Desde o final do 19º Congresso Nacional, o líder chinês Xi Jinping tem colocado seus aliados nos cargos mais importantes de diferentes ministérios e departamentos do Partido Comunista Chinês (PCC).
No entanto, um funcionário fiel à facção liderada pelo ex-chefe do Partido, Jiang Zemin, se uniu inesperadamente às pessoas mais poderosas do Regime ao ser promovido ao Comitê Permanente do Politburo. A nomeação do diplomata Yang Jiechi pode indicar que a facção de Jiang continua forte no Ministério das Relações Exteriores ou pode ser porque Yang mudou sua fidelidade para a facção de Xi Jinping.
Yang foi embaixador da China nos Estados Unidos de 2001 a 2005 e é o atual diretor do Gabinete do Grupo de Líderes de Relações Exteriores do Conselho de Estado — posto influente que molda a política externa da China. Yang também atuou como diplomata nos Estados Unidos em meados da década de 1980 e depois novamente no início da década de 1990, quando serviu como ministro da Embaixada da China em Washington.
A mídia chinesa especulou amplamente que, dada a sua extensa linhagem diplomática, Yang será nomeado um dos quatro vice-primeiros-ministros durante as Duas Sessões do PCC em março do próximo ano.
As Duas Sessões, conhecidas em chinês como “Lianghui”, são reuniões plenárias anuais do Congresso Nacional do Povo, a legislatura de fachada do Partido, e a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, órgão consultivo do Partido.
Os candidatos para o cargo de primeiro-ministro e cinco vice-primeiros-ministros serão escolhidos através de votação pelo Congresso Nacional do Povo. Este processo de “eleição” é apenas um teatro, dado que os líderes do Partido determinam antecipadamente quem ocupará esses cargos através de árduas negociações feitas nos bastidores. Espera-se que assuma o atual primeiro-ministro Li Keqiang, aliado de Xi.
De acordo com o jornal de Hong Kong Apple Daily, o círculo diplomático da China está há décadas sob o controle do ex-líder do PCC, Jiang Zemin, com notórios membros da facção de Jiang, tais como o ex-ministro das Relações Exteriores e vice-primeiro-ministro ministro Qian Qichen (1983-1998; 1993-2003), o ex-ministro das Relações Exteriores Tang Jiaxuan (1998-2003), o ex-ministro das Relações Exteriores Li Zhaoxing (2003-2007), e agora Yang.
Através de sua campanha anticorrupção, Xi tem conseguido expurgar muitos de seus inimigos políticos da facção de Jiang, o que lhe permitiu consolidar seu poder dentro do PCC nos últimos cinco anos desde que assumiu o poder. No entanto, sua influência fora da China Continental tem sido questionada.
Por exemplo, agora que o confidente de Xi, Li Zhanshu, foi nomeado para o Comitê Permanente do Politburo (mais alto órgão de decisão do PCC), Xi e seu grupo poderão exercer sua influência em Hong Kong e Macau. Segundo precedentes, tornar-se membro na terceira posição mais alta sugere que ele supervisionará essas duas cidades.
Na época em que Yang foi embaixador da China nos EUA, esteve encarregado de ampliar a agenda do PCC no exterior, incluindo a perseguição de Jiang Zemin à prática espiritual do Falun Dafa (também conhecida como Falun Gong). Essa perseguição começou em julho de 1999, quando Jiang ordenou que os praticantes fossem presos, torturados e submetidos a lavagem cerebral. Além disso, a mídia oficial do Regime espalhou propaganda de ódio para colocar a opinião pública contra o Falun Dafa.
Yang apoiou esta campanha. Além disso, de acordo com a Organização Mundial para Investigar a Perseguição ao Falun Gong (WOIPFG, sigla em inglês), Yang difamou publicamente o Falun Dafa durante um almoço realizado no National Press Club em julho de 2001.
Um ano depois, assim que os praticantes do Falun Dafa deram início a um processo judicial contra Jiang por genocídio e crimes contra a humanidade perante um tribunal federal em Illinois, Yang entrou em contato com políticos dos Estados Unidos, pressionando-os a não apoiarem publicamente a causa.
Em um artigo publicado em setembro de 2008 no Qiushi, jornal político do PCC, Yang resumiu suas realizações diplomáticas e mencionou seu sucesso na “prevenção e contenção do Falun Dafa”.
Yang também não possui um passado idôneo. Em janeiro de 2014, o Apple Daily publicou que Yang tentou renunciar a seu cargo no Conselho de Estado, confessando que havia permitido que seus subordinados acumulassem dinheiro ilegalmente. A suposta renúncia de Yang veio imediatamente após um artigo publicado pelo jornal liberal chinês Southern Weekly, que revelou que mais de 100 diplomatas chineses estavam envolvidos em um esquema de pirâmide que ilegalmente arrecadou mais de 1,3 bilhão de yuan (cerca de US$ 196 milhões).
Os antecedentes de Yang sobre direitos humanos e suas questionáveis movimentações financeiras provocaram especulações sobre por que Yang teria sido promovido para o novo grupo de liderança.
Sua presença pode significar que os aliados de Jiang ainda têm força no órgão de política externa do PCC. Ou é possível que sua lealdade política tenha mudado.
Em julho, pouco antes do 19º Congresso Nacional, Yang elogiou Xi ao convidar os membros do PCC para “aprender e implementar profunda e meticulosamente a ideologia diplomática de Xi Jinping”, conforme publicado pelo jornal taiwanês United Daily News.
Não ficou claro ainda até que ponto a demonstração de lealdade de Yang para Xi levou a essa nomeação.
Leia também:
• China reforça controle sobre empresas estrangeiras
• Nome do McDonald’s em chinês vira piada na China
• Pela primeira vez, facção de Xi Jinping supervisionará Hong Kong e Macau