e do excesso de capacidade, como resultado do excesso de investimento. Nós falamos sobre isso há anos, mas não tem havido muita mudança. A razão reside na posse do Estado.

Por que eu digo que estes problemas estão relacionados com a propriedade estatal?

Sabemos que a criação de riqueza depende da produção, trabalho e recursos, com a terra sendo o principal recurso. Numa sociedade capitalista, o capital e a terra são de propriedade privada. Numa sociedade de propriedade estatal, o trabalho e a terra são de propriedade do Estado.

Diferentemente dos países com base de propriedade privada, o capital e os recursos de criação de riqueza da China são de propriedade do Estado. Assim, a riqueza adquirida vai para o Estado, incluindo a alocação do produto interno bruto (PIB).

O PIB é a produção de riqueza total anual de uma nação. Como ele é distribuído? Em comparação com países capitalistas, muito do PIB da China consiste em receita destinada ao Estado. O Estado lucra com a terra e outros recursos. Este tipo de dinheiro é de propriedade privada num país capitalista e as pessoas usam o dinheiro para gastar.

Na China, damos menos dinheiro para as pessoas, de modo que o consumo é relativamente baixo. Damos muito para o governo, de modo que o investimento do governo é relativamente elevado. O alto investimento do governo resultou em excesso de capacidade.

A China está hoje numa situação de excesso de capacidade que não pode ser mudada. Não só temos excesso de capacidade de cimento e aço, mas também de eletricidade. Mesmo que tenhamos energia elétrica, ainda estamos investindo em mais usinas. Também temos um excesso de rodovias. Este ano eu fui numa viagem para Hanzhong. Eu só vi 20 carros em 200 km e duas horas de viagem. É muito caro construir estradas, túneis e pontes.

Mais investimentos estão programados. Também construímos um monte de amenidades de luxo, mas com uma taxa de utilização muito baixa. Tudo esse excesso de capacidade é caro, e não temos como corrigir o problema. O consumo doméstico não está crescendo. O mercado não é forte. Não importa quantos hotéis de cinco estrelas ou rodovias construamos, isso não altera a taxa de consumo, porque as pessoas simplesmente não têm muito dinheiro para gastar.

Se a maior parte do PIB vai para o Estado, o excesso de capacidade é inevitável. Para resolver o problema de excesso de capacidade, temos de mudar a propriedade estatal para a propriedade privada. É claro que muitas pessoas entendem este problema e estão cientes da ineficiência das empresas estatais e de todos os problemas associados com elas, incluindo a corrupção. A campanha anticorrupção do atual líder chinês não está alcançando as empresas estatais. Não há tanta corrupção em empresas privadas pois elas são supervisionadas pelos proprietários. Mas não há proprietário em uma empresa estatal. Supostamente, todo o povo chinês é o proprietário, mas na prática como eles podem supervisionar as estatais?

As estatais da China são como cupins devorando os recursos do país. No entanto, o governo tem um grande interesse nas empresas estatais. Os presidentes dos conselhos e CEOs são todos nomeados pelo governo, e os grandes líderes das estatais são todos quadros do Partido Comunista de nível ministerial.

Esta é uma tradução resumida do artigo em chinês de Mao Yushi, publicado no wtoutiao.com. Mao Yushi, um economista chinês conhecido, é o cofundador e atual presidente honorário do Instituto Unirule de Economia, baseado em Pequim. Em 2012, Mao Yushi recebeu o Prêmio Milton Friedman pela Promoção da Liberdade do Instituto Cato por seu trabalho sobre o liberalismo clássico e a economia de livre mercado.